novo clássico

Protagonistas intensas e personagens carismáticos fizeram o sucesso de Avenida Brasil

Mesmo com furos, a novela reuniu ingredientes que a tornaram irresistível

Publicado em 01/05/2020

Avenida Brasil não é uma novela perfeita. Mesmo assim, tem um poder de penetração impressionante. E a reprise do Vale a Pena Ver de Novo mostrou isso. Trata-se de um mérito indiscutível da obra de João Emanuel Carneiro: o fato de ter em mãos personagens tão magnéticos, com viradas tão intensas, que fisgaram o público de tal maneira que o espectador simplesmente “perdoa” os deslizes. O saldo é mais que positivo.

Mas, sem dúvidas, Avenida Brasil se mostrou mais potente em sua fase inicial, quando a rivalidade entre Carminha (Adriana Esteves) e Nina (Débora Falabella) dominava. Aqui, o autor propôs um interessante jogo de espelhos, no qual suas protagonistas se revezavam no papel de vítima e de algoz. Nina era dona de um passado sofrido, vítima de uma série de desgraças desencadeadas pela madrasta. Por isso, era alimentada por um ódio legítimo, que justificou várias de suas ações não muito ortodoxas, na tentativa de se vingar da vilã. Já Carminha era uma bandida que só queria se dar bem. Roubava e enganava, mas estava longe de ser uma psicopata maluca.

Ao contrário de Nina, que o público conheceu toda a sua história, o passado de Carminha era uma incógnita. E, cada vez que um detalhe dele vinha à tona, suas ações também passaram a se justificar. Não que isso amenizasse as maldades da megera, mas as justificavam de tal maneira que, não raro, o público passou a compreendê-la. Com isso, João Emanuel Carneiro levantou questionamentos sobre o caráter de suas personagens, e levou tal questionamento ao longo da novela toda. Em A Favorita, o autor também brincou disso, mas não levou a dubiedade de suas Donatela (Claudia Raia) e Flora (Patricia Pillar) até o fim.

Fase “Santiago”

Porém, Avenida Brasil perde fôlego quando surge Santiago (Juca de Oliveira), o pai de Carminha (Adriana Esteves). Nesta fase, Carminha deixa de ser a vilã e se torna um bicho acuado, amedrontada com os desmandos do pai. É uma fase no qual João Emanuel Carneiro abandona o confronto principal, preferindo apostar num epílogo sobre o passado de Carminha. O objetivo é claro: humanizar a vilã e preparar o terreno para sua redenção. Funcionou, mas às custas da ação principal da trama, que foi esvaziada.

Este é apenas um dos vários furos de Avenida Brasil. A trama também se mostrou inconsistente quando mostrou uma vingança sem elaboração de Nina. Também não deixou claro por que Carminha abandonou Nina no lixão, sabendo que ali ela não “desapareceria” e seria criada por Mãe Lucinda (Vera Holtz), que também a criou, e que cuida de crianças abandonadas. Se a ideia era se livrar de um problema, não faz muito sentido abandonar a criança num lugar em que ela seria acolhida e cresceria pronta para se vingar.

No entanto, os furos são perdoáveis quando se vê o todo, com personagens tão carismáticos, um elenco em estado de graça e uma direção criativa e ágil. Provavelmente o melhor trabalho de Ricardo Waddington como diretor de núcleo, e que projetou definitivamente os nomes de Amora Mautner e José Luiz Villamarim. Pelo conjunto da obra, Avenida Brasil é, sim, um novo clássico e que merece o sucesso alcançado.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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