Crítica

Marisa Orth e Tânia Bondezan driblam problemas da matriz e valorizam a comédia Radojka

Sob a direção de Odilon Wagner, montagem tem premissa mais interessante do que o texto dá conta

Publicado em 28/03/2024

Escrita pelos autores uruguaios Fernando Schmidt e Christian Ibarzabal, a comédia Radojka é obra de premissa pouco óbvia. Uma dupla de cuidadoras guarda em segredo a morte da idosa pela qual eram responsáveis para conservar seus empregos. Daí se estabelecem situações que navegam pela comédia de tom sardônico e pelo nonsense.

Bebendo da fonte dos antigos suspenses bem humorados, como o clássico Arsênico e Alfazema, do norte americano Joseph Kesselring (1902-1967), Radojka tenta fincar parte de seu humor no caráter duvidoso das personagens e no absurdo de seus atos, estabelecendo um jogo de gato e rato entre as duas protagonistas.

Montado em mais de 10 países, Radojka chegou ao Brasil em 19 de março com o subtítulo Uma Comédia Friamente Calculada como forma de auxiliar o público a se ambientar na proposta da montagem em cartaz no Teatro Faap dirigida por Odilon Wagner e estrelada por Marisa Orth e Tânia Bondezan. Funciona. 

A produção arranca risadas da plateia a partir da proposta nonsense que é valorizada, principalmente, pelo jogo de cena entre as atrizes. Enquanto Orth nada de braçada no humor mau humorado e autodepreciativo proposto pelo texto, Bondezan busca registro mais solar, fazendo de sua personagem um retrato quase pueril da crueldade influenciável.

A comédia resulta divertida, embora, a rigor, nunca avance naquilo que se propõe. O primeiro terço do espetáculo é mais ambicioso do que o desenvolvimento dramatúrgico dá conta, optando por caminhos óbvios e até pueris. Embora isso jamais afete o desempenho da dupla de atrizes, também pouco adiciona a seus currículos.

Isso porque tanto Marisa Orth quanto Tânia Bondezan vêm de dois títulos marcantes em suas carreiras. Se Orth se desafiou na tragicomédia do solo Bárbara tratando do alcoolismo a partir das memórias da jornalista Bárbara Gancia, Bondezan navegou longe do melodrama folhetinesco proposto por A Golondrina, discutindo com fineza e sensibilidade a homofobia a partir do atentado terrorista à boate Pulse, em Orlando, na Flórida (EUA).

Radojka é espetáculo de entressafra que, embora divertido, se ressente do fato de os autores não parecerem capazes de desenvolver com inventividade suficiente sua excelente premissa. Esse problema da matriz deixa por espaço para que a direção de Odilon Wagner proponha passos mais desafiadores, resultando conservadora, ainda que bastante eficaz.

Seguindo esse padrão, resultam conservadoras também as escolhas do desenho de luz de Ney Bonfante, da trilha de Jonatan Harold e da cenografia de Chris Aizner – que se impõe pela grandiloquência.

É claro que, a rigor, Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada resulta eficaz, principalmente por contar com a força de Marisa Orth e Tânia Bondezan, garantindo aquilo que promete ao público, uma comédia divertida e despretensiosa, ainda que se ressinta de desenvolvimento mais ambicioso para uma premissa que é mais interessante do que o texto deixa transparecer.

COTAÇÃO: * * * (BOM)

SERVIÇO

Radojka – Uma Comédia Friamente Calculada

Data: 19 de março a 23 de maio (terça a quinta)

Local: Teatro FAAP – r. Alagoas, 903, Higienópolis, região central

Horário: 20h

Preço do Ingresso: R$ 60 (meia) a R$ 120 (inteira)

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