A Padroeira

Morte e reprise em outra emissora: Novela fracassada de Walcyr Carrasco deu trabalho para a Globo

Trama religiosa exibida há mais de 20 anos contou com muitos problemas

Publicado em 22/02/2023

Três meses após o sucesso de O Cravo e a Rosa, Walcyr Carrasco voltava ao ar na Globo. Em nova parceria com Mário Teixeira, o autor era o titular de A Padroeira. No ar entre 2001 e 2002, a trama ficou marcada por uma morte repentina, esticamento surreal e reprise em outra emissora.

Dirigida por Walter Avancini, a trama foi baseada no romance As Minas de Prata, de José de Alencar, e entrou no ar em tempo recorde, logo após os mínimos 80 capítulos de Estrela Guia.

O autor não teve tempo de descansar e logo foi escalado para mais um trabalho. Com uma premissa interessante, a obra contava a história da padroeira do Brasil. Todavia, acabou passando por uma série de problema.

Não é à toa que A Padroeira é considerada “fracassada”, um ponto fora da curva na carreira do novelista, pelo menos na Globo. Hoje em dia ele é o autor mais aclamado da emissora, colecionando sucessos. Entretanto, a trama religiosa é pouco lembrada e dificilmente será reprisada.

Protagonistas de A Padroeira (Reprodução/Globo)

Problemas em A Padroeira

O primeiro problema da novela foi o tom soturno adotado nos primeiros capítulos, assim como a abertura com instrumental fúnebre. Mesmo apostando na dupla recém saída de Laços de Família – Deborah Secco e Luigi Baricelli – como protagonistas, a história desinteressante afastou o público.

Os episódios iniciais focaram no romance proibido entre os dois, além do encontro da santa no rio. Entretanto, a trama misteriosa e lenta demais não engrenou. Faltavam mais atrativos para a história.

Não demorou para A Padroeira derrubar os índices de audiência da faixa das 18h. Além disso, Walter Avancini foi afastado da trama devido a problemas de saúde. Em meio à novela, uma tragédia: o diretor acabou falecendo.

Laura Cardoso em A Padroeira (Reprodução/Globo)
Laura Cardoso em A Padroeira (Reprodução/Globo)

Mudanças e novo diretor

A trama mais “flopada” de Walcyr na Globo começou a voltar aos trilhos após Roberto Talma assumir a direção. Com isso, a história foi reformulada, com destaque para a entrada de Rodrigo Faro, Giulia Gam e Susana Vieira.

Acostumada a perder para Malhação, A Padroeira aumentou seus números. Na reta final, até foi esticada, ganhando cerca de oitenta capítulos devido ao cancelamento da sucessora, uma obra de Maria Adelaide Amaral. No fim, Coração de Estudante entrou no lugar.

Ganhando e perdendo personagens, a novela também ficou mais “solar”. Mesmo assim, terminou com média de 26 pontos. Para se ter ideia, quatro pontos a menos que a meta de 30 pontos estipulada para o horário.

Como resultado, A Padroeira se tornou uma novela de Walcyr esquecida pela Globo. O autor, colecionador de sucessos, nunca viu essa trama ser reprisada na emissora ou no Canal Viva.

Por isso, a novela vai na contramão de histórias como Chocolate com Pimenta e O Cravo e a Rosa, reapresentadas exaustivamente. Hoje em dia, é claramente o folhetim menos badalado do dramaturgo.

Elizabeth Savalla e Mariana Ximenes em A Padroeira (Reprodução/Globo)
Elizabeth Savalla e Mariana Ximenes em A Padroeira (Reprodução/Globo)

Reprise na TV Aparecida

Por outro lado, um fato curioso é atrelado à novela. Embora descartada para reprise na Globo, acabou voltando em outra emissora.

Em 2017, a Globo cedeu a produção para a TV Aparecida, que reapresentou a história em dois horários: 19h e 22h30, de segunda a sábado.

O inusitado acordo aconteceu para comemorar os 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida no Rio Paraíba. Para se ter ideia, o canal religioso arcou apenas com custos de direitos autorais para o elenco e os músicos da trilha sonora.

A Padroeira (Divulgação/TV Aparecida)

Curiosidades sobre A Padroeira

A trama marcou o início da grande parceria entre Walcyr e Elizabeth Savalla. Na trama, ela viveu a amargurada Imaculada, que tinha pavor dos homens e era muito ligada à religião. Elizabeth faria uma participação em O Cravo e a Rosa, mas acabou trocada por Lúcia Alves.

Stênio Garcia deixou o elenco para interpretar Tio Ali em O Clone. Do mesmo modo, Yoná Magalhães deixou o papel da bruxa Úrsula para entrar na novela As Filhas da Mãe.

A novela contou com alguns atores de O Cravo e a Rosa, como Murilo Rosa, Luís Melo e Luiz Antônio do Nascimento. Depois, Rodrigo Faro entrou na produção.

A Igreja Católica teve ressalvas quanto à abordagem da história da padroeira, mas gostou do resultado final e elogiou a trama. O tema de abertura dos primeiros capítulos era morno e soturno, mas mudou com a inserção da música A Padroeira, interpretada pela cantora Joanna.

Após adquirir os direitos de A Padroeira, TV Aparecida inicia divulgação
Cecília (Deborah Secco) e Valentim (Luigi Baricelli) em A Padroeira (Divulgação/ TV Globo)

Após o flop, a Globo deu um descanso para Walcyr, mas ele ficou pouco tempo fora do ar. O autor voltou no ano seguinte, dessa vez com Chocolate com Pimenta, um grande sucesso. Depois, engatou novelas bem sucedidas, como Alma Gêmea, Caras e Bocas e Êta Mundo Bom!.

Pouco lembrada, A Padroeira pode chegar no máximo ao Globoplay, mas não como prioridade no canal de streaming. Portanto, os fãs da novela devem esperar para acompanhá-la na íntegra.

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