A mesma história em uma roupagem mais moderna. É mais ou menos essa a proposta da Televisa ao lançar sua mais nova versão de Rubi, clássico da dramaturgia mexicana que já havia ganhado várias versões para o cinema e a TV. A mais recente e famosa delas na novela homônima de 2004, exibida várias vezes pelo SBT ao longo da última década, com a lendária atriz uruguaia Bárbara Mori como protagonista.
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A Rubi que ficamos conhecendo naquela trama de 100 e poucos capítulos era uma mulher belíssima, porém pobre, que usava a beleza e a sedução para ascender socialmente e manipular os homens a seu bel-prazer. Mesmo apaixonada por Alessandro (Eduardo Santamarina), um médico em início de carreira – e de recursos financeiros ainda escassos – , ela abria mão desse amor para seduzir o ricaço Heitor (Sebastián Rulli), sem se importar em partir o coração da frágil Maribel (Jacqueline Bracamontes), noiva dele e sua melhor amiga.
A refilmagem estreada nesta terça-feira (21) pelo canal estadunidense Univisión mantém intacta essa premissa, com Camila Sodi, José Ron (A Que Não Podia Amar), Rodrigo Guirao e Kimberly dos Ramos (Grachi) atualizando os respectivos protagonistas – mas apresenta significativas mudanças em seu entorno. Estamos agora diante de uma série curta, de apenas 25 episódios, cujo ponto de partida é o encontro de uma Rubi madura e deformada com Carla Rangel (Ela Velden), jornalista misteriosa a quem a anti-heroína narra, em longa entrevista, como usou e destruiu vários homens para chegar à riqueza de que desfruta agora.
Esta tentativa de atualizar a história de Rubi possui, de fato, vários acertos. Roteirista do remake, o venezuelano Leonardo Padrón mostra-se acertado na estrutura dos capítulos, como também nos diálogos, notavelmente superiores aos construídos por Ximena Suárez 16 anos atrás – até mesmo um leve deboche sobre a semelhança com outra saga famosa da Televisa, Teresa (2010), foi felizmente inserido. Os ambientes em que a saga transcorre também soam mais reais, ajudando a torná-la menos fantasiosa e mais crível. Existe ainda uma preocupação interessante em humanizar a figura de Rubi, que nesta releitura ganha ‘atenuantes’ como o amor desmedido pela sobrinha, a pequena Fernanda (Valery Sais).
Também seria válida a preocupação de Padrón em modificar a deficiência de Maribel – manca na versão anterior, ela agora usa uma prótese sob a perna amputada. Tal interferência, porém, acaba por revelar-se inútil diante das tintas exageradas em torno do problema físico da personagem, aspecto bem presente na versão da década passada.
Não faz sentido, por exemplo, um rapaz de mundo como Héctor (Rodrigo Guirao) – culto, preparado, educado para ser (ou ao menos parecer) um gentleman – reagir de forma abertamente agressiva ao saber que a namorada virtual lhe escondeu que possuía um membro amputado, mesmo sob o pretexto de que “sentiu-se enganado” pela amada. Tampouco convence que Maribel (Kimberly dos Ramos, num desempenho sob medida) sendo filha de um casal rico e esclarecido, sofra dentro de casa com o preconceito nada velado da própria mãe. Detalhes como esse comprovam que a modernização de seus enredos segue sendo um desafio dentro da Televisa.
Outro detalhe está nas inevitáveis comparações da protagonista atual, Camila Sodi, com sua precursora. O grande problema não se encontra no alarde de a sobrinha de Thalía não estar, supostamente, à altura da beleza que o papel exige, mas sim na carregada aura de vulgaridade – com direito à risada escandalosa – que ela vem imprimindo a Rubi. Bem destoante de quando Bárbara Mori entregava uma ‘vilã-gonista’ sedutora sim, porém antes de tudo soberba e calculista. Culpa nem tanto de Camila, bem mais segura que em trabalhos anteriores, mas sobretudo da direção atual. Assinada pelo pouco experiente Carlos Cock Marín, ela tem seus momentos de inspiração – o primeiro beijo entre Rubi e Alejandro (José Ron) foi um deles -, mas nem de longe faz jus ao requinte do trabalho de Eric Morales na novela de 2004.
Com seus erros e acertos, esta nova Rubi é parte e reflexivo desta busca da Televisa em se ajustar às necessidades dos novos tempos – algo por muito postergado pela rede mexicana. Se não enuncia uma nova era, e tampouco com rompe de todo com os padrões da antiga, com toda certeza é mais um passo na renovação pretendida. Aguardemos o que ainda vem por aí.