Guerra do Streaming

Com acervo no fim, será que a Globoplay sobrevive sem a Rede Globo?

Do seu Top 10, só 3 não são reprises televisivas

Publicado em 12/07/2024

O acervo com potencial contemporâneo já está no final. Com a justificativa da série Fragmentos, estão exibindo até obras desfalcadas com menos de meia dúzia de capítulos restantes do período da autocanibalização em que apagavam fitas para regravarem materiais novos por cima.

Por mais que se fale na força dos streamings e na queda da televisão, no Brasil esse mercado difere de outros países. Aqui os assinantes não são atraídos necessariamente pelas novidades mundiais, mas pelas reprises de enredos televisivos.

Não seria problema continuar sendo amamentada pela mãe Globo, que aparentemente deve se manter na liderança e permanecer como a maior produtora de seu segmento. A questão é que o volume criado em uma TV aberta é bem menor do que a quantidade necessária para conter a fome dos streamings, que precisam de novidades semanais.

Trunfo da Dramaturgia Brasileira

Até agora a plataforma herdou centenas de produtos de altíssimo potencial que chagaram a prateleira da Globoplay a custo praticamente zero, criando aí o grande diferencial de suas concorrentes. E foi justamente essa peculiaridade que a credenciou como nova entrante nesse fechado segmento dominado por masters internacionais.

E não se trata de um conteúdo qualquer. A maioria carrega fortes laços com o público. Essa presença faz com que os assinantes queiram assistir novamente o que já viram na TV aberta ou o que não tiveram oportunidade na ocasião em que foi oferecido na grade de programação linear televisiva, mas que continuam vivos em suas memórias afetivas.

Fim do acervo Global

Como boa parte do acervo adequado já foi disponibilizado, a empresa precisa aprender a caminhar sozinha e se reforçar nos campos em que é deficitária. Porém, o maior entrave é que as concorrentes pertencem aos mesmos grupos que os grandes estúdios e produtoras internacionais. Ou seja, uma disputa muito acirrada pelo pouco material que sobra das amarras das exclusividades corporativas estrangeiras.

Seus conteúdos próprios, chamados de originais, surgem numa quantidade muito pequena, além de serem fortemente apoiados pelo marketing e exibições degustativas feitas na grade da própria Rede Globo. Essa falta de independência não reflete somente no material, mas no cálculo de seu real valor de mercado. Esse quatro preocupante fica explícito ao analisarmos o Top 10, onde aparecem apenas dois conteúdos internacionais e um próprio.

A Campeã Alma Gêmea

Mesmo após várias reprises, incluindo uma atual, essa novela lidera a lista. Escrita originalmente em 2005 por Walcyr Carrasco para a faixa das 18h, voltou ao ar em 2009 e atualmente integra o tradicional Vale a Pena Ver de Novo. Em 2022, foi também foi reprisada na íntegra pelo canal especializado Viva. Mesmo com as exibições anteriores, esse romance ainda encontra fôlego para liderar a preferência entre os assinantes do Globoplay.

Assim como o clássico A Viagem – de Ivany Ribeiro, a reencarnação também é o mote principal de Alma Gêmea. A resposta positiva a esses dois títulos contradiz o temor da Rede Globo de que novas produções com temáticas espíritas possam não ter o mesmo desempenho nos dias atuais.

Em segundo lugar está a novela Renascer. Esse fenômeno espelho tem se manifestado de forma muito forte aqui no Brasil, onde produções simultâneas da Rede Globo também lideram o streaming do grupo. Se isso é benéfico para alavancar a Globoplay, é prejudicial para a emissora de TV.

Apesar de manter-se na liderança, a Globo não performa mais como no passado. Ou seja, os produtores e o mercado anunciante precisam reconfigurar o sucesso de um conteúdo atual levando em consideração essa pulverização do mesmo produto por diferentes meios e plataformas.

A presença de O Jogo que Mudou a História na terceira posição mostra que os produtos exclusivos para a Globoplay não têm os mesmos resultados do que as velhas tramas globais. Estreada em 13 de junho, trata-se de uma parceria com o grupo AfroReggae.

Só dois estrangeiros

Somente na quarta e décima posições aparecem conteúdos internacionais, ponto forte da Netflix, líder mundial nesse mercado. Trata-se de The Good Doctor, versão norte-americana da original coreana de 2013. A série que mostra as dificuldades de um jovem médico com autismo, chega a sétima temporada.

Está no catálogo do Globoplay desde 2018, com exibição dos primeiros capítulos de forma degustativa na Tela Quente da Globo e depois reprisado nas primeiras temporadas pelo GNT. Fechando o Top 10, está a série policial norte-americana Law & Order.

Glória Perez também Rainha do Streaming

No quinto, sexto e oitavo lugares, surgem as novelas A Força do Querer, Salve Jorge e Caminho das Índias. As três têm um forte fator em comum: foram escritas por Glória Perez, mostrando que a vocação da autora também se aplica ao streaming.

Ainda na lista dos dez líderes, dois outros expoentes da dramaturgia televisiva: a novela Avenida Brasil, de João Emanuel Carneiro, e a série A Grande Família. Esta última ainda tem muito conteúdo para abastecer a Globoplay, com suas 14 temporadas, somando 485 episódios exibidos originalmente entre 29 de março de 2001 e 11 de setembro de 2014.