Remake

Remake de Rubi tenta inovar, mas insiste em erros do passado

Nova versão é protagonizada por Camila Sodi

Publicado em 23/01/2020

A mesma história em uma roupagem mais moderna. É mais ou menos essa a proposta da Televisa ao lançar sua mais nova versão de Rubi, clássico da dramaturgia mexicana que já havia ganhado várias versões para o cinema e a TV. A mais recente e famosa delas na novela homônima de 2004, exibida várias vezes pelo SBT ao longo da última década, com a lendária atriz uruguaia Bárbara Mori como protagonista.

A Rubi que ficamos conhecendo naquela trama de 100 e poucos capítulos era uma mulher belíssima, porém pobre, que usava a beleza e a sedução para ascender socialmente e manipular os homens a seu bel-prazer. Mesmo apaixonada por Alessandro (Eduardo Santamarina), um médico em início de carreira – e de recursos financeiros ainda escassos – , ela abria mão desse amor para seduzir o ricaço Heitor (Sebastián Rulli), sem se importar em partir o coração da frágil Maribel (Jacqueline Bracamontes), noiva dele e sua melhor amiga.

Amor pela sobrinha humaniza Rubi (Camila Sodi) (Reprodução / Univisión)
Amor pela sobrinha humaniza Rubi Camila Sodi Reprodução Univisión

A refilmagem estreada nesta terça-feira (21) pelo canal estadunidense Univisión mantém intacta essa premissa, com Camila Sodi, José Ron (A Que Não Podia Amar), Rodrigo Guirao e Kimberly dos Ramos (Grachi) atualizando os respectivos protagonistas – mas apresenta significativas mudanças em seu entorno. Estamos agora diante de uma série curta, de apenas 25 episódios, cujo ponto de partida é o encontro de uma Rubi madura e deformada com Carla Rangel (Ela Velden), jornalista misteriosa a quem a anti-heroína narra, em longa entrevista, como usou e destruiu vários homens para chegar à riqueza de que desfruta agora.

Esta tentativa de atualizar a história de Rubi possui, de fato, vários acertos. Roteirista do remake, o venezuelano Leonardo Padrón mostra-se acertado na estrutura dos capítulos, como também nos diálogos, notavelmente superiores aos construídos por Ximena Suárez 16 anos atrás – até mesmo um leve deboche sobre a semelhança com outra saga famosa da Televisa, Teresa (2010), foi felizmente inserido. Os ambientes em que a saga transcorre também soam mais reais, ajudando a torná-la menos fantasiosa e mais crível. Existe ainda uma preocupação interessante em humanizar a figura de Rubi, que nesta releitura ganha ‘atenuantes’ como o amor desmedido pela sobrinha, a pequena Fernanda (Valery Sais).

Também seria válida a preocupação de Padrón em modificar a deficiência de Maribel – manca na versão anterior, ela agora usa uma prótese sob a perna amputada. Tal interferência, porém, acaba por revelar-se inútil diante das tintas exageradas em torno do problema físico da personagem, aspecto bem presente na versão da década passada.

Camila Sodi e José Ron como Rubí e Alejandro no remake de Rubi (Reprodução / Univisión)
Camila Sodi e José Ron como Rubí e Alejandro no remake de Rubi Reprodução Univisión

Não faz sentido, por exemplo, um rapaz de mundo como Héctor (Rodrigo Guirao) – culto, preparado, educado para ser (ou ao menos parecer) um gentleman – reagir de forma abertamente agressiva ao saber que a namorada virtual lhe escondeu que possuía um membro amputado, mesmo sob o pretexto de que “sentiu-se enganado” pela amada. Tampouco convence que Maribel (Kimberly dos Ramos, num desempenho sob medida) sendo filha de um casal rico e esclarecido, sofra dentro de casa com o preconceito nada velado da própria mãe. Detalhes como esse comprovam que a modernização de seus enredos segue sendo um desafio dentro da Televisa.

Outro detalhe está nas inevitáveis comparações da protagonista atual, Camila Sodi, com sua precursora. O grande problema não se encontra no alarde de a sobrinha de Thalía não estar, supostamente, à altura da beleza que o papel exige, mas sim na carregada aura de vulgaridade – com direito à risada escandalosa – que ela vem imprimindo a Rubi. Bem destoante de quando Bárbara Mori entregava uma ‘vilã-gonista’ sedutora sim, porém antes de tudo soberba e calculista. Culpa nem tanto de Camila, bem mais segura que em trabalhos anteriores, mas sobretudo da direção atual. Assinada pelo pouco experiente Carlos Cock Marín, ela tem seus momentos de inspiração – o primeiro beijo entre Rubi e Alejandro (José Ron) foi um deles -, mas nem de longe faz jus ao requinte do trabalho de Eric Morales na novela de 2004.

Com seus erros e acertos, esta nova Rubi é parte e reflexivo desta busca da Televisa em se ajustar às necessidades dos novos tempos – algo por muito postergado pela rede mexicana. Se não enuncia uma nova era, e tampouco com rompe de todo com os padrões da antiga, com toda certeza é mais um passo na renovação pretendida. Aguardemos o que ainda vem por aí.

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