Análise

Por que Cobra Kai continua sendo um sucesso?

Examinando as razões do êxito da série sobre artes marciais na Netflix.

Publicado em 14/09/2022

Vez ou outra, nos deparamos com algumas produções – sejam para o cinema, televisão ou streaming – que arrebatam o público de um modo que não surpreende nem um pouco enquanto testemunhamos estas mesmas produções transformarem-se em fenômenos da cultura pop.

Cobra Kai continua no topo do ranking da plataforma Netflix, e imagina-se continuará lá por um pouco mais de tempo, ficando aquela pergunta na mente: quais os motivos de tamanho sucesso? A resposta está lá atrás, e também aqui no presente.

O original Karatê Kid – A Hora da Verdade (1984) de John G. Avildsen, representava a típica história que muitos adoram, no caso, aquela do “vira-lata” que um dia recebe uma oportunidade de mostrar seus reais valores de superação na busca de uma conquista inimaginável.

Passado

Tais histórias apelam com facilidade no emocional do espectador, que por consequência vangloria tais produções ao ponto de espalhar para aqueles que são mais próximos o quão incrível foi aquilo que assistiu, criando assim uma extensão que alcança e ultrapassa certos limites.

É dessa extensão que surgem aqueles chamados fenômenos arrasa-quarteirões como o próprio longa-metragem original de 1984, que teve um orçamento de apenas oito milhões de dólares, capaz de gerar uma bilheteria de 130 milhões de dólares. Praticamente dezesseis vezes aquilo que foi investido.

Ali nascem as grandes franquias, que os estúdios se aproveitam ao máximo, obviamente. O nome Karatê Kid gerou mais três volumes depois do enorme triunfo da obra de 1984: Karatê Kid – A Hora da Verdade Continua (1986); Karatê Kid 3 – O Desafio Final (1989); e Karate Kid 4 – A Nova Aventura (1994).

Se juntarmos os investimentos de cada um dos filmes, chegaremos no valor de pouco mais de 45 milhões de dólares, que geraram uma bilheteria somada no valor de 315 milhões de dólares. Exatamente sete vezes mais aquilo que foi investido!

Dinheiro no bolso

O ‘bom negócio’ é apenas o reflexo daquilo que o público quer e gosta de assistir, e é daí que vem a grande sacada que permite que tais franquias tenham a chance de retornar mais para a frente, ainda como garantias de muito sucesso entre o público geral.

A adoração do passado solidificou de uma maneira que tudo aquilo que envolve aquela franquia torna-se “intocável”. Os tais fãs apegam-se demais naquilo que tanto adoram, desejando que nunca alterem aquilo que tanto amam.

Mas, Hollywood sendo Hollywood, é claro que vão querer mexer. Daí surgem remakes, reboots ou mesmo continuações tardias, como a versão Karatê Kid (2010), estrelada por Jaden Smith – filho de Will Smith – e Jackie Chan.

Foram investidos 40 milhões de dólares na nova versão, que geraram aproximadamente 360 milhões de dólares (nove vezes o que foi investido).

Retorno

Apesar dos altos valores e de um filme minimamente qualificado, notamos algum descontentamento entre os fãs da franquia, que se mostraram contrários, principalmente, com a presença de Jaden Smith como o protagonista dessa história.

Nunca devemos tirar o fator racista de lado dessa equação, vide o que tem sido falado de outras duas franquias poderosas da atualidade, no caso, A Casa do Dragão e O Senhor dos Aneís: Os Anéis de Poder. Ainda assim, alguns argumentam que faltava carisma no jovem ator que é filho de um dos astros mais adorados e conhecidos mundialmente.

Daí vem o salto para 2018 quando alguém muito inspirado chega com a ideia de retornar aquela velha história sobre artes marciais, porém, aproveitando-se dos mesmos atores da série de filmes lançados na década de 1980.

Tal manobra (naturalmente) já traz de volta aquele que um dia na juventude foi um aficionado nos filmes estrelados por Ralph Macchio – hoje com 60 anos – e Pat Morita (1932 – 2005).

Futuro

Contudo, não dá para ficar apostando, obviamente, que atores na casa dos cinquenta ou sessenta anos – por mais carismáticos que sejam – vão segurar nas costas todo o peso de uma franquia que tem como base lutas de artes marciais.

Portanto, torna-se imprescindível a renovação daqueles elementos. Entra um elenco jovem e viril de atores e atrizes mais do que preparados para o tatame, agora, aconselhados e treinados por ninguém menos que os atores veteranos dos filmes que originaram tudo.

Temos aí uma fórmula de sucesso garantida!

Neste mesmo ano de 2022, tivemos outro grande exemplo de um feito que também colocou em prática tais estratégias: Top Gun: Maverick.

De volta para o passado

O longa-metragem encabeçado pelo astro Tom Cruise foi amplamente elogiado pelos críticos, com muitos considerando-o superior ao seu antecessor, arrecadando mais de 1,4 bilhão de dólares (!) em todo o mundo, tornando-se o filme de maior bilheteria do ano e o filme de maior bilheteria da carreira de Cruise.

Ambas franquias funcionam da mesma forma, assim como ambas também alcançaram enorme êxito em suas devidas plataformas de exibição. Top Gun: Maverick nos cinemas, e Cobra Kai no streaming.

Tudo porque não quiseram mudar aquilo que era considerado intocável, enquanto adicionando alguns novos ingredientes, e acima de tudo, tentando manter o mesmo sabor de antes.

Apesar de estarmos no século XXI, não dá para negar que Cobra Kai tem o puro aroma dos anos 1980.