Em 28 de setembro de 1981, a Rede Globo estreou em seu horário das 20h (hoje 21h) a novela Brilhante, de Gilberto Braga. Era a substituta de Baila Comigo, de Manoel Carlos, atualmente em reprise no Canal Viva.
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A história foi concebida por Gilberto e por Daniel Filho, que também respondeu pela produção e pela direção-geral. Após alguns percalços anteriormente, durante a escrita de Água Viva (1980), o autor contou aqui desde o princípio com um colaborador. No caso, Euclydes Marinho. Todavia, após algumas semanas Euclydes deixou a equipe e foi substituído por Leonor Bassères. Tinha início assim uma duradoura parceria entre Gilberto e Leonor, encerrada apenas com a morte dela em 2004.
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A história central de Brilhante
Brilhante parte da rica família Newman, proprietária de uma empresa do ramo de joias. Os patriarcas são os tradicionais Vitor (Mário Lago) e Chica (Fernanda Montenegro). O casal tem dois filhos, Maria Isabel (Renée de Vielmond) e Inácio (Dennis Carvalho). A filha é casada com Paulo César (Tarcísio Meira) e tem com ele dois filhos, Marília (Fernanda Torres) e Silvinho (Fábio Villa Verde). O rapaz é solteiro e, embora a mãe finja não notar, é homossexual.
A luta de Paulo César por afirmação e para fugir ao jugo dos sogros, situação que seria cômoda para Maria Isabel, e a solteirice de Inácio são problemas para a sucessão das Joias Newman. Bruno (Jardel Filho), sobrinho de Vitor, tem nisso bom campo para suas investidas na intenção de assumir o comando dos negócios. Mas Chica tem na manga uma carta para garantir a continuidade do nome Newman: casar Inácio.
Para isso ela escolhe Luiza (Vera Fischer), designer de joias da empresa. Só que, além de Inácio e ela não se entenderem, Luiza e Paulo César se apaixonam. Isso faz com que a moça desperte o ódio de Chica, que passa a empreender uma luta para destruí-la, já que lhe esfregou na cara a verdade com que jamais quis lidar.
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Suspense em torno de um homem
No começo da história, Luiza faz uma viagem a Londres, acalentada há algum tempo. Lá ela reencontra Vera (Aracy Balabanian), amiga de longa data. Oswaldo (José Wilker), marido de Vera, tem com ela uma relação estranha, de maus-tratos e masoquismo. Ele é tido como morto num acidente de automóvel, após recusar-se a conversar com Luiza sobre seu estado emocional e sair em disparada. No entanto, no regresso ao Brasil Luiza se depara com o mesmo homem, atendendo por Sidney. Seriam dois homens distintos, apenas sósias, ou Oswaldo havia mudado de identidade por motivos desconhecidos? E Vera, era vítima ou cúmplice numa trama de morte forjada? Luiza se propõe desvendar esse mistério. Ainda, ao ver seu casamento com Paulo César ruir, é nos braços de Sidney que Maria Isabel se refugia.
Problemas e mudança de rumo
Brilhante teve correções de rota, para melhorar a audiência e evitar conflito com a Censura. Chica Newman foi convertida numa vilã mais impiedosa não apenas contra Luiza, e oprimiu a própria neta, Marília. Vitor morreu e criou com sua ausência um choque de realidade em Inácio, que decidiu assumir o comando das empresas. Os censores implicavam muito com a questão da sexualidade do personagem, vetando inclusive o uso do termo “homossexual” nas falas. Enquanto isso, ao casar-se com a ambiciosa Leonor (Renata Sorrah), que aceita o papel destinado por Chica, a vida do rapaz torna-se cada vez mais infeliz.
Após a viuvez, Chica reencontra o amor nos braços do motorista Carlos (Cláudio Marzo). Este anteriormente fora casado com Leonor. A mãe desta, Edite (Eloísa Mafalda), ao tornar-se nova rica devido ao casamento da filha passa a conduzir o humor na história.
Ainda, o mistério em torno de Sidney/Oswaldo não foi levado adiante com a profundidade que se desejava no início. O grande drama em torno dos Newman, a sucessão da empresa e o casamento de Inácio e Leonor tomaram conta da ação.
A insatisfação de Tom Jobim
O tema de abertura, composto especialmente para a novela, foi a bela canção “Luiza”, de Tom Jobim. Os créditos eram embalados pelo próprio Tom cantando os versos da música. No entanto, o maestro não escondeu sua insatisfação ao ver Vera Fischer com visual bastante diferente do habitual. Visual este que o havia inspirado na composição da letra, uma vez que se sabia que seria Vera a protagonista da novela. A atriz surgiu no vídeo com os cabelos curtos, escurecidos e cacheados, ao passo que a música fazia referência ao “raio de sol dos seus cabelos, como um brilhante que, partindo a luz, explode em sete cores”… Para amenizar a situação e o estranhamento do próprio público, a figurinista Marília Carneiro propôs um adereço que desviaria parcialmente a atenção dos cabelos de Vera: um lenço amarrado no pescoço, que virou moda.
Brilhante chegou ao fim em março de 1982, após 155 capítulos. Além de Daniel Filho, dirigiram-na Marcos Paulo, José Carlos Pieri e Ary Coslov. Apesar de sua sofisticação e charme, nunca mais foi exibida, e deixou como grande marca a atuação de Fernanda Montenegro como Chica Newman. Gilberto Braga já declarou que gostaria de reescrevê-la, com uma liberdade de ação inexistente à época. Seria interessante.