Cobertura especial

GloboNews passa recibo após “surra” histórica dada pela CNN Brasil

Líder absoluto e orgulhoso, canal de notícias do Grupo Globo não contava que seria atropelado por rival da Avenida Paulista

Publicado em 07/03/2022

Este é um fato que merece a atenção de todos que acompanham o mercado de televisão. Os telespectadores sabem muito bem que a GloboNews é orgulhosa e, como qualquer veículo do Grupo Globo, é canibalesca com qualquer concorrente. Isto é, não dá chance para nenhum rival, sufocando-o até se mostrar absolutamente soberana. Foi assim, por exemplo, com a fracassada Record News, desde 2007. 

A GloboNews se ostenta como o canal mais antigo quando se trata de jornalismo. O canal enfatiza também sua capacidade de “nunca desligar”, e é preciso registrar que está mesmo em todos os lugares do país (talvez não tão no norte: o apagão de Macapá manda lembranças), graças à rede de afiliadas da Globo.

Mas o fato é que este canal de notícias nunca foi absolutamente grandioso, embora líder e referência no segmento. Nunca se investiu pesado em estrutura (o Edição das 16h simboliza isso), em cenários, por exemplo, que é onde o telespectador mais vê o luxo ou a falta de. 

Também nunca houve motivos. Afogando os concorrentes no campo empresarial e líder absoluta por, principalmente, estar em todos os pacotes básicos e numa posição privilegiada na grade de canais das operadoras, para que ter um canal de padrão internacional?

Mais do que isso, se nenhum concorrente seria capaz de superá-la em audiência, tudo estaria sob controle, afinal, a GloboNews tem os telespectadores, os anunciantes, a tradição e até mesmo a imprensa especializada. 

A história teve um arranhão inesperado nessa semana, quando a rede carioca tomou uma surra – podemos definir como surra, por tudo que a concorrente teve que enfrentar para alcançar tal feito – da CNN Brasil, que a superou primeiro em São Paulo, onde a GloboNews é, absolutamente, a preferida, na média-dia.

A emissora da Avenida Paulista tem menor alcance, pois não está em todos os pacotes mais básicos da TV paga – sabe Deus por quê – e não é tão conhecida, já que não tem a mesma capilaridade para a cobertura de assuntos em todos os rincões do Brasil. 

Maria Beltrão passa a comandar novo programa sobre a guerra, no lugar do Estúdio I
Maria Beltrão passa a comandar novo programa sobre a guerra no lugar do Estúdio I Reprodução

De fato, mais do que números e um feito magnífico para o time da CNN, essa vitória mostra que é possível bater a rival, que sempre se colocou em um patamar diferenciado. Quando Maria Beltrão, uma das principais jornalistas da GloboNews, disse sobre a concorrente que “nós somos um canal de notícias brasileiro, e agora isso ficou ainda mais evidente. Trabalhamos do jeito que a nossa audiência prefere, não da maneira que o público de outro país consagrou”, não imaginaria que seu próprio programa sairia do ar para dar lugar a um programa bizarro, de nome equivocado, o Central da Guerra.

Pior: durante o jornal, ao invés de Central da Guerra, o telão passou a mostrar outro nome, Central GloboNews. Teria chegado uma ordem para a troca de nome com o programa ainda no ar? Esta é uma atração colocada no ar às pressas numa sexta-feira, sem qualquer campanha de divulgação para o mercado para cobrir o conflito entre Rússia e Ucrânia. O mais interessante é que o programa não tem nada de tão especial que não poderia ser mostrado no Conexão ou no próprio Estúdio I.

Se uma bizarrice dessa tivesse ocorrido fora do Grupo Globo, estaríamos nós produzindo manchetes sobre como estas emissoras concorrentes são amadoras, como elas mesmas incentivam a liderança da GloboNews etc.

O fato é que o canal de notícias da Globo passou recibo, ainda que tenha tentado, por meio de um comunicado, dizer que estava tudo sob controle, planejamento. Foi a mesma tática na estreia da CNN, em 15 de março de 2020, com a tal Cobertura Especial de Domingo do Coronavírus, que durava seis horas.

A emissora viu a CNN Brasil voar na cobertura da guerra e, pasmem, lançou um programa para abordar as mesmas coisas que os jornais regulares já traziam. Isto tudo é o novo sinônimo de desespero no segmento de notícias da TV paga.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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