Entrevista

Nova Gaivota, Laura Londoño analisa explosão de “Café” no Brasil: “Gênero telenovela não é algo obsoleto”

Atriz converteu-se em popstar colombiana ao assumir protagonismo no clássico de Fernando Gaitán

Publicado em 21/02/2022

Expoente da atuação na Colômbia, Laura Londoño hoje é, sem dúvida, um dos nomes mais reverenciados da cena artística na América Latina. Com um currículo repleto de grandes trabalhos ao longo dos últimos anos, entre eles Sin Senos No Hay Paraiso e La Ley del Corazón, a artista (e agora também cantora) tem se projetado mundialmente desde recebeu a missão de encarnar uma das personagens mais emblemáticas da história da teledramaturgia latina.

Na releitura do clássico Café com Aroma de Mulher, Londoño é Gaivota, papel que deu a Margarita Rosa de Francisco em 1994 status de estrela internacional das telenovelas a nível Thalía, Gabriela Spanic, Ana María Orozco e Taís Araújo.

Produzida pela RCN e Telemundo (EUA) em 2021, o melodrama ganhou ares sofisticados e de superprodução, mas sem perder a essência do gênero. No mês de dezembro, para a surpresa de muitos “Café” entrou para o catálogo da Netflix, a gigante do streaming, com um alcance exponencial em números superando lançamentos originais da plataforma.

Laura Londoño vive Gaivota em Café com Aroma de Mulher (Divulgação: RCN - Telemundo)
Laura Londoño vive Gaivota em Café com Aroma de Mulher Divulgação RCN Telemundo

“Café” alugou espaço no TOP 10 e fez atores e a história se popularizarem ainda mais. No caso de Londoño os números são ainda mais impressionantes. A atriz de 34 anos que acabou de dar à luz a sua segunda filha (Mikaela, irmã de Allegra) frutos do seu relacionamento com o empresário Santiago Mora, superou a casa dos 2 milhões de seguidores no Instagram e figura no topo do ranking de buscas do Google.

Embora a fama e uma carreira consolidada na Colômbia, Laura Londoño nunca antes tinha vivido algo parecido. Em sua primeira entrevista ao Brasil, com exclusividade à coluna, a nova popstar das telenovelas latinas abriu o coração e falou sobre os temas que cercam a produção, inclusive a parceria tão falada com o cubano William Levy.

Locações, experiências e bastidores

Café com Aroma de Mulher teve gravações em Manizales, cidade que faz parte da região montanhosa do café no oeste da Colômbia. A capital do departamento de Caldas está localizada logo acima da Cordilheira Central dos Andes, perto do Nevado del Ruiz.

Laura diz que foi um presente poder trabalhar em locações tão lindas como a de “Café” e que para fazer o workshop para assumir Gaivota precisou ser infiltrada entre trabalhadores rurais e coletores.

Laura Londoño nas locações de Café com Aroma de Mulher (Reprodução: Instagram)
Laura Londoño nas locações de Café com Aroma de Mulher Reprodução Instagram

Antes de começar a gravar eu fui com a minha filha [que na época tinha 1 aninho] no ombro e com meu esposo. E fui submetida em uma fazenda cafeeira. Onde o ator que fez o Aurélio [Andres Toro] era dono. Ele é super lindo, generoso, me abriu as portas da fazenda e me apresentou a todos os trabalhadores, me levava camuflada para trabalhar com os cafeicultores e mostrar como era tudo.

É um trabalho muito duro, porque você sabe: existe uma diferença territorial entre Brasil e Colômbia que são as montanhas altas. E como chove bastante é pantanoso, escorregadio, então com uma mão você segura para não cair com a outra você trabalha (risos).

Foi lindo, e agora vendo ‘Café’ eu vejo como eu estava magra. Mas me recordo que Gaivota é uma mulher que não ficava quieta, todas as cenas eram: sobe a montanha, desce montanha. Então, era fisicamente muito exigente. Agora eu vejo e digo: ‘Ufa, eu estava cansada“, relembra a atriz.

William Levy e Laura Londoño em promocional de Café com Aroma de Mulher (Reprodução: RCN - Telemundo)
William Levy e Laura Londoño em promocional de Café com Aroma de Mulher Reprodução RCN Telemundo

Sobre o fenômeno que a trama se converteu instantaneamente, Laura aponta para o amor que os latinos tem com o gênero melodrama, que para ela nunca será abandonado. “Somos muito bons, as pessoas gostam a nível mundial disso que fazemos com nossas novelas.

Há alguns anos estávamos deixando de focar nisso e olhando mais para outras industrias, outros formatos e narrativas como as dos Estados Unidos com as séries.

Querendo ou não nos nutrem, nos inspiram e nos levam a fazer outras coisas. Mas parece que estamos retomando algo ainda mais forte, que são as telenovelas e incluindo outras formas de fazer, outra ótica, algo mais de cinema e séries, mas resgatamos aquilo em que somos bons, nosso gênero, nossas historias e nossas maneiras de contá-las.

E veja que o resultado sempre gostam, não é uma coisa que está obsoleta, que está velha, que ninguém gosta mais, não! As telenovelas seguem movimentando, se fortalecendo e emocionando bastante.

Confira a entrevista completa com Laura Londoño, também em vídeo no canal do Observatório da TV no YouTube – aproveite e se inscreva para ficar por dentro de todas as novidades e outras entrevistas!

CS – Laura, seu visual está bem diferente do que vimos na novela. A que se deve a transformação?

LL – “É uma mudança que fiz depois de terminar a novela. Às vezes uma mudança de look é importante para sair um pouco da personagem.

[Agradecimento] Que alegria sentir todo o carinho que existe por parte de vocês no Brasil sobre essa novela, por Gaivota, por todo o elenco de Café, pela história. Estou absolutamente muito agradecida, encantada por me conectar com vocês. Eu amo seu idioma, quem me dera pudesse entender tudo.”

CS – Café com Aroma de Mulher está lhe proporcionando uma troca muito grande com fãs de países diferentes. Te surpreende a recepção do público com esse trabalho?

LL –Eu cai em conta com o tempo que tudo isso gerou uma comunicação onde todas as pessoas que estão vendo ‘Café’ e tem gostado me escrevem. Me parece super lindo e muito curioso que está gerando um diálogo sem nenhum impedimento, sem nenhuma barreira.

Elas dizem o que pensam, expressam seu carinho, me agradecem, tudo acontece nas conversas e nunca pensam se eu vou entender o idioma ou não e a mim tampouco. Nunca parei para pensar: ‘Opa, porque essa pessoa está me escrevendo em outro idioma sendo que eu não a conheço?’.

Simplesmente se gera um diálogo e caio em conta depois: ‘Olha, estou entendendo o português perfeitamente e eles estão entendendo o meu espanhol perfeitamente’. Sendo assim, não tem nenhum impedimento.

Quando você expressa todo seu sentimento do que te produz a emoção, a felicidade e o amor, isso é um idioma em si mesmo. E eu agradeço sempre e sempre me entendem. Pouco a pouco vamos aprendendo os dois idiomas, tanto vocês como eu.

Laura Londoño pelas lentes do fotógrafo Gabriel Archangel (Foto: Gabriel Archangel)
Laura Londoño pelas lentes do fotógrafo Gabriel Archangel Foto Gabriel Archangel

CS – Você sofreu pressão das pessoas, da mídia ou até mesmo da produção da novela ao pegar para si o desafio de ser a Gaivota?

LL – “‘Café’ é uma das maiores aprendizagens da minha carreira de atriz – enfrentar isso, de uma personagem que significa tanto para tanta gente … posso dizer que ‘Café’ faz parte do nosso patrimônio cultural na Colômbia. E ela faz mais de 30 anos que foi feita, deu a volta ao mundo, é uma história muito poderosa, muito forte.

E hoje em dia segue igual. Veja só o que ela está causando. Enfrentar um personagem assim, que foi feito há tanto tempo, de uma maneira tão bonita pois ela gerava muitas expectativas. E as pessoas falavam um monte antes de começarmos a gravar.

Se comentava: ‘Veja, ela vai fazer ‘Café”, ‘Que bom que fazer vai ‘Café”, ‘Não, que horror’, ‘Vai ir super bem’, ‘Ah não, vai ser terrível’. tinham muitos ruídos, muitos comentários, muitas opiniões, e isso me fez rapidamente me dar conta de que eu estava enfrentando algo diferente e precisei fazer um exercício de concentração para fechar na minha bolha e a trabalhar pelas mãos dos diretores, dos companheiros, do elenco onde você se submerge nesses textos para a partir de então poder alcançar esse personagem com o que você tem.

Isso é uma nova versão, não é um remake, veja que mudou muito da versão original. Mudou por duas razões fundamentais: a primeira é pelo elenco. Todos do elenco dissemos: ‘Vamos deixar a primeira versão, não vamos assisti-la’.

Longe de querer uma referência, isso poderia nos colocar uma camisa de força onde tentar imitar o outro ator ou outra atriz não permite você criar livremente desde o que você tem, pois éramos um elenco totalmente diferente e tínhamos coisas distintas a mostrar.

E também mudou porque é uma adaptação de algo que foi há 30 anos, as coisas mudaram muito. E se tem algo que mudou é o foco das mulheres.

Essa é uma história super feminina, onde as mulheres são quem tem o comando de tudo, são mulheres da Colômbia mas que podem se identificar com elas em qualquer parte do mundo – uma mulher guerreira, uma mulher trabalhadora, forte e cheias de equívocos também. Acho que é isso que fez com que tantas pessoas gostem.”

CS – Café com Aroma de Mulher discute temas sociais de grande importância como a classismo, racismo, homossexualidade e outros. O que você pensa sobre o papel social que a telenovela cumpre hoje em dia?

LL –Essa é uma das coisas que chama a atenção. É uma história foi escrita há mais de 30 anos. Esses temas já tocavam lá atrás, imagina que ainda são temas? Ainda estamos amarrados a eles, ainda são temas e precisamos de uma mudança para que não sejam mais.

Estamos acostumados a viver com essas coisas, nossos sistemas de valores estão invertidos. Vemos uma família que tem toda uma questão de machismo, diferença de classe social, racismo, homofobia e vemos uma personagem que é chamada de gorda do começo ao fim da novela.

É uma quantidade de coisas que estamos vendo com uma lupa e precisamos dizer: ‘Ei, espera aí, isso está inserido como parte do nosso dia a dia, presente em nossa vida e não está bem. É uma chamada de atenção a todos, é hora de cortar pela raiz essas coisas.

Laura Londoño canta todas as faixas da trilha sonora de "Café" (Reprodução: Telemundo-RCN)
Laura Londoño canta todas as faixas da trilha sonora de Café Reprodução Telemundo RCN

CS – A música é um elemento forte em “Café”. Você tinha dimensão da sua potência vocal? Como foi essa experiência?

LL –Isso foi algo super bonito, sempre gostei de cantar e sempre gostei da musica, mas nunca fiz isso profissionalmente, nunca tive um personagem que me exigisse cantar. A parte de gravar tínhamos que ir aos estúdios de gravação e onde fazíamos todas as canções.

Quando prontas e lindas, fazíamos as cenas com a dublagem. Pra mim foi um exercício, foi meu presente de ‘Café’, além do que as canções são divinas. Fico me perguntando se realmente cai melhor tomar um café uma uma aguardente.

Eu não sabia [do potencial vocal], eu tive que ter aulas e aulas de confiança a mim mesma. É um gênero difícil a Ranchera, mas foi incrível, eu tenho vontade de seguir cantando.

Fernando Gaitán, criador de Café com Aroma de Mulher

Tive o prazer de conhecê-lo e sempre se comportou com uma especie de padrinho comigo. Foi defensor do meu trabalho, da minha carreira, sempre lutou por mim. Trabalhei na RCN desde sempre e ele era encarregado do conteúdo, formação de casting, sempre foi uma pessoa muito especial comigo, sempre confiou muito em mim. E o que me faz enormemente feliz é saber que de alguma maneira temos essa conexão que segue e que ele estaria feliz de saber que Gaivota veio para minhas mãos. Ele sempre foi muito especial.

Laura Londoño e William Levy

William Levy e Laura Londoño em cena de Café com Aroma de Mulher (Reprodução: RCN - Telemundo)
William Levy e Laura Londoño em cena de Café com Aroma de Mulher Reprodução RCN Telemundo

Nossa relação vai muito bem, tenho que dizer que não falamos já tem um tempo. Eu gostei muito de trabalhar com ele. Aprendi muito, é um homem que todas se derretem e morrem de amores e posso dizer que vários também. Mas realmente ele é como um menino.

É divertido, porque todas as conversas que ele tem…ele adora uma piada, ele é péssimo contando piadas, mas a gente morria de dar risada. Eu aprendi muito porque ele vem de uma escola diferente, uma maneira de fazer as coisas, de uma industria muito maior que a nossa, mas foi lindo porque estávamos todos com uma grande equipe, ele foi muito solícito.

A princípio não foi muito cômodo para ele porque sentia dificuldade com o sotaque. Ele não entendia e isso o deixava um pouco nervoso, mas depois ele ficou à vontade, mais confortável, estava em casa. Ele dizia que há tanto tempo não estava tão em paz, rodeado de montanhas, gravando. Mas foi super lindo gravar com todo o elenco.

Assista a entrevista com Laura Londoño!

SIGA ESTE COLUNISTA NAS REDES SOCIAIS: INSTAGRAM E TWITTER

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade