lá longe

A Vida da Gente: triângulo de Suzana, Renato e Cícero é ótimo, mas muito desconectado do enredo

Trama paralela peca por não ter uma maior unidade com a novela

Publicado em 09/07/2021

A Vida da Gente é uma novela sobre sentimentos e dramas psicológicos. A ação do enredo de Lícia Manzo acontece a partir do que sentem seus personagens e para onde a vida os leva. Por isso, as cenas são recheadas de diálogos, com muitos desabafos e conselhos. Não por acaso, todos os personagens têm “orelha”: um amigo ou parente com o qual eles abrem o coração.

Rodrigo (Rafael Cardoso) e Lourenço (Leonardo Medeiros) são confidentes. Dora (Malu Galli) e Celina (Leona Cavalli), idem. Alice (Sthefany Brito) serve de “orelha” tanto a Manu (Marjorie Estiano) quanto a Ana (Fernanda Vasconcellos). São quando estes personagens conversam que nós, espectadores, conseguimos entender o que eles sentem.

Mas, curiosamente, nem todos os tipos vistos na novela têm confidentes. O casal Suzana (Daniela Escobar) e Cícero (Marcello Airoldi), por exemplo, não tem alguém com quem podem abrir o coração. O único elo do casal ao restante do enredo é Alice, filha adotiva deles, que circula por outros núcleos. Mas eles ficam ali, fechados naquela casa onde vivem.

Crise no casamento

No atual momento de A Vida da Gente, o casal passa por sua maior provação. Renato (Luiz Carlos Vasconcelos), pai biológico de Alice, começou a trabalhar com Suzana, o que fará com que eles se aproximem. Isso deixará a paisagista balançada, enquanto Cícero morrerá de ciúme. O casal viverá sua grande crise dentro da novela.

Trata-se de um ótimo triângulo amoroso. Cícero e Suzana formavam, até aqui, um casal modelo, com uma vida de classe média alta sem maiores emoções. A chegada de Renato, portanto, cria uma crise em vários níveis. Ele é pai biológico de Alice e, de repente, passa a conviver com os pais adotivos da filha. Alcoólatra em recuperação, ele traz a esta família conflitos até então inimagináveis.

Sendo assim, este drama seria muito mais envolvente se soubéssemos, de fato, o que se passa na cabeça de Suzana e Cícero. A paisagista se vê encantada pelo fotógrafo, mas até que ponto este encantamento pode ser um novo amor? O que Suzana realmente sente por Renato? E Cícero? Como ele lida com toda esta situação?

Ou seja, neste núcleo, faz falta uma (ou mais) “orelha”. Suzana, por exemplo, poderia ser amiga de Dora e Celina, e estar incluída em seus encontros para falar sobre a vida. Seria uma maneira de a personagem desabafar, de o público a compreender melhor e, ainda, de ela estar mais conectada ao restante da novela.

O mesmo poderia acontecer com Cícero. Ele poderia ser amigo de Lourenço, por exemplo. Assim, ele também ficaria mais próximo dos demais núcleos da obra, e teria com quem desabafar. A novela ficaria mais uniforme e o drama de Suzana, Cícero e Renato seria potencializado.

A Vida da Gente é uma novela muito bem-resolvida. Toda a narrativa funciona, e (quase) todos os núcleos são bem conectados. Mas a autora errou ao manter a família de Alice distante dos demais personagens da obra. Seria mais fácil se envolver com o drama deles se eles estivessem mais próximos dos demais núcleos.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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