Crítica de TV

Até que ponto ter semelhanças de enredo com Terra e Paixão atrapalharia o remake de Renascer?

Bruno Luperi fez queixa sobre coincidência temática, mas ela se dirige mais à casa do que ao colega, Walcyr Carrasco

Publicado em 18/05/2023

Na atual novela das 21h da TV Globo, Terra e Paixão, de Walcyr Carrasco, o fazendeiro Antônio La Selva (Tony Ramos), “um homem da terra”, como diz sempre ser, detesta o filho mais velho, Caio (Cauã Reymond), a quem culpa pela perda da mulher, Agatha (Bianca Bin), falecida ao dar à luz o herdeiro.

Prevista para entrar no ar em substituição a esta história temos uma nova versão de Renascer, de Benedito Ruy Barbosa, cujo protagonista José Inocêncio também é um homem da terra, produtor de cacau na Bahia, e também odeia um dos filhos – no caso, o mais novo, chamado João Pedro – porque o culpa pela morte da mulher, ocorrida no parto.

Segundo reportagem do UOL, o adaptador de Renascer para a nova versão, Bruno Luperi, neto de Benedito, teria reclamado com a TV Globo sobre as semelhanças no enredo central das duas histórias, que se nada mudar devem ser exibidas em sequência. E até pedido para que entre Terra e Paixão e Renascer seja exibida outra novela, para que a abordagem do ódio de pai por filho seja “descansada”, digamos.

Conforme informa a jornalista Carla Bittencourt em seu texto, a queixa de Bruno Luperi é mais dirigida à emissora do que ao colega, no sentido de que a gestão do ex-diretor de Entretenimento da Globo, Ricardo Waddington, teria errado ao aprovar duas novelas com destaque para esse entrecho, para que fossem exibidas uma após a outra.

As duas novelas são bastante distintas entre si, com propostas diferentes, estilos diferentes de narrar. Existe esse ponto comum, mas será que isso atrapalha Renascer mesmo? Na história de Benedito, inclusive, a questão do filho odiado pelo pai, ao que parece do que se viu de Terra e Paixão até aqui, é bem mais forte. As novelas se repetem, por vezes em sequência, no mesmo horário, ou na obra do mesmo autor, em alguns pontos. E nem por isso necessariamente se prejudicam ou se favorecem.

Nos Tempos do Imperador, Além da Ilusão, Mar do Sertão e Amor Perfeito, quatro novelas das 18h em sequência na mesma TV Globo, têm entre seus entrechos centrais, quando não no próprio tema principal da história, o desejo de vingança de um mocinho ou de uma mocinha, contra quem lhe destruiu a vida. Não faz muito, os horários das 18h, das 19h e das 21h – com Amor Perfeito, Vai na Fé e Travessia – mostravam histórias em que há um filho em busca de sua origem, ou um pai ou mãe em busca de seu filho.

O universo criado por Benedito Ruy Barbosa é bastante rico de representação do interior brasileiro – no caso, a zona cacaueira baiana -, tem forte inspiração no folclore e uma aura mística que perpassa toda a narrativa. A coincidência de pai que odeia filho tanto em Terra e Paixão quanto em Renascer, e pelo mesmo motivo – o filho ter “matado” a mãe no parto – poderia ser evitada, mas será mesmo tão preocupante?

As informações e opiniões expressas nesta crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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