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Atores de cena racista em Malhação defendem corte do Viva: “Não é censura”

Rodrigo Faro, Bruno Gradim, Alexandre Barillari e Jonas Torres praticaram blackface em trecho excluído

Publicado em 01/05/2023

A coluna procurou dois atores que participaram da cena de Malhação 1998 cortada pelo canal Viva por racismo. Eles concordam com a decisão da emissora de suprimir o trecho com blackface, prática discriminatória de pintar o rosto para fingir ser negro. Para os artistas, corrigir uma produção em que trabalharam não configura censura e é bem-vinda para a discussão do tema.

Na trama cortada, Bruno (Rodrigo Faro), Beto (Jonas Torres), Barrão (Bruno Gradim) e Tadeu (Alexandre Barillari) perdem um concurso de bandas e decidem pintar o rosto para se fantasiar do grupo vencedor, formado por integrantes negros.

Desde a novela Da Cor do Pecado, em abril de 2021, o Viva veicula este aviso antes de cada reprise: “Esta obra reproduz comportamentos e costumes da época em que foi realizada”. Nesta segunda (1°), ao exibir Malhação, a emissora atualizou a mensagem: “As obras do canal Viva reproduzem comportamentos e costumes da época em que foram realizadas. Eventualmente, algum trecho pode ser excluído desde que não gere prejuízo para a compreensão da narrativa”.

Viva anuncia cortes de cenas antigas consideradas impróprias atualmente
Viva anuncia cortes de cenas antigas consideradas impróprias atualmente

Alexandre Barillari e Bruno Gradim apoiam corte de cena racista

Procurados pela coluna, Alexandre Barillari e Bruno Gradim se manifestaram a respeito do corte. O intérprete de Tadeu já havia concordado com a decisão ao compartilhar em sua rede social a resposta do Viva com emojis de aplausos. Em entrevista exclusiva, ele justifica seu posicionamento.

“Super concordo com a decisão do canal para que exiba um conteúdo consonante com os comportamentos vigentes hoje, 25 anos depois. Aliás, não apenas os comportamentos vigentes, mas os caminhos que pretendemos trilhar, como sociedade, pelos próximos 25 ou 50 anos. Por outro lado, preservar não é tombar e renovar não é jogar tudo abaixo. Ocorre que, neste momento, não sinto que estejamos prontos para discernir tais coisas com facilidade; entretanto, acredito e rogo para que este tempo esteja próximo!”, declara.

Para o ator, a cena foi considerada “inocente” na época em foi ao ar na Globo. “Talvez não conhecêssemos a história, as relações de causa e efeito, e a inocência prevaleceu”, analisa. Em 1998, Barillari tinha 25 anos e Bruno Gradim, 18. O intérprete de Barrão também reconhece a falta de discussão sobre o tema e comemora o avanço do pensamento antirracista.

Bruno Gradim e Alexandre Barillari em Malhação 1998
Bruno Gradim e Alexandre Barillari em Malhação 1998

“Incrível isso. Genial, parabéns! Tomar essa atitude agora é uma evolução louvável. Para mim, uma grata surpresa. Eu não me lembrava, mas agora me lembrei de nós nos maquiando quando montamos a banda e houve o blackface. Em outra cena, nos vestimos de drag queens”, relembra. Ele considera importante discutir entre a comunidade negra se a exclusão da cena é melhor do que exibi-la como forma de conscientizar a audiência.

“Não há como julgar o Viva. Pelos tempos de hoje, tem que cortar sim. Não me sinto censurado em nenhum milímetro, mesmo sabendo que existe essa discussão sobre o tempo da obra. Acho que correções são necessárias. Do meu ponto de vista, não me fere como artista em absolutamente nada ter uma cena minha cortada se for completamente fora de contexto para os dias de hoje. Como sociedade, é um ganho para nós”, afirma.

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