Crítica de TV

Um Lugar ao Sol virou um poço de infortúnios

Novela das 9 deixa o fã de um bom folhetim em desespero com a falta de felicidade e romance

Publicado em 05/01/2022

Os diálogos são bons, os atores são ótimos, mas a despeito do seu título, Um Lugar ao Sol é uma novela que vive nas sombras.

Como assim uma história tão boa de uma autora talentosa como Lícia Manzo não decola?

Há algumas hipóteses possíveis para novela não emplacar no Ibope – uma estreia mal divulgada, muitas alterações no seu horário de exibição, falta de apelo popular no enredo.

Como se não bastasse, nos últimos capítulos, principalmente desde o período das Festas do final de ano, a novela tem sido uma sequência de infortúnios.

A bem da verdade, desde o início a trama não pega leve com nada.

Tudo é difícil, dolorido, na vida dos personagens, sejam eles ricos ou pobres.

Assim também é a vida, alguém pode argumentar, lembrando que novela precisa refletir a realidade.

Nem tanto. Telenovela não é documentário, não precisa reproduzir o que já vemos diariamente nos noticiários.

Mais: nos últimos tempos de pandemia, o mundo inteiro tem buscado entretenimento em televisão.  

Daí vemos o sucesso das novelas com temas universais como as da Turquia, shows de auditório divertidos como The Masked Singer e seriados com temáticas escapistas como Emily em Paris ou La Casa de Papel.

Um Lugar ao Sol, como diria Tim Maia em sua fase “Racional“, é um universo em desencanto.

Infortúnios

O Christian/Renato de Cauã Reymond é um personagem muito cheio de nuances, falhas de caráter que se avolumam conforme a história avança.

De menino pobre e órfão criado em abrigo até assumir a farsa que é a identidade do seu irmão gêmeo rico, seu encanto desmoronou.

Juan Paiva, num trabalho louvável de ator, encarna um personagem nada admirável.

Ravi (Juan Paiva) em Um Lugar ao Sol
Ravi (Juan Paiva) em Um Lugar ao Sol (Reprodução/TV Globo).

Ravi é um poço de ingenuidade e desgraças, que ninguém quer ser igual.

Sua jornada de herói se perdeu num encadeamento de situações de muito azar, alguma ingenuidade e um tanto de burrice.

A trajetória de Ravi desenhada pela autora parece inspirada naqueles personagens trágicos da mitologia grega.

Com Ravi, fica sempre a impressão de não haver o que se possa fazer para modificar um destino já definido para dar errado.

Muito da dura realidade do personagem é provocada pelas suas próprias escolhas, a saber: a detestável personagem Joy (Lara Tremouroux).

Tampouco temos uma mocinha para torcer na história.

A Bárbara vivida pela excelente Alline Moraes é cheia de defeitos. Nas redes sociais, ninguém torce por ela.

Lara, a mocinha prevista no script (interpretada pela também ótima Andreia Horta), infelizmente não atrai torcida em peso.

Faltam à personagem qualidades desejáveis a uma estrela absoluta de novela: energia, carisma, atitude, imponência, força.

Ela vive um casamento que não convence e pra ajudar acabou flagrada pelo marido em situação complicada com Christian, provocada, imaginem só, por um violento assalto à mão armada!

Restam então coadjuvantes que geram muito burburinho nas mídias sociais e comentários sobre assuntos da novela.

A Rebeca de Andréa Beltrão atrai muito mais pelo carisma da atriz e seu privilegiado tratamento de estrela da novela.

Seu drama de mulher rica, madura e traída que não consegue se resolver, nem superar a inveja da juventude da própria filha, é um tanto forçado para personagem tão descolada.

Ultimamente, o foco parece ser tentar emplacar a atriz como embaixadora de alguma marca de cosmético na vida real.

Sua melhor amiga, Ilana (Mariana Lima), feliz pela desejada gravidez, agora se depara com uma situação de risco envolvendo gêmeas.

Paixão de Rebeca, o jovem Felipe (Gabriel Leone) não consegue levar adiante a relação e ainda tem de lidar com a ficante/namorada novinha e a mãe alcoólatra (Denise Fraga).

O Santiago de José de Abreu desperta simpatia pelo único casal feliz que há na trama, além das boas cenas com o enteado.

Noca (Marieta Severo) parecia uma figura divertida, até que se aproveitou de um doente terminal para decolar um empreendimento a partir de uma herança. Tomara que ela se redima com a busca pelo filho que lhe foi roubado.  

Enfim, com tanta história triste e sem galã, mocinha e sem nenhum casalzão pra se torcer de verdade, falta motivação para um fã de novela tradicional.

Só nos resta, é claro, a cada dia odiar ainda mais o Chris e o que ele fez de sua vida.

** Informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de sua autora e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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