CRÍTICA

Killing Eve chega ao fim apenas como sombra do passado brilhante

Na quinta (23), o Globoplay lança os últimos episódios do drama de espionagem britânico

Publicado em 22/06/2022

Dois anos após o término da terceira temporada, a quarta e última leva de episódios de Killing Eve estreia na quinta-feira (23), no Globoplay. A série, duas vezes indicada ao Emmy de melhor drama, chega ao final apenas como sombra do passado brilhante, longe daquela empolgação e adrenalina do começo. Fica nítido como a trama se arrasta até cruzar a linha de chegada, completamente sem vigor.

Provavelmente, quem foi fisgado pela dinâmica hipnotizante e sagaz entre a agente Eve Polastri (Sandra Oh) e a serial killer Villanelle (Jodie Comer) lá no início irá acompanhar o desfecho para saber como será o fim delas. Essa é a maior motivação, pois pouco tem a se aproveitar além disso.

Todo o alicerce de Killing Eve está na interação entre Eve e Villanelle. A cada temporada, as duas estão em lados opostos, se encontram para depois se separarem. Esse ciclo se repete, mas falta consistência e criatividade nas necessárias reuniões, falha percebida desde a segunda temporada.

No ano de estreia, em 2018, Killing Eve foi arrebatadora. Usando quase todo o livro no qual se baseia, chamado de Codinome Villanelle, a série foi roteirizada pela brilhante comediante Phoebe Waller-Bridge e merecidamente entrou no rol das melhores produções da TV. 

A atração passou a ser presença forte no Emmy, ganhando de tabela o apreço dos críticos. No site Metacritic, que compila reviews da imprensa de língua inglesa, a série ganhou a nota 86 (de 100) pela leva estreante. Após o pico da segunda temporada, com a nota 88, Killing Eve desceu a ladeira, chegando a avaliação mediana de 55 com a quarta e última temporada.

A atriz Jodie Comer na temporada final de Killing Eve
A atriz Jodie Comer na temporada final de Killing Eve

Desgaste

O ponto crucial da queda de qualidade de Killing Eve é a perda de identidade ao longo das temporadas. Isso porque ocorreram mudanças de showrunners em todas as levas. Nenhuma série terá coesão e equilíbrio ao ter troca de comando temporada após temporadas, somando quatro showrunners no total.

Inevitavelmente, a pessoa recém-contratada irá imprimir um estilo diferente de quem acabou de sair. Por mais que tente se manter fiel às características das personagens, a qualidade escapa pelas mãos com tantas alterações logo no cargo responsável por liderar a roteirização e produção da série.

A aposta da quarta temporada é colocar as protagonistas em lugares e situações que nunca estiveram. Eve põe em prática uma jornada de vingança visando acabar com a organização Os Doze, sem medir qualquer consequência. Paralelo a isso, longe da policial, Villanelle busca ser uma pessoa melhor, de verdade, investindo na religião e na terapia para alcançar esse objetivo.

O menos mal dessa leva é que a reunião entre as duas ocorre bem antes do que visto nas temporadas passadas. Como comprovado, Killing Eve só funciona plenamente com as duas por perto. Não há muita empolgação nesse reencontro, entretanto, gerando pequenas reviravoltas.

Apesar disso tudo, tem algo de proveitoso nesta temporada. Abriu-se o túnel do tempo para que o público conheça a origem dos Doze, quem eles são, quais causas defendem e porque decidiram se unir. A viagem é mostrada pelo ponto de vista da jovem Carolyn, interpretada por Imogen Daines em flashbacks. 

Esse pedaço da narrativa mostrou-se tão rico e promissor que está sendo usado como base de um spin-off atualmente em desenvolvimento pela rede britânica BBC, junto com o canal americano AMC. O passado espião da agente do MI6, o serviço de inteligência britânico, é fértil de boas histórias.

No final dos anos 1970, ela foi uma agente infiltrada em Berlin (Alemanha) e, na década seguinte, em Moscou (Rússia). A versão adulta de Carolyn é vivida por Fiona Shaw. ⬩