Análise

Vítimas de racismo, jornalistas da Globo provam que o sucesso dos negros na TV incomoda

Luiz Teixeira e Pedro Lins sofrem preconceito, mas não se calam e recebem apoio

Publicado em 26/08/2021

Na última segunda-feira (23), o repórter Luiz Teixeira comemorou sua primeira aparição sem máscara na TV, seis meses após ter sido contratado pelo Grupo Globo, durante o programa Tá na Área, do canal pago SporTV. Finalmente, pôde sorrir em frente às câmeras. Menos de 24 horas depois, o sorriso do jornalista se fechou ao ser vítima de racismo durante o trabalho. O caso, nada isolado, é mais um da lista de crimes praticados por quem se incomoda com o sucesso de um negro.

Em sua rede social, Luiz Teixeira desabafou sobre ter sido novamente confundido com um cinegrafista ao se credenciar no estádio Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas, para cobrir o jogo entre Guarani e Operário, pela Série B do Campeonato Brasileiro. O problema, importante ressaltar, não é ser câmera ou auxiliar, mas achar que um negro não tem cara de repórter.

O episódio relatado por Luiz Teixeira no Twitter e no Globo Esporte tem nome: preconceito. Pode não ser uma injúria explícita, mas é o chamado racismo estrutural, aquele passado por gerações e persiste durante séculos. Aquele que te faz olhar desconfiado para o negro ao lado e esconder o celular. Você, branco, já fez isso. Você, negro, já passou por isso. Como canta Edi Rock em Negro Drama: “Me ver pobre, preso ou morto já é cultural”.

O grito de Luiz Teixeira ecoa há mais de 130 anos. Último país a abolir a escravidão, o Brasil jogou pretos e pretas à própria sorte após a Lei Áurea, em 1888. Rebaixou os escravos e seus descendentes a cargos sem grau de instrução. Afastar negros da educação, aliás, é projeto. Segundo o IBGE, 12,8% dos negros entre 18 e 24 anos chegaram ao nível superior em 2015. O percentual baixíssimo poderia ser pior sem ações afirmativas (era 5,5% em 2005, um ano após a implantação de cotas raciais nas faculdades).

Portanto, estudar virou sinônimo de resistir. Luiz Teixeira, primeiro repórter negro do esporte da Globo em São Paulo desde 2018, contrariou as estatísticas, bem como Pedro Lins, apresentador do NE1, telejornal local da Globo em Pernambuco. O jornalista compartilhou um ato racista sofrido por ele na última quarta: “Fala com quem da Globo para parar de colocar vocês, pretinhos, para apresentar jornal?”. Ele reagiu com poesia, ironia e sabedoria.

Na semana em que Aline Midlej foi promovida à bancada do Jornal Nacional (a segunda negra a ocupar este posto, após Maju Coutinho), dois jornalistas da Globo sofrem racismo. A vitória dos pretos incomoda o “cidadão de bem”.

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