Juliana Paiva fala sobre a destemida Marocas de O Tempo Não Para: “Ela também vai à luta”

Publicado em 27/07/2018

Em O Tempo Não Para, nova novela das 19h da Globo, Juliana Paiva será Marocas, mais um membro da família Sabino Machado que ficará congelada após um navio naufragar em 1886. Curiosa, divertida e corajosa, a moça será resgatada nos dias atuais depois que um imenso bloco de gelo se aproxima da praia do Guarujá, em São Paulo.

Em entrevista ao Observatório da Televisão, a atriz contou como sua personagem irá se adaptar ao novo estilo de vida do século XXI. “É um choque de realidade muito grande. Tudo que tinha de referência para ela foi embora”.

O romance da mocinha com o jovem Samuca, interpretado por Nicolas Prattes, também não ficou de fora da conversa. “Ele vai ter que cortejar”, garantiu Juliana. Conheça mais a Marocas e o enredo da trama criada pelo autor Mario Teixeira, que estreia no próximo dia 31 de julho, a seguir:

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Juliana Paiva define Marocas, sua nova personagem

A Marocas é uma mocinha nada convencional, né?

Ela vem do século XIX, mas ela não é uma donzela. Isso é muito legal! Ela vem de uma família nobre. Os Sabino Machado são donos de metade de São Paulo, além de várias terras pelo Brasil. É uma menina que sempre teve tudo do bom e do melhor, mas teve uma criação muito especial. O pai sempre quis um filho varão, não teve e criou essa menina como menino.

Então, ao mesmo tempo que ela tem aula de etiqueta com a Miss Celine, personagem da Duda, sabe se portar e falar bem, ela também vai à luta. Quando ela se perde no meio da mata, ela sabe se virar muito bem, por exemplo. É uma personagem cheia de vertentes, humanitária demais.

A nova começa no século XIX, período da escravidão no Brasil. A Marocas vai expressar opções sobre esse assunto?

A gente vai falar sobre a abolição da escravidão que é uma coisa que ainda existia no século XIX. Só foi acontecer dois anos depois que eles partiram e aconteceu o naufrágio. E ela é abolicionista. Num tempo em que a mulher não tinha palavra ela dizia: ‘eu sou abolicionista’.

Início do namoro entre Marocas e Samuca

Ela acredita no amor?

Ela acredita no amor verdadeiro. O século XIX é o auge do romantismo. Romantismo não é simplesmente aquela coisa de você viver suspirando por alguém, é você lutar por uma coisa que acredita e até, de repente, morrer por essa causa. Então a Marocas vem com essa coisa pulsante dentro dela. Aí chegando no século XXI se depara com o Samuca, personagem do Nicolas, e acontece um primeiro encontro muito inusitado.

Acho que a primeira paixão seria mais do olhar dele para ela, porque ela está muito perdida para conseguir visualizar alguma coisa. Mas acontece o interesse de ambas partes.

E como vai ser essa conquista? O início do namoro dos dois.

Ele vai ter que cortejar. Vai ter que pedir autorização aos pais. É um outro romance. E ela ao mesmo tempo tem uma cabeça jovem, embora 132 anos tenha se passado. Vai estar muito aberta para descobrir esse novo universo. Vai gostar da televisão, da máquina de café expresso, porque o trabalho que tinha antes para fazer café era muito grande. Mas ao mesmo tempo ela vai questionar.

Recentemente, foi divulgada uma nota afirmando que você e o Nicolas Prattes estão juntos. É verdade essa história?

Samuca e Marocas, esse é o casal (risos).

Descobertas no novo século

O que a Marocas vai questionar no novo século?

Ela vai falar sobre a abolição da escravidão. Que escravidão é essa que até hoje tem trabalho escravo? Ela vai falar sobre o valor da palavra que se perdeu ao longo do tempo. Hoje em dia ninguém tem mais palavra para nada. Antigamente, a palavra era a honra da pessoa.

Então é uma novela divertida, uma novela das sete que veio para a gente brincar, se divertir. Eles vão estranhar tudo, a luz elétrica, a privada. Ao mesmo tempo, é uma novela que vem cheia de mensagens e, acima de tudo, uma história de amor.

É difícil introduzir humor na personagem?

Ela é uma personagem muito forte. O humor acontece o tempo inteiro. Eu acho que o contraste é um prato cheio para o humor. A situação é engraçada tanto para quem estar recebendo eles, quanto para eles também.

Não que ela não seja divertida, que ela não seja solar. Ela é tudo isso, mas está dentro de um choque. É um choque de realidade muito grande. Tudo que tinha de referência para ela foi embora. Nada é piada. A piada é a situação de quem está vendo e fala: ‘gente, eles estão atravessando a Paulista vestidos desse jeito. É sério isso? ’.

Gravações

Você passou por um momento engraçado durante as gravações?

Em São Paulo a gente recebeu esses olhares, que foram hilários. No intervalo da gravação, eu falei que ia no banheiro e tinha uma padaria. Só que eu esqueci que estava com a roupa e quando cheguei todo mundo olhou (riso). Você recebe esse olhar e é interessante.

Eu acho que mesmo falando do século XIX, que a gente não tem referência direta e ninguém que viveu nele, é muito fácil embarcar nessa história porque é tudo muito pé no chão. A gente está acreditando muito em tudo que estamos fazendo. O linguajar é diferente, as roupas são diferentes, mas a gente já se adaptou muito com isso.

Preparação de elenco

Como foi o processo de preparação com o elenco?

A preparação foi fundamental. Os congelados foram separados dos séculos XXI. Em nenhum momento a gente podia se cruzar. Por exemplo, eu e o Nicolas, que gravamos muito juntos, éramos proibidos de ter uma preparação juntos. Exatamente para ter esse olhar de “quem é você? ”, e estranhar tudo. Ele não via o meu figurino e nem eu via o dele.

Eu acho que tudo isso foi muito importante para irmos entrando nisso e se isolar mesmo como família. Porque os congelados escravos ou não, família ou não, são uma grande família sim. Eles só vão ter uns aos outros. E vão ser questionados o tempo todo se são reais, se não é alguém querendo entrar no Big Brother.

Marocas versus Betina

Como serão os conflitos da Marocas com a Betina, personagem da Cleo?

A Cleo vem com um sarcasmo que não existia na época. Então ela fala assim: ‘sai fora? Você quer que eu vá embora? ’. É quase português de Portugal, tudo ao pé da letra. É muito interessante. Depois ela consegue colocar a Betina no lugar dela simplesmente falando: ‘você está errada. Eu agora estou com essa pessoa. Se você entende que isso é passado, que fique no passado’.

Ela vai colocando a Betina sem ter que levantar o tom de voz, sem ter que falar palavrão ou agredir alguém. É muito gostosinho descobrir esse outro universo que eu não tinha referência alguma, mas mergulhei de cabeça agora.

Criogenia

Em algum momento essa história de congelados e de laboratório de criogenia vai ser explicada para o público?

Sim. Tem uma parte científica. O primeiro capítulo é importantíssimo que as pessoas assistam porque é a pontinha do fio que vamos começar a desenrolar. Tem uma parte da ciência que vai explicar isso sim, que vai bater de frente com a parte humanitária do Samuca. Porque não são ratinhos de laboratórios, são pessoas que têm sentimentos, estão assustadas e tem que ser protegidas.

Vamos ter a Eva Wilma que vai fazer uma cientista maravilhosa. É tudo muito bem amarrado. O Mario não está aqui à toa. Ele tem um textinho muito bem amarrado. O nosso desafio é embarca nessa história de congelados, mas é como o Leo disse: ‘está acontecendo tanta coisa. Por que não aparecer um bloco de gelo aqui? ’.

Investimentos em criogenia

O que você acha desse assunto de criogenia? Vocês teve aulas, palestras?

Tem gente apostando na criogenia. Nós tivemos palestra sobre o século XIX, mas a gente estudou muito. Cada um foi pesquisando, mandando para o outro. Existem pessoas que pagam para serem congeladas. Isso é real, está acontecendo nos Estados Unidos. Mais de 20 pessoas já estão congeladas. Antes de ter a morte cerebral, elas são congeladas, assinam termos, pagam por isso. É a evolução da ciência.

Vamos ter o personagem do Amadeu (Luiz Fernando Guimarães), que é um homem muito rico e que vai estar investindo, justamente, na criogenia. São pontos que estão muito bem interligados, mas é totalmente humano. A gente vai tentar conhecer esses congelados, até porque são pessoas, vêm com questões.

Você queria ser congelada?

É uma coisa de louco isso. Eu acho que não. Tudo na vida tem um porquê e a gente tem que viver cada etapa. A gente tem que envelhecer, tem que passar por todas as coisas.

Parceria com Edson Celulari

Como está sendo fazer a filha do Edson Celulari? Vocês já tinham trabalhado juntos?

O Edson fez A Força do Querer (2017), e a gente teve duas ceninhas juntos. Passou muito rápido. Ele é um querido. A gente teve uma troca muito especial porque a preparação começou só com nós dois. Porque esse pai e essa filha são uma coisa só, é muito bonito. Eles têm uma ligação muito forte que será revelada ao longo da novela.

A Rosi também é generosa demais. Eu assisti Castelo Rá Tim Bum na infância. E é um prazer. São pessoas generosas que estão dispostas a trocar, que vêm com um olhar de vamos jogar juntos mesmo. A gente se dá muito bem e essa unidade de família já está existindo. A gente se sente confortável um com outro, e eu acho que isso reflete em cena.

Conflitos entre pai e filha

Em uma entrevista, o Edson Celulari falou que o Dom Sabino é progressista e não abolicionista. E você já disse que a Marocas é abolicionista. Essa diferença vai causar conflito entre os dois?

O Dom Sabino acredita e investe no progresso. Ele vai comprar um estaleiro para levar a família para viajar e tudo mais. Realmente, ele tem um olho no futuro. Ele vai gostar das novidades do novo século. Mas o trabalho escravo naquela época era como gerava a economia, sem o trabalho escravo não tinha como ele produzir. Então ele não apoia isso por conta das financias.

Mas ela consegue enxergar mais além. A melhor amiga dela é a dama de companhia Damásia, a Aline Dias. Então ela tem esse olhar muito humano, que é o que vai bater muito com o Samuca quando ela chega no século XXI. Ele é um cara que pensa no meio ambiente, que está preocupado com a natureza, que está preocupado com o outro. Aí começa os pontos em comuns dos dois.

Gravações em São Paulo

Como está sendo gravar pelas ruas de São Paulo?

Em São Paulo eu sempre vim muito em bate e volta. Vinha fazer um trabalho e depois voltava. E eu estou podendo curtir um pouco mais São Paulo. Eu conheci o Ibirapuera, que eu não tinha ido ainda. Fui passear na Paulista de noite. Em São Paulo tem muita coisa acontecendo o tempo inteiro, as pessoas não param. Mas, ao mesmo tempo, tem o contraste do velho com o novo que eu acho muito interessante e é o plano de fundo da nossa história. Tem uma parte cultura muito legal. Já fui também no teatro algumas vezes.

São Paulo está sendo a nossa casa agora. Para mim, quanto mais eu estiver entendendo essa cidade, e até colocando umas dúvidas de Juliana com curiosidades de Marocas, é interessante.

A Marocas vai ter sotaque?

Ela tem. É um linguajar diferente, por exemplo: de certo que sim, de certo que não. Nunca é sim ou não. Eu não posso fazer o chiado que tenho do meu sotaque carioca. É mais neutro, enxugado, mas não é se preocupar para fazer um super sotaque paulista. É porque até para entrar mais na época ajuda.

Ela tinha aula de português correto, não podia falar um ponto fora da curva que preceptora não deixava. Tem cenas com a Cris e com o Nicolas em que eu falo: ‘vocês não entendem português? ’ (risos).

Mudança de visual

Como foi a mudança de visual para viver a personagem?

O cabelão e o figurino que é todo de época. No cabelo a gente coloca um tic-tac. Mas eu acho que a Marocas vai ficar doida para cortar esse cabelo porque ela é muito para frente. Temos cenas em que ela compra lingerie, antes ela usava espartilho que é super desconfortável. Eu devo confessar. Ela quer mudar, aproveitar um pouco das coisas boas do século XXI.

O que a Marocas tem da Juliana?

Quando eu quero uma coisa sou muito determinada. Por exemplo, eu quis muito a Marocas. E eu acho que deu super certo. No dia a dia da gravação, cada vez que visto a roupa, vejo que era isso que eu queria. Eu acho que na vida tem que ser assim. Quando você acredita em uma coisa, corre atrás, claro, não passando por cima de ninguém e não desejando o que o outro tem, as coisas acontecem.

Como você conquistou a personagem?

Eu fiz teste. A ideia do autor lá atrás era que ela seria uma menina mais jovem. Depois ele mudou de ideia e as coisas foram acontecendo. Não sei se por minha causa ou por um todo, mas aconteceu o que devia acontecer.

Relação com redes sociais

A novela vai falar sobre a evolução tecnológica. Como é a sua relação com as redes sociais? Já experimentou ficou sem acesso à internet?

Eu uso as redes sócias, acho que é um veículo legal para a gente falar com os fãs e saber o que eles estão achando. Mas vai até um certo ponto, eu não sou refém muito disso não. Eu gosto de desligar o meu celular, às vezes. Em um lugar de praia eu gosto de aproveitar aquele universo sem me deixar contaminar pelo o que está acontecendo no mundo.

A Marocas é a sua segunda protagonista e veio numa fase em que você está mais madura profissionalmente. Você se cobra muito na carreira?

Eu acho que é um reconhecimento do nosso trabalho. Eu sempre falo que vamos plantando sementinhas por onde passamos e elas vão germinando. Não encaro como um peso porque eu estou dividindo com um elenco de primeira. É um trabalho conjunto, diário, que a gente precisa um do olho do outro em cena. A Fernanda Montenegro sempre fala muito sobre isso, sendo a grande atriz que é e com tanta experiência que tem.

Se ela está contracenando com um ator jovem, que está na primeira novela, ela vai precisar do olhar dele tanto que ele do dela. Então é uma troca. Ninguém está sozinho num posto maior. Eu não encaro assim. Eu encaro como uma oportunidade, assim como todas as outras que eu já tive e agarrei. E eu vou fazer da melhor forma.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano

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