50 anos de TV

Com personagens lineares, Flávio Migliaccio encantou gerações com seu talento

Flávio Migliaccio levou o talento do Teatro Arena para as telonas e telinhas, onde se eternizou com tiozões e viúvos cômicos

Publicado em 04/05/2020

Foi encontrado morto, na manhã desta segunda-feira (4), em seu sítio em Rio Bonito, no Rio de Janeiro, Flávio Migliaccio

Dono de um talento único, o ator, que iniciou a carreira no teatro de rua das periferias da capital paulista, tinha em sua veia cômica o melhor de seus atributos.

No Teatro de Arena, onde fez história, o pupilo do italiano Ruggero Jacobbi abriu espaço para se consagrar no cinema com o Tio Maneco, personagem aventureiro do longa Aventuras com Tio Maneco, comédia dos anos 70 também produzida pelo próprio Flávio.

Flávio Migliaccio como Tio Maneco no cinema
Flávio Migliaccio como Tio Maneco no cinema Foto Divulgação

O icônico tio que colocava os sobrinhos em diversas emboscadas foi parar na TV, em uma série homônima da TVE e rendeu, ainda, continuação na telona.

Naquela mesma década, o ator também passou a deixar seu rosto conhecido na televisão. Xerife, seu personagem da novela O Primeiro Amor (1972), de Walther Negrão, ganhou uma série, que ficou no ar de 1972 a 1974.

Paulo José e Flávio Migliaccio como Shazan e Xerife nos anos 70
Paulo José e Flávio Migliaccio como <em>Shazan e Xerife<em> nos anos 70 Foto DIvulgaçãoTV Globo

Em Shazan, Xerife e Cia, série supervisionada por Daniel Filho, o mecânico atrapalhado protagonizou ao lado de Shazan (Paulo José) aventuras pelo país a bordo de sua camicleta (caminhão com bicicleta) à procura de emprego e aventuras, deparando-se com as mais inusitadas situações.

O entusiasmado personagem arrancou risadas e cativou desde crianças a idosos, principalmente pela busca de realizar seu grande sonho: construir a bicicleta voadora.

Nas novelas, um misto de comédia e emoção

Anos mais tarde, novas gerações estiveram em contato com a grandiosidade de seu talento nas telenovelas, especialmente pelos papéis populares que ele viveu.

O destaque de Flávio Migliaccio nos folhetins surgiu, principalmente, nas obras de Silvio de Abreu, atual chefe da teledramaturgia da TV Globo.

Em 1990, o ator deu vida a Seu Moreiras, o verdureiro do bairro de Maria do Carmo (Regina Duarte), a Rainha da Sucata. Com um ar simples e desprezado pela filha Nicinha (Marisa Orth), o comerciante sustentava não só a família como enchia de mimos sua pretendente, Dona Armênia (Aracy Balabanian).

Flávio Migliaccio e Aracy Balabanian como Seu Moreiras e Dona Armênia em Rainha da Sucata
Flávio Migliaccio e Aracy Balabanian como Seu Moreiras e Dona Armênia em <em>Rainha da Sucata<em> Foto DivulgaçãoTV Globo

Apesar de sempre provocar um riso com seu jeito desleixado, a atuação de Migliaccio na trama abria espaço para que o telespectador enxergasse a ingenuidade da personagem, que escondia por trás de todo seu jeito rude e inconformado com a ‘fama’ da filha solteira, um humano carente e solitário.

A dureza ao mesmo tempo carinhosa que Migliaccio entregou a Seu Moreiras também pôde ser percebida pelo público dois anos depois, em Perigosas Peruas, novela de Carlos Lombardi.

Flávio Migliaccio como Venâncio em Perigosas Peruas
Flávio Migliaccio como Venâncio em <em>Perigosas Peruas<em> Foto DivulgaçãoTV Globo

Na trama das sete, o ator interpretou Venâncio, ex-militar inconformado com a situação caótica do País. Pai da protagonista Cidinha (Vera Fischer), o delegado linha dura não protegeu nem mesmo a própria filha e viveu um drama na relação com o filho, João Maluco (Felipe Martins).

Sua relação com o filho foi interrompida quando o menino tinha apenas dez anos e fugiu de casa, sob a acusação de ter acidentalmente matado a mãe.

Em 1995, divertiu os telespectadores na pele do Tio Vitinho, feirante que trabalhava junto com o protagonista Juca (Tony Ramos), seu sobrinho. Divertido e mulherengo, o personagem desejava, loucamente, a prostituta Quitéria (Vera Holtz) e acabou envolvido com Marizete (Catarina Abdalla).

Flávio Migliaccio como Tio Vitinho em A Próxima Vítima
Flávio Migliaccio como Tio Vitinho em<em> A Próxima Vítima <em>Foto ReproduçãoViva

Em Senhora do Destino (2004), o ator voltou a chamar a atenção do público com mais um de seus personagens solitários e turrões. Seu Jacques, pai de Alberto (Thiago Fragoso) era um aposentado casca grossa caidinho por Djenane (Elizângela) e que vivia de olho nas artimanhas de Nazaré (Renata Sorrah).

Flávio Migliaccio como Seu Jacques em Senhora do Destino
Flávio Migliaccio como Seu Jacques em <em>Senhora do Destino <em>Foto ReproduçãoTV Globo

Na novela, ele tocou o público com cenas comoventes do personagem que também enfrentava os dramas do alcoolismo. Antes de despedir-se do horário nobre como autor, Silvio de Abreu escalou Flávio Migliaccio para viver Fortunato.

Jackie (Alexandra Richter) e Fortunato (Flávio Migliaccio) em Passione
Jackie Alexandra Richter e Fortunato Flávio Migliaccio em<em> Passione<em> Foto ReproduçãoTV Globo

Novamente como o tiozão que o consagrou no início da carreira, o ator divertiu a galera vivendo o irmão da falecida mãe de Olavo (Francisco Cuoco), um idoso descolado, que vivia como cão e gato com Clô (Irene Ravache), a sobrinha do emergente empresário.

Com papéis parecidos, Flávio Migliaccio se despediu do público na TV trocando o tiozão a la brasileira por um tipo das Arábias. De 2011 a 2015, o ator ficou marcado para as novas gerações como Seu Chalita, um libanês viúvo de meia idade que quer se casar de qualquer forma.

Flávio Migliaccio como Seu Chalita em Tapas e Beijos
Flávio Migliaccio como Seu Chalita em <em>Tapas e Beijos<em> Foto DivulgaçãoTV Globo

Em Órfãos da Terra, sua última novela na TV, Flávio encarnou novamente um personagem árabe do núcleo cômico. Mamede era um imigrante que não simpatizava em nada com seu vizinho, o judeu Bóris (Osmar Prado).

Os dois travaram ao longo da trama, uma rivalidade, a princípio por causa de seus cães e depois, pela paixão entre os netos, Ali (Mouhamed Harfouch) e Sara (Verônica Debom).

Mamede (Flavio Migliaccio) e Bóris (Osmar Prado) em Órfãos da Terra
Mamede Flavio Migliaccio e Bóris Osmar Prado em <em>Órfãos da Terra<em>

*Com informações de Nilson Xavier

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