Entrevista

Nova âncora do Jornal das 10, Aline Midlej afirma: “Prêmios, troféus e sucesso são consequências, não o que deve nos mover”

Profissional já ganhou o Vladimir Herzog e o Esso, reconhecimentos importantes do Jornalismo

Publicado em 29/06/2021

Amigos da Coluna Por Trás da Tela, minha convidada da vez é Aline Midlej. Eu a conheci nas minhas idas e vindas em emissoras de TV. Logo que a vi, comentei na redação do jornal que ela tinha tudo para crescer na profissão, principalmente porque era segura e preparada para comentar notícias dos mais variados segmentos.

Procurei Aline para uma conversa e soube que ela foi convidada para apresentar em breve o Jornal das 10, da GloboNews. Por ele já passaram, entre outros, Heraldo Pereira, Renata Lo Prete, Mariana Godoy, Eduardo Grillo e André Trigueiro. E assim começamos nossa conversa:

Aline, foi uma grata surpresa. Fale um pouco dessa transição na profissão, a ponto de assumir o comando do respeitado Jornal das Dez?

Apesar do momento duro da pandemia que atravessamos, é gratificante. Ver o resultado da entrega e da dedicação em um novo desafio, que é comandar o jornal mais tradicional do canal. Ainda mais quando completamos 25 anos de GloboNews. Estou fora do ar para preparativos, saudosa do estúdio e da missão de informar ao vivo.

Aline, como foi o começo da sua carreira e quais fatos foram determinantes para a sua formação como jornalista?

Meu começo de carreira já foi em televisão e isso foi determinante para a caminhada. Fui aprovada num programa de estágio concorrido da TV Globo, em 2005, e nunca mais sai do meio. Nunca tinha projetado a carreira como ela acabou se dando, mas olhando hoje, faz todo o sentido. A câmera é como uma velha e querida amiga, que parece de outras vidas. Depois de 11 anos, voltei à Globo como âncora do Edição das 10h, na GloboNews. Nesse período passei pelas principais redações de TV, viajei muito. Ampliei perspectivas.

Nós jornalistas sempre trabalhamos por um ideal, por aquilo que acreditamos. Eu sei que são muitas as nossas aspirações, desejos e não caberia em uma resposta. Por isso eu te pergunto: atualmente quais são os ideais que você persegue? O que te faz levantar da cama hoje e te desafia a colaborar com a sociedade?

Uma sociedade mais justiça, pacífica e igualitária. Portanto, mais informada e consciente de seus direitos e papéis.

Aline, você se pronunciou algumas vezes sobre racismo na TV. Eu gostei muito de te ouvir, porque não me conformo com a “hipocrisia” reinante nos meios de comunicação. Alguns jornalistas, professores, chefes, acadêmicos combatem o mal e não olham para o próprio umbigo. Aliás, esse foi um dos temas que abordei na coluna. Eu gostaria de saber: como você analisa a questão?

Falar sobre racismo demanda querer, de fato, entender as razões de ele existir. No contexto histórico e social do Brasil. É exigente. E urgente. Mas é impossível fazer isso sem autocrítica, precisa observar. E ouvir muito. Isso vale para pessoas, grupos e instituições. É um processo, mas que precisa começar. A diversidade, o desejo dela, é melhor para o todo. Vai chegar o momento em que a educação vai dar conta disso, de base, de partida. Será nosso grande salto civilizatório. Espero estar viva para ver e noticiar.

Aline, me lembre um momento feliz da carreira e um momento triste. Quando você está ao vivo e acha que fez a diferença, ajudou os espectadores. E quando você sente que está dando murro em ponta de faca, ou seja, continua a mesma história.

Momento feliz foi quando entrevistarei a Wangari Maathai, em Nairóbi. Foi a primeira mulher africana a ganhar o Nobel da Paz. Foi um momento em que me senti gratificada. Acho que foi um divisor de águas e elevou o patamar do debate público sobre racismo no Brasil.

Um momento de frustração foi quando noticiei a queda da barragem em Brumadinho. Não fazia dois anos que falávamos de Mariana. Falar mais uma vez sobre a importância da fiscalização, da atenção aos moradores dessas áreas, foi bem difícil.

Você venceu o Prêmio “Vladimir Herzog” e foi finalista do “Prêmio Esso de Jornalismo”; me fala um pouco da experiência.

Nos dois prêmios citados, eram séries de reportagens que tratavam de universos que me são especiais: o das mulheres e das populações indígenas. Sempre digo que prêmios, troféus e o próprio sucesso são consequências, não o que deve nos mover. O trabalho tem que ser fonte de sentido e mobilização interna.

Aline, tenho uma curiosidade. Você é de São Luís (Maranhão), uma terra linda, Patrimônio Cultural da Humanidade (Unesco).  Me conta um pouco da sua infância e como você veio para São Paulo.

Vivo com o Maranhão no meu coração, mas ainda não nos reencontramos desde que saí de lá, ainda muito bebê. Mesmo assim, me sinto muito conectada com minha terra natal, porque sou filha de nordestinos e é como se já tivesse revisitado São Luís. É um projeto que preciso encampar assim que a pandemia passar. Fui criada em São Paulo desde muito pequena, me mudei de cidade pela primeira vez agora, aos 38 anos. Estou em processo de paixão com o Rio desde julho. 

Querida Aline, vamos à pergunta tradicional da Coluna: quando não está na tela da TV, computador, celular, ou seja, quando a Aline está Por Trás da Tela, o que ela gosta de fazer?

Um bom vinho e uma mesa cheia de gente querida. E barulhenta. Mas é pandemia, né? Agora estamos eu e minha vitrola, meu companheiro – Rodrigo Cebrian – e um bom filme na tela.

Muito obrigado, Aline. Boa sorte e até uma próxima conversa!

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