Todos os furos

Festival de absurdos, Todas as Flores começou prometendo tudo e terminou entregando nada

Novela de João Emanuel Carneiro parecia promissora, mas ficou marcada por uma série de incoerências

Publicado em 01/06/2023

Depois de duas partes e uma exibição ao vivo dos dois últimos episódios, a novela Todas as Flores chegou ao fim. A segunda trama feita para o Globoplay começou prometendo tudo, mas terminou entregando nada.

Festival de absurdos, a produção de João Emanuel Carneiro deixou muita gente animada em seus primeiros capítulos. Diversas pessoas queriam que a obra fosse exibida no horário nobre da Globo, no lugar de Travessia, que estava em baixa na época.

Entretanto, a melhor decisão da Globo foi deixar a novela no streaming. Se a primeira parte animou, a segunda foi repleta de incoerências, direção equivocada, personagens mal aproveitados, texto pouco inspirado e situações ridículas.

Protagonistas de Todas as Flores, novela do Globoplay
Protagonistas de Todas as Flores, novela do Globoplay

A vingança que não aconteceu

Maíra (Sophie Charlotte) comeu o pão que o diabo amassou na primeira parte de Todas as Flores. Foi alvo fácil das vilãs Zoé (Regina Casé) e Vanessa (Letícia Colin).

Por conta de tanto sofrimento, deu um golpe de mestre ao se passar pela irmã para pegar uma bolada em dinheiro da mãe e usá-lo para fazer uma cirurgia. Assim, recuperou parte da visão e prometeu se vingar das duas.

A vingança, tão aguardada e anunciada como o grande momento da segunda parte da trama, não aconteceu. Ao contrário: Maíra emburreceu. Em vez de fingir que ainda era cega para descobrir os podres das vilãs, virou alvo fácil delas. Chegou até a cometer crime ao comprar crianças de Galo (Jackson Antunes), mas não pagou por isso e nem por fugir da cadeia.

Para coroar tanta lerdeza, ainda caiu no papo de Zoé e Vanessa no último capítulo da trama. Se não fosse a mãe confessar seus delitos, Maíra mofaria na cadeia facilmente.

Zoé, aliás, foi a melhor personagem da novela, bem defendida por sua intérprete. Letícia Colin também teve bons momentos, embora tenha passado do tom em muitas cenas. Sophie Charlotte tirou leite de pedra com uma mocinha mal escrita. Já a quarta protagonista, Judite (Mariana Nunes), não teve nenhum grande momento.

Sophie Charlotte, Regina Casé e Letícia Colin em cena de Todas as Flores
Sophie Charlotte, Regina Casé e Letícia Colin em cena de Todas as Flores

Festival de absurdos

Toda novela é marcada por situações incoerentes, nada beira a perfeição. Mas quando passa do limite, fica difícil defender. Todas as Flores, assim como Travessia, também contou com situações difíceis de engolir, desde a primeira fase.

Já a segunda parte parece que foi escrita às pressas, com um roteiro cheio de furos. Muitas cenas foram marcadas por momentos desconexos, como a invasão da fazenda e a descoberta do esquema de tráfico humano.

Além disso, diversos personagens perderam relevância ou foram mal aproveitados, como Mauritânia (Thalita Carauta), um ícone que encantou o público no começo da novela; Jéssica (Duda Batsow), que sumiu após ficar grávida, e Patsy (Suzy Rego), uma figura que merecia melhores sequências.

Isso sem contar as tramas paralelas péssimas, para não dizer vergonhosas e sem necessidade nenhuma para a trama, coroando aquilo que todo mundo já percebeu: João Emanuel não é bom nisso.

Fato é que Todas as Flores ganhará exibição na TV aberta no segundo semestre. Com uma boa edição, pode agradar o grande público. É uma novela popular, clichê e serve para entreter. Mas, no geral, é uma obra pouco memorável, arrisco a dizer, a pior do autor.

As informações e opiniões expressas nesta crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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