Análise

A GloboNews está copiando a CNN Brasil? Qual é o verdadeiro ‘canal do debate’?

Canal do Grupo Globo passou a ter quadro igual ao da nova emissora

Publicado em 30/04/2020

Nesta semana, mais um round foi aberto na briga dos canais de notícias por mais público. Os telespectadores foram surpreendidos pelo GloboNews Debate, um quadro que reúne dois nomes políticos antagônicos a fim de discutir um tema de interesse público. O segmento foi exibido dentro dos telejornais da emissora.

Não haveria discussão sobre a existência dessa atração se ela não fosse idêntica ao Debate 360, do jornal CNN 360, da CNN Brasil, rival da GloboNews.

Além disso, o canal da Avenida Paulista se denomina desde a sua estreia como o canal do debate, com um quadro importado dos Estados Unidos, O Grande Debate. Vale lembrar que, desde o início do ano, os cariocas, no entanto, exibem um institucional também sobre ser a emissora do debate.

Com a afronta recente do GloboNews Debate, a CNN Brasil, indiretamente, passou a reforçar intensamente, com seus âncoras, com vídeos institucionais, que ela é, de fato, o canal do debate quando se trata de jornalismo.

Quem tem razão nesta briga?

Antes de chegar a uma conclusão, é importante entender que a chegada de um player de renome mundial mexeu com as estruturas do mercado brasileiro, ainda que a GloboNews negue e siga líder absoluta.

Se em outros tempos, o canal do Grupo Globo boicotou rivais, como a Record News, em 2007, agora, a briga ocorre de maneira mais no campo editorial. Na GloboNews, quem está no ar não pode mais citar nem a CNN americana, que virou “TV americana”, “uma rede americana”, “imprensa dos EUA”.

Aparentemente, a ordem é fingir que a marca rival não existe, ignorando qualquer notícia exclusiva da CNN Brasil, e, se for necessário, apurar as informações direto na fonte e aí, sim, noticiar os fatos para o seu telespectador.

Além disso, nunca houve tantas notas na imprensa especializada sobre a GloboNews ser líder de audiência.

Momento inédito

Afinal, se ‘nem ventou’ na sede do canal com a chegada da CNN Brasil, por que essa preocupação obsessiva de se reafirmar como opção número um no Brasil?

A GloboNews sabe que, agora, pela primeira vez em sua história, tem uma concorrente capaz de lhe fazer estragos. Em mais duas décadas houve uma inofensiva BandNews TV, que, no máximo, incomodou o canal no início das manhãs.

Isso fez com que os cariocas se mexessem e lançassem o Em Ponto para fazer exatamente o que o canal do Morumbi faz. E deu certo.

Antes, em 2007, a Record News chegou com um discurso de que acabaria com o monopólio da informação e falhou miseravelmente. O canal nunca concorreu com a GloboNews, porque sempre focou – na maior parte de sua programação – em irrelevantes noticiários locais, regionais e muita cobertura de crime.

É o que costumo dizer: de que interessa ao cidadão de Manaus, de Salvador, de Porto Alegre saber que ‘bandidos estão assaltando na Marginal Pinheiros em São Paulo’ ou ‘os transtornos de um buraco de rua em Vitória’?. Esse era o padrão Record News, que nunca esteve na disputa pela mesma pauta com a GloboNews.

Onde a CNN Brasil se iguala

Com a CNN Brasil, a situação é completamente outra. A nova rede, apesar de uma estrutura menor, sabe exatamente o que cobrir e tem o know-how da CNN americana. O foco é em assuntos de interesse nacional, política em Brasília, economia e internacional. O mesmo que a GloboNews, portanto.

A CNN Brasil iniciou suas operações e se prepara para crescer e consolidar sua marca não como alternativa à GloboNews, mas como opção número um do telespectador brasileiro. Senão em toda a programação, em determinados segmentos. Isso, claro, a longo prazo.

Para evitar isso, discretamente, como se não estivesse se importando com as mudanças no mercado provocadas pela rival, a GloboNews ampliou sua programação ao vivo, com o discurso de que essa é uma tendência natural.

Grafismo modernizado

Além disso, os cariocas mudaram o pacote gráfico, deixando-o mais moderno. Incluíram a tarja de “Urgente” na tela. Até mesmo quando ela não é necessária, está lá com seu chamativo vermelho.

Esse, claro, é um recurso tradicional da CNN americana e de todos os canais de notícias dos EUA para chamar a atenção do telespectador zapeando ou que vê o canal de longe. É usada a expressão “Breaking News” para coberturas especiais ou notícias urgentes.

Na TV Globo e na GloboNews sempre imperou o conceito do menos é mais, inclusive no grafismo na tela e nos cenários. Portanto, o tom sóbrio, pálido que o canal transmite.

Por isso, surpreendeu também a mudança na vinheta de “Urgente”, que possui, agora, uma trilha mais sensacionalista. Surpreendeu mais ainda ela passar a entrar no meio da programação, como faz a CNN americana.

Antes do anúncio da CNN Brasil, em janeiro de 2019, quando um fato de última hora ocorria, não tinha vinheta, que na época ainda era chamada de “Plantão” e não “Urgente”.

Mais mudanças estéticas

Outra coisa, que, apesar de simples, mas que, sem a CNN Brasil, não teria ocorrido, é a tela dividida, um esteticismo muito explorado pela rival e quase, mas quase nunca pela rede carioca, que prefere mostrar entrevistados e comentaristas em telões no estúdio.

César Tralli no GloboNews (Reprodução / Twitter)
César Tralli no GloboNews Reprodução Twitter

Isso tudo sem falar em César Tralli no Estúdio I, jornal das 13h, como comentarista e, depois, no Edição das 18h, substituindo Leilane Neubarth, por causa da pandemia do novo coronavírus.

Essa é uma função que poderia ser muito bem realizada pelas suplentes Leila Sterenberg ou Cecília Flesch, mas a GloboNews quis um nome de peso para agradar o telespectador de São Paulo.

Mercado dinâmico

O fato é que a chegada da CNN Brasil, que apresenta muitos acertos e muitos erros, transformou o mercado de notícias. Se antes era acomodado, com a GloboNews ditando o ritmo, agora, no segmento, nenhum canal pode deixar de buscar o melhor para o telespectador.

Todas essas mudanças, o surgimento do Globo News Debate, que permite opiniões divergentes em um canal nos qual os comentaristas todos concordam entre si, são só o começo de um dinamismo inédito no setor de noticias da TV, que promete trazer melhores e maiores novidades, com as futuras grandes coberturas.

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade