Passando a limpo

Completando um ciclo, Boris Casoy estreia na TV Gazeta o Jornal do Boris: “Eu sou multiplataforma”

Depois do jornal impresso, do rádio e da TV, jornalista traz para o vídeo a atração que criou para o YouTube

Publicado em 30/11/2020

Amigos da coluna Por Trás da Tela, nosso convidado de hoje é um jornalista que trouxe a noção do verdadeiro papel do âncora na televisão brasileira: Boris Casoy. Hoje pode ser comum, mas antes, os telejornais seguiam outro padrão, eu diria mais “engessado”.

Boris Casoy falou sobre o assunto, passagem por outras emissoras, e como será o Jornal do Boris, que começa nesta segunda-feira (30) na grade matutina da TV Gazeta, consequência do trabalho do veterano na internet.

Aliás, Boris traduz sua passagem no meio jornalístico da seguinte maneira: “Estou completando um ciclo. Eu fiz rádio, televisão, jornal impresso, assessoria de imprensa e não tinha feito internet. Eu sou multiplataforma”.

CHRISTIANO BLOTA – Boris, explica para nós da coluna Por Trás da Tela o seu projeto atual e as notícias da sua ida para a TV Gazeta.

BORIS CASOYA ida para a Gazeta tem um ar de multiplataforma. A Gazeta vai retransmitir um jornal, chamado Jornal do Boris, que, desde o dia 20 de outubro estou transmitindo por redes sociais e pela TV Alphaville, que agora se chama Alpha Channel. A Gazeta irá transmitir este mesmo jornal 15 minutos depois do término da transmissão ao vivo.

O jornal ao vivo é das 8h até às 8h30. A partir das 8h45 a Gazeta põe no ar. Na verdade eu não fui contratado pela Gazeta, eu fui contratado pelo Sidney Oliveira, da farmácia (Ultrafarma). Ele gosta do jornal, do meu trabalho e fez este acerto com a Gazeta. Ele negociou e disponibiliza este horário, que vai das 8h45 às 9h15, para a retransmissão do jornal. É a regravação que vai ao ar.

CB – A Gazeta coloca o jornal no ar 15 minutos depois. Esse é um tempo considerável para que as notícias continuem atuais?

BCO jornal não trabalha com notícias – a exemplo dos telejornais atuais. Eu imaginei um jornal que é uma homenagem ao Vicente Leporace, um radialista e jornalista, que fazia na Rádio Bandeirantes muitos anos atrás – entre os anos 1960 e 1970 – O Trabuco. Ele lia os jornais, na verdade era o Diário Popular, e comentava os fatos. Então eu exibo os jornais, mostro os sites, se precisar, para atualizar. Mas a partir das manchetes eu comento.

Então eu dou a notícia minimamente e comento. É um jornal com a força nos comentários. O Sidney Oliveira não vai colocar comerciais dentro do jornal. O jornal será exibido sem intervalos das 8h45 às 9h15.

CB – Esse formato de jornal me parece muito bom.

BC Está indo bem. Estamos ampliando o número de adesões, está crescendo, está indo devagarzinho.

CB – Boris, por que você saiu da RedeTV!?

BCIsso tem que perguntar para a RedeTV!.

CB(Risos) Boa resposta…

BC – Mas eu vou te responder. Eu me dei muito bem lá. Mas eles estão em dificuldade financeira grande. Eu estou parado e o meu trabalho principal lá era apresentar o jornal (RedeTV News). Eu apresentava com a Amanda Klein e um período com a Mariana Godoy, ou seja, eu era um dos apresentadores do jornal, que fazia os comentários.

Desde março estou em prisão domiciliar, por causa da pandemia. Nós combinamos de reduzir o salário e eu fazia um comentário por dia, mandando aqui de casa. Eu gravava em casa e mandava.

Chegou uma hora em que eles me pagavam um salário considerado alto, mesmo reduzido, sem uma resposta de trabalho. Esta é a razão que eles me deram e eu acho que combina com o que está acontecendo lá.

CB – Boris, a televisão brasileira agoniza, eu vejo isso quando analiso dados para escrever a coluna…

BCEntão. Por isso que eu não briguei, me despedi deles, eu te diria que eu esperava por isto. Se eu estivesse do outro lado do balcão e pensasse: “Tem um cara que eu pago um salário bom, mas o trabalho não rende devido à quarentena, vou encerrar o contrato”. E eu não me fiz de vítima. Poderia falar: “Demitiram um velho de 79 anos, estão me impedindo de trabalhar”. Não é bem assim. O que vai fazer?

Eu estou recolhido desde março (pandemia). Eu sou grupo de risco e não posso retribuir em trabalho. E eu estava trabalhando praticamente sem render. Eu fazia um comentário, gravava e mandava, era o que dava para fazer.

CB – Não posso deixar de perguntar, ou pedir que você comente: por que não voltaria para a Record por dinheiro nenhum?

BCOlha, enquanto eu trabalhei na Record foi uma relação excelente. A Record cumpriu todos os compromissos firmados comigo “religiosamente”, não tenho queixa nenhuma. O final foi ruim, a maneira que eles resolveram cortar o contrato, eu achei truculenta.

Mas a realidade mesmo foi que eles se recusaram a pagar a multa que o contrato preconizava. Uma multa alta em caso de rescisão, fora dos padrões, que eles tinham posto. Era uma cláusula que eles tinham imposto. E eu tive que entrar com uma ação que demorou oito anos e no final da ação, quando eles sabiam que iriam perder, propuseram um acordo.

O acordo foi dividindo em várias prestações e eles acabaram pagando na Justiça. Então, a recusa que foi o problema. O que me incomodou foi ir para a Justiça para receber o que eles me deviam. Então se criou um ambiente ruim entre os dois lados. Mas de quando trabalhei lá eu não tenho nenhuma queixa.

Agora foi ruim, o desenlace foi ruim, do ponto de vista pessoal, porque eu estava em férias, era meu primeiro dia, quando fui comunicado do rompimento de contrato. Esse tipo de atitude, somada a recusa de pagar o que estava no contrato, me fez agir desta maneira.

Eles alegam que era ilegal. Apesar da ideia de colocarem no contrato a cláusula da multa partir deles, a quantia era muito alta e, portanto, alegaram ser ilegal. E você não pode colocar algo dentro do contrato que não seja dentro da lei.

Então eles disseram que não era legal, eu alegava que era. Os dois lados sabiam que eles tinham exigido esta cláusula. Por isso que eu me sentiria mal em trabalhar lá novamente.

CB – Boris, vou viajar um pouco no tempo. No final da década de 1980, o SBT fez um barulho com a sua contratação para fazer o Telejornal Brasil, ou apenas TJ Brasil, e você foi no Brasil o primeiro jornalista que este colunista viu divulgando notícias e opinando. Eu acho que você foi o primeiro âncora que eu vi.

BCEu acho que sim. Eu fui o primeiro âncora mesmo.

Boris Casoy na edição de estreia do TJ Brasil em 1988 (Reprodução/SBT)
Boris Casoy na edição de estreia do TJ Brasil em 1988 ReproduçãoSBT

CB – Exatamente. Antes tínhamos jornais engessados, notícias lidas, como um texto programado, algo meio que mecânico. Eu gostaria de perguntar para você como surgiu a ideia.

BCAntes eu quero dar uma definição de âncora, porque todo mundo que apresenta telejornal é chamado de âncora. Nos Estados Unidos o âncora é um apresentador, que é o editor-chefe do jornal, ele manda, ele que toma as principais decisões editoriais dos jornais e tem autonomia. A palavra-chave é autonomia.

Isso eu tinha no SBT, na Record também. Eu tinha autonomia, ou seja, as decisões eram minhas. A empresa abria mão da hierarquia e eu era o topo no comando. Quando o SBT me convidou, dois jornalistas assumiram a direção: o Marcos Wilson e o Luiz Fernando Emediato. Eu não os conhecia, eles me viram em um debate eleitoral que eu participei, e me convidaram para o SBT.

Quando eu aceitei, eles me deram uma gravação com vários âncoras americanos. Era para implantar no Brasil o estilo do âncora americano, mas é difícil o profissional americano comentar. Ele comentava uma vez por ano. Era uma coisa muito difícil. Mas eu senti a necessidade de explicar e depois aprofundar a explicação. Assim, nasceu este formato – notícia com comentário.

CB – Então pode se dizer que a ideia veio dos Estados Unidos, mas você acrescentou mais comentários no seu telejornal? 

BCEla foi sendo adaptada por mim. Lá não faz parte da fórmula do jornal comentar toda hora, de vez em quando acontece, o jornalista solta uma frase, mas ele passa meses sem comentar, não faz parte da estrutura do jornal. Mas no meu caso senti a necessidade de mais comentários, foi uma ideia minha que foi nascendo no desenrolar do jornal.

CB – Você diria que abriu as portas para este tipo de jornalismo no Brasil?

BCEu acho que sim porque o charme do jornal e a dimensão que ele ganhou foi exatamente por causa do comentário. E nós estávamos saindo do regime militar. Demorou muito para alguém começar a comentar nos outros canais. Já havia tido comentário, não naquele formato, antes de 1964. Porém sem autonomia.

CB – O jornalista ou apresentador comentava de acordo com a política da emissora. No seu caso não foi assim?

BCIsso. No meu contrato, tanto no SBT quanto na Record, tinha este acordo me proporcionando autonomia.

CB – Boris, para encerrar a nossa conversa eu tenho uma pergunta padrão aos meus convidados. A coluna se chama Por Trás da Tela, portanto, gostaria de saber: o que faz o Boris quando não está em frente às câmeras?

BCEu gosto de ler, ouvir música, futebol na televisão e filmes. Eu tenho uma mania, um gosto diferente que é guiar. Eu gosto de guiar. Eu tenho uma casa em Ubatuba, mesmo na pandemia estou indo porque saio de São Paulo e vou até o litoral sem parar, direto.

Agora na pandemia eu cultivei este hábito. De vez em quando eu pego o carro e dou uma volta. É uma espécie de volta sem destino. Vou para uma cidade do interior de São Paulo, paro em outra, tomo café em um bar, vejo uma atração turística, muitas vezes sem ter me programado. É uma coisa que eu gosto de fazer muito nos fins de semana. Eu ainda faço, mas agora eu não desço do carro.

CB – Nossa, Boris. Que legal! Vou adotar esta experiência para mim. Deve ser bacana…

BC Pois é, como eu gosto de guiar, eu escolho um dos meus carros antigos, que eu adoro, são sonhos de infância que eu acabei comprando e gosto de dirigir sem rumo. Claro que eu também gosto de ver os noticiários.

CB – Eu adoro carro antigo. Se eu vejo um desses na rua, eu olho. Se eu observar o Boris Casoy saindo do veiculo, eu vou te incomodar, porque vou querer conversar contigo. Como você sai sem destino, para, toma um cafezinho… as pessoas não se aproximam de você?

BCEu converso. Eu já saio disposto a isso. Digamos, hoje eu vou fazer uma compra no shopping. Se eu sou abordado, e eu sou, eu diria que não atrapalha, mas é uma interferência na minha compra.

Quando eu saio para dar esta volta, que eu chamo de Sem Destino (mesmo nome do filme clássico de Dennis Hopper), que é o título do meu passeio, já vou preparado para a abordagem das pessoas. Às vezes eu não saio tão sem destino assim. Eu penso em um lugar, por exemplo, Piracicaba, e já vou disposto para este tipo de coisa, conversar com quem me procura. E nem sempre vou sozinho, vou com um amigo ou amiga.

É gostoso. Eu tenho que estar com vontade, gosto de pegar estradas boas, visitar os bairros de São Paulo que eu não conheço, como a periferia. Eu gosto de conhecer lugares novos, um dia fui conhecer o estádio do Corinthians, mesmo sem ter jogo. Então, eu adoro ver coisas novas, mas principalmente guiar. Tanto que eu estou pensando até em aprender. (Risos)

CB – Eu tenho certeza de que você manda muito bem no volante.  

BCOlha, tem um amigo meu que me chama de Mr. Magoo. Conhece o personagem?

CB – Conheço… (Risos) Mas o legal do Mr. Magoo é que, apesar das limitações, ele sempre se safa dos perigos e volta feliz para a casa dele.

BCEntão, meu amigo diz: “Você viu a besteira que você fez?”. Eu digo que não… (Risos)

Foi um grande prazer conversar com esse grande jornalista que é Boris Casoy, agora na tela da TV Gazeta todas as manhãs. Obrigado, até a próxima e boa sorte!

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