Band em Crise

Crise de talentos na Band: desdobramentos da demissão de Zeca Camargo

Saída reflete dificuldades administrativas e a incapacidade de reter grandes talentos e manter a estabilidade na programação

Publicado em 26/06/2024

Apesar de aparentar ter sido repentina, a demissão de Zeca Camargo da Band segue uma rotina administrativa mais reprisada do que as antigas novelas deste canal. A emissora enfrenta dificuldades em reter os talentos que contrata tendo praticamente todos o mesmo destino: retirados do ar sem oportunidade de consolidar suas atrações.

Foi assim com as turmas do Pânico, com Sílvia Poppovic, Rafinha Bastos, Luiz Bacci, Mariana Godoy e agora, com Edu Guedes que também se despede da empresa. Nem mesmo tendo em mãos o maior coringa da TV brasileira, o grande Fausto Silva, soube aproveitar esse trunfo.

De uns anos para cá, tem sobrevivido basicamente com a prata mais antiga da casa que resistiu ao assédio das concorrentes. Cabe a esses a missão de garantir a sobrevivência da emissora, angariando as poucas pontuações em audiência da atualidade.

Fazem parte desses bravos mantenedores: Renata Fan, Neto, Elia Júnior e José Luiz Datena – que retornou à emissora depois de seu temperamento não se adaptar aos novos patrões que o retiraram da Band. No entanto, este, deve sair do ar a qualquer momento pois, dessa vez decola a sua candidatura nessas eleições.

Ricardo Boechat, se não tivesse tido um trágico fim, possivelmente estaria ali segurando as pontas do Jornalismo. Embora com grande currículo profissional, praticamente estreou na mídia televisiva por lá demonstrando gratidão e afinidade com o canal.

Também garantem a sobrevivência desta emissora marcas históricas que embora tenham passado de mão em mão e com os formatos alternados ainda servem de grife para a empresa. Nessa categoria resta o que sobrou do Show do Esporte consagrado pela equipe comandada por Luciano do Valle. Além disso, resiste bravamente o Canal Livre graças ao empenho de Rodolfo Schneider.

Efeito dominó da saída de Zeca Camargo

A demissão de Zeca Camargo é a prova dessa dificuldade que a empresa tem com suas recentes contratações. Depois de tentar novas experiências descontinuadas de forma abrupta, o apresentador caiu como uma luva para comandar o Melhor da Noite, programa tapa-buraco emergencial para preencher o investimento feito pela emissora em equipamentos, remodelação de estúdio, criação de auditório e novas contratações realizadas na euforia da estreia de Fausto Silva.

O futuro desligamento dele já vinha sendo percebido com o esvaziamento e mau aproveitamento dentro da própria atração. Mesmo carregando na bagagem a condução do Fantástico, a mais bem-sucedida revista informativa da TV, a parte jornalística havia sido tirada dele.

O bloco de notícias, parte inicial do programa inserido para tentar herdar a boa audiência do Jornal da Band, foi dado a Rodrigo Alvarez, que fez as férias de Camargo. Agora foi efetivado no comando da atração ao lado de Glenda Kozlowski, que deve estar se perguntando quando será a bola da vez em meio a histórica falta de continuidade da empresa.

Aceno do cheque do Show da Fé

E até mesmo o futuro do programa é incerto. Dificilmente deve ter uma sobrevida diante da tentação do cheque assinado pelo Bispo R. R. Soares para ressuscitar seu Show da Fé, que por mais de uma década atravancou a grade da Band, registrando traço no índice de audiência em um dos horários mais assistidos pelo brasileiro. Certamente esse rasgo na programação foi um dos responsáveis pela estação estar relegada ao quarto lugar entre as cinco maiores redes do país.

Mesmo criado de forma imediata, o programa em questão pode não ser o “melhor da noite”, como prega o seu título. No entanto, vem desempenhando heroicamente o papel de única opção na TV aberta que, nesse horário, está bipolarizada entre novelas e hard news.

O grande problema é a cobrança interna diante da falta de tempo de maturação e a mania de grandeza que contrasta com sua realidade. Um ano pode ser considerado curto para cristalizar um produto televisivo depois de tanto tempo dedicado ao conteúdo religioso. E dois pontos no Ibope, avaliado como baixo pela direção, não é pouco quando a média geral da emissora não é muito diferente disso.

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