Ricos à beira-mar

No TBT da TV, os 40 anos da novela Água Viva, grande sucesso dos anos 1980

Novela de 1980 marcou com órfã, triângulo amoroso e topless

Publicado em 06/02/2020

“Menino do Rio / Calor que provoca arrepio / Dragão tatuado no braço / Calção, corpo aberto no espaço / Coração de eterno flerte / Adoro ver-te…” No dia 4 de fevereiro de 1980, a TV Globo estreou no horário das 20h a novela Água Viva, de Gilberto Braga. Egresso na ocasião do êxito de Dancin’ Days (1978/79), Gilberto tinha a missão de retomar os índices ao patamar anterior a Os Gigantes (1979/80), de Lauro César Muniz. Esta enfrentou resistência de parte dos espectadores a sua trama densa e prejudicada por censura interna e externa. A vida da classe rica do Rio de Janeiro à beira-mar, um forte triângulo amoroso que envolvia dois irmãos e a busca de uma órfã por seu pai deram o tom de uma história moderna, envolvente e cheia de bons personagens.

Os irmãos Fragonard: personalidades bem distintas na trama central de Água Viva

Parte fundamental do enredo de Água Viva se desenvolve a partir de dois irmãos muito ricos, os Fragonard. Nelson (Reginaldo Faria) nunca trabalhou na vida. Vive da renda dos muitos investimentos que possui, e se ocupa basicamente com belas mulheres e competições de pesca pelo mundo. Já seu irmão mais velho, Miguel (Raul Cortez), é o total contrário. Seu casamento com Lucy (Tetê Medina) é sólido e feliz, tendo gerado a filha Sandra (Glória Pires).

Professor de Medicina respeitado, ele mantém também uma badalada clínica de cirurgias plásticas, frequentada pela alta sociedade. Miguel e Nelson são filhos de mães diferentes, e isso determinaria seus destinos em medida maior do que eles poderiam supor. Seus estilos de vida e visões de mundo muito diversos entre si acabaram afastando os dois irmãos. Bem como disputas infundadas pelo patrimônio do pai e das respectivas mães deles. Mas os dois se amam, no fundo, e um não deseja mal ao outro.

Stella e Lourdes: duas mães totalmente opostas na relação com os filhos

Duas personagens inesquecíveis de Água Viva são mulheres de meia-idade. Stella Fraga Simpson (Tonia Carrero), ainda esfuziante e bela mesmo com mais de 50, é a maior amiga do ex-marido, Kleber Simpson (José Lewgoy), pai de seu filho, o fotógrafo Bruno (Kadu Moliterno). O mordomo Lafayette (Edson Silva), que servia a Stella com verdadeira devoção, fazia por ela coisas como atravessar a rua e a orla e ir buscar água do mar aos baldes, em várias viagens, para que a patroa pudesse tomar banho de mar sem ir à praia. Apesar de ter casos com homens bem mais jovens, Stella se deixou levar a certa altura da história justamente pela lábia de um “coroa”, Jaime (John Herbert).

Lourdes Mesquita (Beatriz Segall) foi uma das mais belas e elegantes das revistas nos anos 1950. Mas nos anos que se seguiram ela passou por uma grande derrocada financeira. Hoje vive de organizar festas e eventos em geral, mantendo-se no círculo da sociedade em razão desse seu trabalho, conjugado ao acalentado prestígio do passado. Mãe de Márcia (Natália do Valle) e Marcos (Fábio Jr.), Lourdes vê no rapaz, estudante de Medicina, a grande esperança de voltar à glória e à fartura, ao vê-lo casado com Sandra.

Janete, a pedra no sapato

Todavia, o jovem se apaixona mesmo é por uma pobretona, Janete (Lucélia Santos), moça que condena com veemência o modo como sua família vive. Evaldo (Mauro Mendonça) e Vilma (Aracy Cardoso), seus pais, ele pouco afeito ao trabalho e ela um pouco desconectada das questões práticas da vida, vivem na aba da irmã solteirona de Evaldo. Trata-se de Irene (Eloísa Mafalda), secretária da clínica de Miguel.

Márcia, por sua vez, desgostou Lourdes ao se casar com Edyr (Cláudio Cavalcanti), também pobre e sem berço, professor de História num cursinho pré-vestibular. Saudada como grande vilã, Lourdes na verdade é mais uma infeliz e frustrada mulher que via nos filhos o passaporte para a pujança econômica do que propriamente uma malvada clássica. Muito embora tenha feito grandes maldades contra Janete, por exemplo.

Quem matou Miguel Fragonard em Água Viva?

Cerca de um mês antes do final da novela, Miguel Fragonard foi assassinado misteriosamente. Durante uma viagem à sua casa de Angra dos Reis, da qual participaram diversos personagens de Água Viva, todos ouvem o som de um tiro que os atrai no meio da noite. Miguel é encontrado morto, vítima do tiro, sem que se tenha conseguido apanhar em flagrante o autor do crime. A partir daí a história mobilizou o público não apenas com a expectativa em torno do desenlace das diversas tramas, como também em volta de apostas sobre quem havia matado Miguel Fragonard.

Ao final, a revelação: o assassino, quem diria, foi Kleber, amigo da família desde sempre. Amigo da onça, aliás, já que ele fingiu amizade e verdadeira afeição pelos irmãos Miguel e Nelson apenas para se manter próximo e aproveitar uma oportunidade que tivesse para se vingar da mãe de Miguel. No passado, ela preferiu um Fragonard a ele para se unir em matrimônio. Um meio que Kleber encontrou de ir à forra foi levar o inconsequente e ingênuo Nelson à falência completa, apossando-se de sua fortuna. Para isso contou com a ajuda de Técio (Ivan Cândido).

Toda a trama acabou descoberta por Miguel, que desejava ajudar Nelson a se reerguer e, quem sabe, entrar num entendimento com o irmão, ficar “de bem” com ele. Desmascarado na história do golpe a Nelson, Kleber se engalfinhou com Miguel e acabou dando um tiro nele. Tudo foi elucidado pelo Delegado Rômulo Siqueira (Ênio Santos), que entrou na novela especialmente para descobrir o assassino de Miguel.

Água Viva trouxe o horário das 20h para o Vale a Pena Ver de Novo

Em fevereiro de 1984, Água Viva estreou como cartaz da sessão Vale a Pena Ver de Novo, que na ocasião ia ao ar às 13h30. Com efeito, bem diferente de hoje, quando a novela em reprise entra no ar quase às 17h. Na época, devido à Censura Federal em ação e à classificação indicativa de conteúdos, novela das 20h reprisada em horário livre não era coisa corriqueira. Embora tenha passado por alguns cortes para adequação à faixa da tarde, Água Viva foi apresentada quase na íntegra nessa ocasião. Em setembro de 2013, ao ser eleita numa enquete, a novela começou a ser reprisada pela segunda vez, agora no Canal Viva. Só para ilustrar, havia outras três concorrentes à vaga: O Dono do Mundo (1991), Fera Ferida (1993/94) e A Indomada (1997). Todas foram posteriormente apresentadas pelo Viva.

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