Crítica

Bruno Mazzeo e Lúcio Mauro Filho abraçam o inevitável em bom tributo à sua história

Comédia Gostava Mais dos Pais homenageia Chico Anysio e Lúcio Mauro no Teatro Porto Seguro

Publicado em 04/03/2024

Não é inédito o encontro dos atores Bruno Mazzeo e Lúcio Mauro Filho em cena. A dupla já esteve junta em produções no teatro, como em 5X Comédia e como colegas de elenco da repaginada Escolinha do Professor Raimundo, exibida pela TV Globo entre 2015 e 2020. A novidade é que em Gostava Mais dos Pais, espetáculo em cartaz no Teatro Porto, pela primeira vez os amigos de longa data contracenam sozinhos em um palco.

Na montagem dirigida por Débora Lamm, os atores promovem em um encontro que se sustenta exclusivamente pelo carisma e intimidade que cultivaram ao longo das décadas, abraçando tudo o que é inevitável, desde uma (surpreendente) homenagem aos pais, Chico Anysio (1931-2012) e Lúcio Mauro (1927-2019), até o desgaste de um estilo de comédia que, nas mãos de humoristas menos safos, seria meramente protocolar.

Desde que entram em cena, emoldurados por uma dança no TikTok, Bruno Mazzeo e Lúcio Mauro Filho reciclam piadas e situações em uma comédia estruturada por esquetes, que vão desde a crítica acerca das transformações do ofício de ator, até as mazelas de suas vidas artísticas sombreadas pelas presenças intensas de seus pais.

Satirizando o mundo dos influenciadores digitais, a saturação de podcasts apresentados por figuras carismáticas, mas despreparadas, e a digitalização forçada da carreira, o texto de Gostava Mais dos Pais, assinado por Aloísio de Abreu e Rosana Ferrão, recicla piadas – como a do pai que exige que o filho se torne influencer -, mas consegue bons momentos, sendo o melhor deles, o tributo prestado aos grandes humoristas do Brasil.

A dupla presta tributo a um dos quadros mais famosos da carreira de Chico Anysio, o Alberto Roberto, onde o humorista contracenava com o grande parceiro Lúcio Mauro, com direito a adaptação de cenas e um pequeno olhar para o abismo, quando Mauro Filho ameaçou narrar o excelente Monólogo das Mãos, de Giuseppe Ghiaroni (1919-2008), que Lúcio Mauro dizia com brilhantismo durante o espetáculo Lúcio 80-30, dividido por pai e filho. 

Lúcio 80-30

Foi, de fato, o ponto mais alto deste espetáculo idealizado como uma pequena homenagem à história dos amigos e de seus patriarcas, mas que ganhou ares de superprodução graças ao (bom) cenário idealizado por Daniela Thomas e ao ótimo desenho de luz de Wagner Antônio.

Assinado por Marina Franco, os figurinos são especialmente simples, o que mantém viva a proposta do eterno jogo cênico entre atores despidos de toda e qualquer artimanha – sensação essa que não foi ressaltada pela trilha de Plínio Profeta, que não adicionou muito ao espetáculo, nem tampouco à narrativa.

O fato é que, embora não dê nenhum passo a frente na investigação do humor e nem dialogue necessariamente com outras formas de fazer piada, Gostava Mais dos Pais é um espetáculo que cresce ao se valer do que é essencial: o jogo entre Bruno Mazzeo e Lúcio Mauro Filho, que se rendem ao inevitável destino de serem filhos de quem são e se manterem fieis a suas próprias raízes.

COTAÇÃO: * * * (BOM)

SERVIÇO

Gostava Mais dos Pais

Data: 01 de Março a 14 de Abril (sexta-feira a domingo)

Horário: 20h (sex. e sáb.) e 18h (dom.)

Local: Teatro Porto – São Paulo (SP)

Endereço: Al. Barão de Piracicaba, 740, Campos Elíseos

Preço do Ingresso: R$ 50 (meia) a R$ 100 (inteira) e R$ 60 (meia) a R$ 120 (inteira)

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