OPINIÃO

Chegou a hora de a Netflix copiar rivais e lançar episódios semanalmente

Modelo de capítulos disponíveis aos poucos é o mais interessante para todas as partes envolvidas

Publicado em 07/06/2022

Em um período de crise no qual juramentos previamente ditos estão sendo quebrados, a Netflix precisa mudar o modelo que ela consagrou no mundo dos streamings, o de lançar episódios de uma só vez. Para melhorar a relevância na mídia e perante o público, além de dar uma boa chacoalhada no mercado, chegou a hora de quebrar esse padrão e, sem vergonha, copiar as rivais, que lançam capítulos das respectivas séries semanalmente e acumulam resultados positivos.

Recentemente, a Netflix fez algo próximo disso com três atrações de peso na plataforma, dividindo temporadas e as lançando com um intervalo curto entre uma e outra. Isso aconteceu com a comédia Grace and Frankie, o drama Ozark e, atualmente, a ficção científica Stranger Things.

A estratégia de episódios semanais é mais benéfica do que tudo despejado de uma só vez. A Netflix vai experimentar um cheiro disso com Stranger Things. A atração teen deve conseguir a raridade de ficar em evidência por mais de um mês, pois o segundo volume da quarta temporada chega no próximo dia 1º, pouco mais de 30 dias após o lançamento do primeiro.

Stranger Things caminha para ser a série de língua inglesa mais vista da plataforma, batendo Bridgerton, na métrica que leva em conta os primeiros 28 dias de disponibilidade. O resultado dos três dias iniciais já foi surpreendente, concretizando o fato do público devorar os novos capítulos de forma alucinada.

Porém, Stranger Things renderia mais, gerando mais engajamento, com episódios semanais. As discussões acerca da trama teriam maior duração e, no mínimo, seriam dois meses de capítulos inéditos na plataforma. Uma série com tanta margem para teorias e projeções se encaixaria perfeitamente nessa fórmula.

Karen Fukuhara (no centro), Laz Alonso e Jack Quaid na 3ª temporada de The Boys
Karen Fukuhara (no centro), Laz Alonso e Jack Quaid na 3ª temporada de The Boys

Lição das rivais

HBO Max, Prime Video, Disney+, Apple TV+… As concorrentes da Netflix apostam em um tática híbrida: lançam no dia da estreia os primeiros episódios de uma temporada (dois ou três) e soltam os outros capítulos semanalmente. É o que neste exato momento está fazendo o Prime Video com The Boys e o Disney+ com Obi Wan-Kenobi.

Nesta semana, as discussões acerca de The Boys englobam os episódios lançados na última sexta-feira (3), abordando novidades e projetando o que virá pela frente. Isso irá se repetir semana após semana até 8 de julho, quando a atual leva irá terminar.

Muita coisa se perde com os episódios lançados em uma tacada só. Quando a temporada é grande, com 13 capítulos por exemplo, aí que a coisa se agrava. Aquele recheio no meio se perde na maratona, com o público ansioso para cruzar a linha de chegada.

Stranger Things até obteve uma raridade ao tornar bem falado o quarto episódio (de sete) do primeiro volume da atual leva. Geralmente, se comenta mais o desfecho das temporadas de séries da Netflix do que o ocorrido durante a trama.

A Netflix tinha jurado de pés juntos que nunca iria exibir anúncios na plataforma, mas a crise financeira fez a promessa ir aos ares. Também dizia jamais exibir esportes, possibilidade atualmente discutida com seriedade. Ambas as coisas todas as rivais fazem, sem qualquer receio.

O momento é de a Netflix seguir a concorrência e abandonar juras antigas. O resultado midiático da quarta temporada de Stranger Things pode ser a comprovação definitiva de que a Netflix pode se posicionar melhor no mercado aguerrido dos streamings com uma ou outra série lançada semanalmente. Um teste é mais do que válido. ⬩

(nota: atrações como Better Call Saul, com episódios semanais, não são produções originais da Netflix; a gigante do streaming compra o direito de exibição. No caso, Better Call Saul tem capítulos inéditos exibidos nas noites de segunda-feira no canal americano AMC e, no dia seguinte, ocorre o lançamento na plataforma para todo o mundo).

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