Difícil de engolir

Contramão da tendência: fofoca na TV brasileira vira farofa indigesta

Espetacularização da notícia, preguiça e jogo de interesses tira seriedade de programas do gênero no Brasil

Publicado em 03/05/2023

Uma nova crise estrutural e de identidade se acentua sobre os longevos programas voltados para assuntos de celebridades no Brasil. Alguns em especial, como resultado de ideias mirabolantes em busca de audiência fácil, se tornaram um grande “frango com tudo dentro”.

Com isso, além de perderem timing sobre o que realmente é de interesse do público, a descontração encenada em torno de determinados assuntos, também conhecida como “espetacularização da notícia”, tira toda e qualquer seriedade da informação, do programa, dos apresentadores, e acaba por banalizar o que já não é tão bem visto em outros campos.

Após o estrago causado pela pandemia, onde a indústria do entretenimento televisionado simplesmente parou e ainda perdeu espaço para conteúdos de mídia online, a retomada das emissoras nesse meio, de certa forma ainda segue aos cambaleios tentando encontrar o melhor caminho.

TV Fama ainda é a melhor vitrine

O TV Fama (RedeTV!), como rara exceção — e mesmo sendo parte de uma programação que joga contra o sucesso de qualquer produto –, ainda assim se sobressai sobre outras atrações. O formato, óbvio, não tem nada de inovador (e nem precisaria ser!), mas a competência de sua equipe, por si só, entrega o que deveria ser o básico na concorrência.

Repórteres nas ruas, nos eventos, trazendo informação e entrevistas. Já no estúdio, o necessário: dinamismo, apresentadores bem informados e em sintonia com os repórteres. A estrela principal? A notícia.

Fora do Brasil, programa de fofoca não é bagunça!

Ao tempo em que certa bagunça, e até preguiça pode ser observada por aqui, lá fora, os canais seguem investindo em equipes, sem declinar para o avanço de outras mídias. Pioneiro do gênero, o Entertainment Tonight, da CBS, é a maior exemplo de formato vencedor.

Aqui na América Latina, o El Gordo y la Flaca, no ar desde a década de 90 na programação da Univisión, une qualidade e credibilidade sem envelhecer. A NBC News e o canal E! Entertainment Television também cumpre função exemplar, com grande estrutura. Não existe subaproveitamento de nada. Lá, a notícia não se recicla.

Preguiça e interesses pessoais comprometem a qualidade

Os programas de fofoca no Brasil não deveriam se contentar com conquistas pontuais, tampouco ficar restrito aos famosos daqui. Para a infelicidade da audiência, nota-se também um claro “jogo de interesses” nunca antes tão escancarado como agora, onde o apresentador fala de quem ele quer, como ele quer, sem imparcialidade, ignorando totalmente a notícia. Às vezes o famoso em questão nem é do interesse público.

Outro ponto! O Brasil também está bem inserido e representado na cultura pop internacional. Onde estão os correspondentes na cobertura dos grandes eventos? Quem quer saber de fofoca não quer ver helicóptero sobrevoando a 25 de março, quer ver repórter no tapete vermelho do Met Gala.

Enquanto programas estrangeiros se potencializam para driblar o avanço das redes sociais como plataforma de consumo para fofocas, por aqui nada se faz para sair da mesmice.

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