edição especial

Elenco e equipe falam de Sob Pressão – Plantão Covid

Série mostra os profissionais que estão na linha de frente no combate ao coronavírus

Publicado em 30/09/2020

Nesta terça-feira (06), a Globo lança uma temporada especial da aclamada série Sob Pressão. Em dois episódios, Sob Pressão – Plantão Covid vai colocar Dr. Evandro (Julio Andrade), Dr. Carolina (Marjorie Estiano) e os conhecidos personagens da série na linha de frente do combate ao coronavírus, atuando num hospital de campanha.

Os novos episódios trazem de maneira ainda mais expressiva a visão da equipe médica sobre o problema, mostrando que por trás das máscaras existem profissionais de saúde atuando sob pressão, arriscando seus sonhos e até mesmo a própria vida em prol do outro. Os capítulos foram idealizados como uma homenagem a todos que atuam na linha de frente contra a doença que vem assolando o mundo.

“Não tive dúvidas de que a gente tinha que colocar a pandemia, essa crise sanitária, na nossa história, exatamente pela conexão e pelo diálogo que a série tem com a realidade. E, principalmente, porque isso faz com que o público tenha um olhar diferenciado para esses profissionais de saúde. Foi nisso que nos debruçamos de alguma maneira: permitir que o público sinta a experiência de quem atua na linha de frente do combate ao vírus. Tentamos trazer a possibilidade de ressignificar um pouco nossa visão através de uma doença. O que a pandemia permitiu em larga escala, para o mundo, a gente faz no nosso grãozinho, com a série”, conta o autor Lucas Paraizo.

Andrucha Waddington, diretor artístico da obra, explica que para a edição especial foi feito um recorte dos meses de abril e maio – o segundo e terceiro mês da pandemia, no Brasil. “Estamos retratando como foi há pouquíssimos meses. Um passado tão recente que ainda está totalmente ligado aos nossos dias atuais”, explica.

Para ele, ao usar a saúde como elemento condutor para a dramaturgia, é possível abordar muitos assuntos. “O tema saúde é muito curioso: as histórias sociais entram de ambulância na ficção e ali há uma catarse, com os assuntos sendo expostos, capazes de mostrar todas as feridas abertas. Em Sob Pressão, ainda estamos em um hospital público, local que quebra qualquer parede social”, afirma.

Após um período em missão humanitária no interior do Brasil, Carolina (Marjorie Estiano) e Evandro (Julio Andrade) são convocados a voltar ao Rio de Janeiro. A dupla de médicos de Sob Pressão é chamada às pressas pelo doutor Décio (Bruno Garcia) para trabalhar em um hospital de campanha no Rio de Janeiro, montado para atender aos pacientes infectados pela Covid-19.

Nos dois episódios, são contadas histórias de pacientes enfrentando o vírus desconhecido e os dramas pessoais e profissionais de Carolina, Evandro e da equipe médica formada por Décio, Charles (Pablo Sanábio), Vera (Drica Moraes), Keiko (Julia Shimura) e Rosa (Josie Antello), além dos recém-chegados à equipe, o neurocirurgião Mauro (David Junior) e a enfermeira Marisa (Roberta Rodrigues).

Além da trama em torno do que se passa no hospital de campanha, Sob Pressão – Plantão Covid também vai mostrar um pouco mais do passado de Evandro e como nasceu sua vocação para salvar pessoas. Em forma de flashback, o personagem se revê há 20 anos, com sua mãe, Penha (Fabiula Nascimento).

As cenas revelam os motivos que o fizeram se tornar médico e sua admiração pelo doutor Samuel (Stepan Nercessian), grande amigo e principal motivador na carreira – o personagem faleceu na segunda temporada da série. O jovem Evandro é vivido pelo ator Ravel Andrade, irmão de Julio na vida real.

Entre os pacientes de Sob Pressão – Plantão Covid estão os atores Marcos Caruso (Seu Augusto), Kelzy Ecard (Neide), Marcello Melo Junior (Gilmar), Heslaine Vieira (Daiane), Luellem de Castro (Gilda) e Francisco Rocha (Zé Pedro).

O elenco fala

Elenco de Sob Pressão - Plantão Covid
<em>Sob Pressão Plantão Covid<em> divulgação

“Sob Pressão é uma obra de dramaturgia que cumpre a missão não só de entreter, mas também de conscientizar e aproximar realidades”. É assim que a atriz Marjorie Estiano define a série.

“É um exercício muito grande para mim ler a realidade e interpretá-la na ficção. Amo todos os aspectos de Sob Pressão, mas o lugar da série que mais gosto é quando ela aponta a esperança. E a edição especial traz, sim, pinceladas de esperança que dão algum conforto. Essa obra tem essa relevância de tentar informar e conscientizar através da proximidade que a dramaturgia traz, entrando na casa das pessoas, mostrando a intimidade dos casos, nomes, relações, personalidades”, reflete a atriz.

Interpretar um médico é, para Julio Andrade, de extrema importância em sua trajetória profissional. “Sob Pressão me dá a chance de viver temas fundamentais para a sociedade. Para a edição especial, fizemos um recorte da pandemia e estamos contando a história de profissionais de saúde e pacientes que, na minha opinião, são de utilidade pública. Trazemos muitas coisas que precisam ser ditas e que estamos, através da ficção, sublinhando”, conta.

Para ele, este é, historicamente, um período desafiador, principalmente para a medicina. “Por isso Evandro precisava estar neste momento, atuando na pandemia. Fazer esses dois episódios me fez viver ainda mais intensamente o assunto”, afirma.

O realismo da série é, para Bruno Garcia, um dos pontos mais altos do projeto. “Sob Pressão tem essa característica da vida real. As surpresas acontecem na ficção, assim como acontecem na vida. A edição especial é, além de um retrato sobre como as coisas se dão no Brasil, também uma homenagem aos profissionais da área médica, que tem se dedicado, com suas vidas, a esse problema tão grave que é o coronavírus. É uma edição cheia de emoções”, revela.

Já o ator Pablo Sanábio lembra a emoção diária ao atuar em Sob Pressão – Plantão Covid. “Eu tenho muito orgulho de fazer parte de Sob Pressão, uma série de extrema importância porque é uma radiografia da saúde pública do nosso país. Atuar em um projeto como esse no momento em que estamos vivendo é se emocionar o tempo todo. Não houve um dia em que tenhamos gravado que eu não tenha me emocionado. Se não fosse ator, gostaria de ter me tornado médico, pois tenho uma enorme admiração por essa profissão tão importante”, conta o intérprete de Dr. Charles.

Nesses episódios especiais, a atriz Drica Moraes fez suas cenas de casa. “Quando soube que ia fazer remotamente cheguei a ficar um pouquinho triste, porque estar com aquela equipe e retomar ao trabalho neste momento seria maravilhoso. Por outro lado, me senti extremamente feliz por estar sendo tão bem cuidada pela equipe”, conta.

A atriz também faz questão de reforçar a importância dos profissionais de saúde. “Eles são os verdadeiros heróis desse país, sobretudo nesse momento em que estão na linha de frente, correndo risco de contágio diariamente, eventualmente, falecendo. Não tem como descrever a emoção de representa-los. Nosso sentimento é de querer acabar com as injustiças que existem no setor: que sejam bem remunerados, que os hospitais sejam bem equipados e que a população seja bem cuidada. Esta é, sem dúvida, a grande meta”.

Recém-chegados ao time, David Junior e Roberta Rodrigues destacam a alegria por estarem em Sob Pressão. Ele faz o neurocirurgião Mauro e Roberta interpreta a enfermeira Marisa. “Essa doença desestruturou um mundo inteiro. Na série, apresentamos o cotidiano de quem foi afetado pela Covid-19, desde os pacientes até os profissionais de saúde. Como artista, sempre admirei e quis participar de Sob Pressão”, fala o ator.

Roberta complementa: “Fico arrepiada quando falo sobre estar na família Sob Pressão, um programa que sempre assisti, um projeto com tanta verdade, potência, humanizado e com atores libertos da vaidade. Ali está a arte em sua pureza total. Foi um momento de felicidade durante a pandemia poder representar tantas Marisas, Evandros e Carolinas que estão por aí”, conta, emocionada.

Para a atriz, é extremamente relevante retratar o atual momento através da dramaturgia. “Acompanhamos e sentimos na pele tudo o que é falado na série. Além disso, estamos tendo a oportunidade de defender o SUS, com profissionais dedicados dando a vida para salvar outras pessoas”.

Julia Shimura destaca que todos têm pensado ainda mais sobre a saúde. “Este momento tem nos mostrado que a saúde pública é de todos nós. Em Sob Pressão – Plantão Covid estamos retratando a pandemia ainda com o furacão acontecendo, fazendo dramaturgia em cima do mais essencial que há nesse momento: a defesa da saúde pública e de valores humanos. Se por um lado é devastador, por outro joga luz sobre o que é realmente importante, e mostra a relevância dos profissionais que atuam no combate à doença”, fala a atriz, que interpreta a enfermeira Keiko.

Josie Antello, que dá vida à Rose, concorda: “Estamos mergulhados nessa questão, que virou nosso principal tema e pensamento. Contar essa história nesse momento é de uma importância extrema. Para nós, aqui fora, o coronavírus é um inimigo invisível. Para os médicos, é visível. O foco que o especial dá às histórias dos profissionais de saúde nos deixa emocionados. São pessoas que estão deixando suas vidas, suas famílias, e se colocando em perigo para salvar outras vidas. São heróis que estão lá, 24 horas por nós e por amor à profissão”.

Hospital de campanha

<em>Elenco de Sob Pressão Plantão Covid <em>divulgação

As gravações de Sob Pressão – Plantão Covid foram realizadas em agosto e mais de 90% das cenas acontecem em um hospital de campanha cenográfico, montado especialmente para esta edição. “Lidamos com nosso hospital de campanha como se fosse uma cidade cenográfica. Assim como os da vida real, que são tendas construídas em um estacionamento ou em um ginásio, fizemos o mesmo, nos Estúdios Globo, sem trair o DNA da série, que traz locações reais”, explica Andrucha.

Para ele, Sob Pressão tem a característica de se passar no ambiente médico, com a realidade incorporada à dramaturgia: “Recriamos o hospital de campanha e, dentro dele, trabalhamos como se estivéssemos realmente no enfrentamento, cara a cara com a Covid, só que sem ter o paciente doente”, conceitua.

Além do interior do hospital, a área externa da montagem também serviu como locação, conectando os ambientes, assim como acontece na realidade. “Dentro e fora, tudo valia como cenário, o que deixou o ambiente muito realista. A partir do momento que se consegue conectar o interior e o exterior com uma passagem direta, com a câmera na mão, em movimento, sentimos essa realidade muito mais presente”, conta Rafael Targat, cenógrafo e produtor de arte.

Mesmo mantendo a identidade realista – uma das fortes características do projeto – há mudanças. “Sempre tivemos locações mais detonadas, trabalhando em prédios mais antigos, que tivessem uma arquitetura com caráter forte. Sob esse ponto de vista, a edição especial está completamente diferente: estamos dentro de um lugar limpíssimo, branco, asséptico, quase um centro cirúrgico gigante. Considero essa a grande mudança cenográfica”, afirma Targat.

O hospital de campanha ocupou uma área de pouco mais de mil metros quadrados, com 32 leitos de enfermaria e 12 de CTI cenográficos. Targat conta que a equipe chegou a este número tendo sempre a realidade como referência.

“Como sempre fizemos em Sob Pressão, queríamos que tudo fosse o mais real possível. Até mesmo entre os objetos de cena. Os respiradores, por exemplo, foram confeccionados por um aderecista. Não fazia sentido termos respiradores em cena com tantos doentes precisando do equipamento”, conta.

Além da tenda que abriga o principal hospital da trama, algumas cenas também foram gravadas em estúdio e cidade cenográfica. “Reproduzimos uma parte do hospital de Cascadura, da primeira temporada, em estúdio, para as cenas de flashback, além da casa em que Evandro jovem vivia com a mãe e o apartamento de um dos pacientes infectados”, detalha.

Inspiração na realidade

O médico Marcio Maranhão levou toda a sua vivência no enfrentamento do coronavírus para a edição especial Plantão Covid. O cirurgião torácico é o autor do livro Sob Pressão – A Rotina de Guerra de Um Médico Brasileiro, que deu origem, inicialmente ao filme e, em seguida, às temporadas na televisão.

“Não só compartilho as histórias com os roteiristas, mas também ajudo em tudo que tem relação ao enfrentamento, mostrando como é o trabalho em um hospital de campanha, suas dificuldades, como se comportar frente a situações de emergência e como trazer essa experiência, que ainda vivo, com veracidade e sentimento, frente a situações, muitas vezes, trágicas”, descreve o médico consultor da série, que durante a pandemia atuou em hospital de campanha.

Junto aos roteiristas, Marcio Maranhão auxilia descrevendo corretamente situações médicas. No set de filmagem, durante as gravações, é ele quem orienta direção e elenco a utilizarem corretamente equipamentos hospitalares e na encenação de procedimentos de saúde, dando veracidade às ações.

“Meu papel é mostrar o comportamento humano dos profissionais de saúde que estão em campo e também trazer para o diretor e elenco questões muito técnicas em relação a como se comportar frente às situações. Analiso a parte estética, vejo se os ambientes se assemelham ao de um hospital de campanha e faço toda uma consultoria em relação à parte técnica. Em relação à dramaturgia, trago o que os médicos estão enfrentando e o que se passa dentro da gente: o medo, a ansiedade, a angústia, o desconforto. Medo não só por nós, por adoecermos, mas por adoecermos parentes, familiares e amigos. Convivemos também com o medo do adoecimento dos colegas de trabalho”, afirma.

Doutor Marcio conta ainda que teve encontros on-line com a equipe, antes do início das gravações, em que descrevia casos de pacientes que atendeu. “Essas histórias falavam muito sobre a pandemia, sobre mim e sobre o comportamento dos profissionais de saúde frente à essa doença que não se sabe a cura e se desconhece o tratamento. E o hospital é um ambiente frio, sem visitas, onde a vida fica meio em suspenso. Nós, que trabalhamos nele, passamos a ser, para os doentes internados, aquela pessoa frequente, que conversa, que visita. Além de ver a parte médica, a gente se coloca na dimensão do cuidar, do amparar, de atenuar o sofrimento e trazer algum conforto para esse paciente que está completamente afastado do convívio familiar. A coisa mais perversa nessa doença é que ela isola as pessoas”, relata.

Entrevista com o diretor Andrucha Waddington

Conta um pouco como foi realizar Sob Pressão nesse momento. Como foi driblar as adversidades para fazer a edição especial? Quais foram as soluções encontradas para que a obra possa ir ao ar?

Sob Pressão tem a característica de se passar no ambiente médico. Na edição especial, a pandemia está incorporada à dramaturgia, então a gente passa a estar 100% dentro do protocolo de segurança. Quando a pandemia começou, a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi que é possível fazer Sob Pressão nesse período, de forma segura. Como o assunto está dentro da dramaturgia, a gente não expôs ninguém ao risco. No caso dessa edição especial, recriamos um hospital de campanha e, dentro dele, trabalhamos como se estivéssemos no enfrentamento, cara a cara com a Covid, só que sem ter o paciente infectado. Estamos em um hospital cenográfico e isso faz com que essa obra seja possível de ser feita com segurança durante a pandemia.

Você acha que a forma de se comunicar com o mundo, a partir desse momento que estamos vivendo, vai mudar? As obras serão menores e com menos gente?

Sempre existiram obras pequenas, com pouca gente, e obras gigantescas. Acho que a gente está num momento de hibernação, de suspensão. Mas isso é algo pontual do momento. O entretenimento, especialmente a dramaturgia, o audiovisual, deu uma estagnada porque a dramaturgia depende das relações. Mas assim que a vida voltar ao normal, as histórias vão ter que voltar a ser contadas. E elas serão contadas com equipes pequenas, médias ou grandes, dependendo do que demanda a produção.

No seu ofício, como diretor, quais têm sido os aprendizados deste período?

Esse momento impôs um período sabático, onde todo mundo teve que se recolher. E quando a gente se recolhe, realmente repensa várias coisas. Mas a verdade era que eu estava louco para voltar a trabalhar. Só pensava nisso.

Antes da pandemia, falava-se em uma quarta temporada de Sob Pressão para este ano. No início do isolamento, chegou a se falar em incluir o tema coronavírus na temporada “convencional”. Como e por que surgiu a ideia de descolar a questão do vírus da temporada tradicional?

Isso se chama urgência em se fazer uma dramaturgia em cima do assunto, do que está acontecendo no momento. A gente tinha pensado em colocar a pandemia nos três primeiros episódios da quarta temporada. Nesse meio tempo, pensando em como voltar a trabalhar, surgiu a ideia de fazer algo rápido em cima do que está acontecendo no momento. Foi daí que surgiu a edição especial, o Sob Pressão – Plantão Covid: dois episódios de 40 minutos. Uma história com início, meio e fim.

Como foi o trabalho no set? Quais cuidados foram tomados para as pessoas que são primordiais durante as gravações se expusessem o mínimo possível?

Temos um protocolo de segurança onde se protegendo, estamos protegendo o outro. Quando a gente está dentro do estúdio gravando, está todo mundo dentro desses protocolos. A grande questão é o que se faz entre a saída do trabalho e a chegada no dia seguinte. Isso foi uma responsabilidade muito grande de cada um ali, porque cuidando de si, cuidamos do outro. Dentro do nosso protocolo de trabalho no set de gravação, a equipe inteira usou máscara, EPI, proteção, protegendo os atores que eventualmente estiveram sem máscara – o que, no caso de Sob Pressão, aconteceu em poucas cenas, porque estamos num ambiente de “campo de confronto”. Temos os atores que interpretam personagens doentes sem máscaras e os atores que são profissionais de saúde com máscara. Isso cria uma certa barreira entre eles. Mas de uma maneira geral existiu essa preocupação de estarmos trabalhando com muita segurança para não nos expormos.

Uma das características de Sob Pressão sempre foi ter locações externas. Isso mudou nessa temporada e até um hospital de campanha cenográfico foi montado para contar a história da edição especial. Como foi a construção desse espaço? Conta um pouquinho quais são as locações desse especial e como foi o planejamento para cada um deles.

A gente encarou o hospital de campanha como se fosse uma cidade cenográfica. Tudo ali está incorporado como uma locação, até a portaria dos Estúdios Globo onde o hospital foi montado. Não trai em nada o DNA da série, porque os hospitais de campanha reais são tendas construídas em um estacionamento ou em um ginásio. Fizemos igual aos construídos na vida real. No passado do Evandro, usamos também uma cidade cenográfica dos Estúdios Globo, com uma rua do subúrbio. E recriamos o Hospital de Cascadura, da primeira temporada, para trazer de volta o Dr. Samuel, em imagens de flashback.

Na sua opinião, qual a principal mensagem que esta edição especial passa?

Existe uma grande homenagem aos profissionais de saúde que estão na linha de frente, em primeiro lugar. Além disso, a gente tenta trazer uma mensagem de esperança de que esse momento vai passar e que, se a gente se cuidar e cuidar dos outros, ficaremos bem.

Entrevista com o autor Lucas Paraizo

Como surgiu a ideia de fazer uma edição especial de Sob Pressão?

Quando a pandemia começou, estávamos escrevendo a reta final da quarta temporada. Naquele momento, a gente resolveu esperar. Até que começamos a nos perguntar como abordaríamos a pandemia do coronavírus dentro da nossa história. Uma opção era colocar no começo da quarta temporada e a outra opção era fazer algo isolado. Optamos pela segunda, fazendo um especial. No momento em que decidimos por esses dois episódios, minha intenção como autor era tentar fazer duas coisas diferentes: ao mesmo tempo em que queríamos dar ao público o Sob Pressão, algo que eles conhecem, queríamos ousar com uma brecha temática – e uma edição especial nos possibilita isso ainda mais. Foi aí que decidimos usar o flashback, mostrando como Evandro decidiu ser médico. A segunda coisa importante para nós era nos distanciarmos do jornalismo. Queríamos dar um olhar diferente, levar uma visão mais humana, tendo um pouco mais de parcialidade na condução das histórias.

Sob Pressão retrata as questões da saúde pública do país. A cada temporada, temas relevantes são tratados e geram debate / ações de conscientização. A edição especial, além de tratar da pandemia da Covid-19, é também uma homenagem aos profissionais de saúde que atuam na linha de frente contra essa doença. Fala um pouco sobre isso?

Sob Pressão é uma série que facilmente incorpora os problemas da saúde pública do Rio de Janeiro e do Brasil. A série é caracterizada por isso. Muitas das histórias que vimos acontecer recentemente, colocamos dentro da trama. Era inevitável que fizéssemos isso quanto à Covid. No nosso hospital, a gente tem um pilar muito importante que são os familiares dos pacientes. Como os hospitais de campanha tem como característica não poder receber visita, de alguma maneira direcionamos nosso ponto de vista. Os pacientes são personagens, como sempre são, mas todos os profissionais de saúde têm história nesta edição especial, todos são protagonistas. Foi uma forma que encontramos de homenagear essas pessoas que trabalham, na vida real, no enfrentamento desse vírus. Jogamos uma lupa nesses personagens e encontramos assim uma forma de homenageá-los.

Você escreveu a edição especial em um momento em que tudo sobre o vírus ainda era muito novo. Trazer essa realidade para a história tornou esse ambiente mais fértil? A criação da trama e a realidade se misturando dão mais argumentos para contar essa história?

Nosso compromisso é jamais enganar o espectador sobre uma doença para emocionar. A gente sabia, por exemplo, que não ia conseguir dar uma resposta final sobre vacina. Por isso, localizamos a obra no início da pandemia. Na trama, não afirmamos que a vacina é a única salvação possível. Falamos de distanciamento social, tratamento, cuidados.

Em forma de dramaturgia, Sob Pressão-Plantão Covid vai ser mais um registro histórico desse momento que estamos vivendo. Realizar e colocar a obra no ar, neste momento, era importante para você?

Muito. Eu, particularmente, nunca tive dúvidas de que a gente tinha que colocar essa pandemia, essa crise sanitária na nossa história, exatamente pela conexão, pelo diálogo que a série tem com a realidade. E, principalmente, porque isso faz com que o público tenha um olhar diferenciado para esses profissionais de saúde. Foi nisso que nos debruçamos de alguma maneira: permitir que o público sinta e viva a experiência do médico. Trabalhei durante dois meses com uma equipe muito talentosa, todos incansáveis nas discussões, no rigor, na responsabilidade em não transmitir nenhuma informação errada. Sob Pressão é uma série que pretende unir, que dialoga com todo mundo. Tentamos trazer a possibilidade de ressignificar um pouco nossa visão através de uma doença. O que a pandemia permitiu em larga escala, para o mundo, a gente faz no nosso grãozinho, com a série.

Você acha que a forma de se comunicar com o mundo muda, a partir de agora?

Se a gente for falar da execução de um projeto, vou ter que fazer alguns tipos de acordos com a realidade para que eu possa desenvolver a história de um jeito possível e que emocione as pessoas. Mas acho que isso seria a médio prazo, um ano ou dois. Por outro lado, em relação às histórias, já tivemos outras catástrofes lá atrás, mesmo que a nossa geração esteja vendo isso pela primeira vez. As histórias não se transformaram e nem deixaram de ser contadas. Acho que a estrutura de contar histórias não muda, mas se adapta. O storytelling é um polvo que vai se adaptando de acordo com a janela: posso falar a mesma coisa de jeitos diferentes, pensando em cada tela.

Ser realista é uma característica muito marcante de Sob Pressão. Para você, qual a importância deste projeto?

Eu acho que Sob Pressão traz uma ressignificação do olhar, do comportamento e tenta resgatar os valores básicos do ser humano. Você aprende a olhar para o outro e para si mesmo. E aprende que nos pequenos gestos, consegue algum tipo de transformação. Hoje a gente fala da importância de lavar as mãos, de se alimentar bem, de fazer atividade física. Sob Pressão está batendo nessa tecla há muito tempo. Quando falamos de fome, de violência doméstica, de violência urbana, estamos mostrando para as pessoas que aquilo que eles estão vivenciando com os personagens faz parte da vida de todos nós e que pequenos movimentos podem transformar a sociedade em que a gente vive. Seja com doação de sangue, seja com doação de órgãos. Temos muitos espaços onde permitimos que o espectador ressignifique a sua lógica. É isso o que temos a oferecer.

Na sua opinião, qual a principal mensagem que esta edição especial passa?

De que devemos olhar o mundo coletivamente, tentando fazer a nossa parte com uma redistribuição de valores – não só renda, mas morais. Não devemos olhar o outro como nosso funcionário ou nosso médico. Somos pessoas e estamos, nas nossas especialidades, nos ajudando. Eu fiquei muito impressionado no começo da pandemia com a disposição das pessoas em ajudar. E isso aconteceu em todas as etapas da pirâmide. Vi gente pobre e gente rica doando. É claro que nesse meio do caminho tem um monte de gente que não está preocupado, mas vi esse caráter coletivo, doador e do bem.

Escrita por Lucas Paraizo, com Marcio Alemão, Flavio Araujo e Pedro Riguetti, e com consultoria do médico Marcio Maranhão, Sob Pressão – Plantão Covid tem redação final de Lucas Paraizo e direção artística de Andrucha Waddington. A série é uma coprodução da Globo com a Conspiração Filmes.

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