Causou espanto o cancelamento precoce da série O Clube das Babás (2020-2021), aclamada comédia teen da Netflix. Apesar da repercussão positiva das duas primeiras temporadas, a gigante do streaming resolveu acabar com a série. O agravante é o fato de a empresa usar como justificativa o algoritmo da plataforma, que pela frieza dos números falha ao não traçar a importância e o impacto real de uma atração.
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Está evidente que a decisão da Netflix de renovar ou não uma série tem como base os dados de audiência. E nesse aspecto O Clube das Babás não foi tão bem em comparação com a concorrência caseira.
Os oito episódios da segunda temporada só entraram uma vez no top 10 semanal divulgado pela Netflix: nona posição na semana da estreia. Já no levantamento da Nielsen, o Ibope americano, a atração não apareceu na lista das mais vistas.
Contudo, esse público seria suficiente para acompanhar a série por mais temporadas, como fora no passado. E isso sem contar a aceitação da crítica especializada.
No site Metacritic, que compila reviews da imprensa de língua inglesa, O Clube das Babás ganhou a excelente nota 87 (de 100), carimbada com o selo de série imperdível. E no Rotten Tomatoes, a avaliação foi de 100%.
O erro do algoritmo
Cada caso é um caso. Assim a Netflix deveria analisar a performance das atrações do catálogo. Determinar o futuro de séries somente pela audiência é cruel (e errado).
A situação de O Clube das Babás é emblemática e ilustra bem esse equívoco. Uma série voltada ao público pré-adolescente não terá números insanos de visualizações após a estreia de uma temporada, pois os pais controlam as horas passadas na frente da TV. Logo, todos os episódios não serão consumidos desenfreadamente tal qual ocorre com produções adultas, tipo a recente Vikings: Valhalla.
O Clube das Babás não se caracterizou por ser atração que atrai novos assinantes, outro fator decisivo para a Netflix justificar cancelamentos.
As séries altamente populares, de Bridgerton a The Crown, são chamariz de clientes. Porém, elas dominam a Netflix e sufocam as atrações menores. Caso as produções coadjuvantes sejam lançadas em semanas próximas aos grandes títulos, vão sofrer para conquistar audiência.
E O Clube das Babás provou desse veneno porque a segunda temporada chegou em 11 de outubro do ano passado, na cola de séries com alcance gigantesco soltadas em setembro, tipo La Casa de Papel (2017-2021), Lucifer (2016-2021), Sex Education e Round 6.
Isso provocou mais um problema. Muitos assinantes sequer souberam do lançamento dos novos episódios de O Clube das Babás, pois esse quarteto de séries dominou o marketing da Netflix e a interface da plataforma. Dessa forma, a série teen ficou escondida.
Cortante e calculista, a Netflix expôs o quanto pode ser vil com as próprias atrações, levando em conta a frieza dos números. Esse modelo precisa mudar, sem necessariamente desconsiderar a audiência, que é sim importante. Entretanto, é preciso fazer um diagnóstico mais profundo antes de cancelar qualquer série.
O Clube das Babás era um oásis na TV e tinha potencial de render muito (trocando de personagens a cada três temporadas, por exemplo). Baseada na coleção homônima famosa de livros, a trama narrou histórias bonitas e puras, sem sexualizar ou infantilizar o grupo de pré-adolescentes protagonistas.
E a Netflix desperdiçou um ótimo produto. No mínimo, a fortuna feita pelas atrações arrasa-quarteirões poderia muito bem bancar séries de nicho como O Clube das Babás, mesmo estas não gerando lucro. ⬩
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