“Não! Eu não sou contratado há 15 anos”, revela Selton Mello sobre relação com a Globo

Publicado em 09/01/2016

Selton Mello está radiante. Não seria para menos, o ator e diretor é protagonista da série Ligações Perigosas, baseada no livro homônimo do escritor francês Pierre Choderlos de Laclos. Em uma conversa intimista com nossa equipe, o artista falou de sua volta à telinha e confessou que esse projeto o motivou muito. “Desde O Auto da Compadecida e Os Maias, que eu não ficava tão entusiasmado com um trabalho como essa aqui. Acho que isso diz muito”, relatou o interprete.

Qual foi o maior desafio para compor esse personagem?

“Não sei qual foi o maior desafio. Acho que tudo! A série foi um trabalho difícil de fazer. Um trabalho rico e complexo. A gente ficou muito encantado em fazer e espero que o público se encante também. Não foi mais um trabalho que eu fui lá fazer. Foi um trabalho que mexeu bastante comigo. Eu me apaixonei!”

Como está sendo retornar a tevê? E, por que aceitou participar de Ligações Perigosas?

“Fazia tempo que eu não atuava. Meu ultimo trabalho na Rede Globo foi a série A Mulher Invisível, que foi exibida em 2011. Fiquei dedicado três anos ao seriado Sessão de Terapia, que foi exibido no GNT, projeto que eu tive o prazer de dirigir. Quando me convidaram para participar da série Ligações Perigosas, eu fiquei louco. Porque a minha geração viu o filme homônimo, que passou na tevê na minha época. A versão mais famosa, de 1988, que foi dirigido por Stephen Frears e baseado no clássico da literatura francesa Les liaisons dangereuses, de Pierre Choderlos de Laclos. Os personagens dessa série são incríveis. São personagens clássicos, extraordinários e maravilhosos. De cara eu gostei da ideia. E, as peças eram muito boas. Nunca trabalhei com a Patrícia Pillar, nunca trabalhei com a Marjorie Estiano. Esse é o triangulo principal. Tenho total admiração pelas duas. Fiquei com muita vontade de trabalha com elas. Então, acho que foi uma combinação de coisas. Um grande personagem, perfeito para a minha idade. E, a maturidade que eu estou agora. O encontro com essas atrizes que eu admiro. Tudo se encaixou. Tudo foi uma boa junção.”

Você tem vontade de voltar a fazer novelas? Você assisti a essas tramas?

“Eu não volto por causa da duração. Mais por causa do tamanho da novela. Muitas vezes, a novela consome mais de um ano de trabalho seu. Eu assisto pouca coisa. Eu vi bastante de ‘Verdades Secretas’, e, gostei muito. Tem vários projetos que eu queria ter feito parte. O meu problema é que a minha vida é muito dinâmica. Em 2016 lanço filme novo. Trabalhos mais curtos facilitam a minha vida (risos). É isso. Mas, convites para voltar a fazer novelas eu sempre recebo.”

Você é contratado da TV Globo?

“Não! Eu não sou contratado há 15 anos.”

Como foi a composição desse personagem tão sedutor?

“O ator é observador. O ator não para de ler. Aliás, se não ler, está perdido. De ler, de se preparar, estudar, ficar de olho na vida e tudo. Então, não foi exatamente uma preparação. Eu li o roteiro e acabei entendendo o personagem. Entendi a logica dele. Anos 20, outros conceitos, outra época da sociedade, outra maneira de se comportar, outro raciocínio, outro tudo. Então, a gente leu. Lemos todos juntos. Todo o elenco, junto com a Manoela Dias, que é adaptadora e escritora da nossa série. Ela fez um excelente trabalho. Pois, o livro original é só de carta. Então, pegar um livro que é só de carta e transformar em dramaturgia e diálogo não é fácil. Tem um mérito dela. A direção do Vinicius Coimbra e da Denise Saraceni está linda. A gente tem muito orgulho. Está muito requintado, muito caprichada a fotografia, figurino, direção de arte, enfim, está tudo impecável. É tudo alto nível. A gente está bem feliz de estar aqui.”

E, essa troca com a Patrícia Pillar?

“Está sendo maravilhoso! Uma companheira maravilhosa, descobri que ela é capricorniana que nem eu. Não sabia! Então, são dois obsessivos. Os personagens, são uma dupla de ex-amantes ou atual – o relacionamento deles é meio louco, que acabam seduzindo a sociedade toda. Por prazer, para testar as pessoas ou para si testar e ver que todos são vulneráveis, menos eles. Então, é uma trama muito boa, muito rica de sedução, de traição, de amor – ai entra o personagem da Marjorie Estiano. No meio disso, ele vai seduzir o personagem da Marjorie e, ele acaba se encantando. Ai, perde as estribeiras do jogo, que estava sendo traçado com a personagem da Patrícia Pillar. Costumo dizer, que é sempre bom revisitar um clássico. Um livro de 1782, que continua atual. A série se passa nos anos 20, no Brasil, numa adaptação pra gente. Entretanto, as tramas e a humanidade do personagem permanece ali.”

Qual foi a principal dificuldade em criar esse personagem?

“Acho que quando você está apaixonado por uma coisa que você está fazendo, e, eu estou. Não se tem dificuldade nenhuma. É um prazer enorme estar aqui, não estou aqui fazendo mais um trabalho. Estou aqui, porque eu quero muito estar aqui. Estou adorando as pessoas, a equipe. Estou meio apaixonado pela Aracy Balabanian. A gente está quase tento um caso (risos). Ela é adorável! A classe toda fala muito bem dela. Nunca tinha trabalhado com ela. A gente tem uma relação gostosa, do outro lado do personagem. De tia com o sobrinho. E, ela é muito gente boa, muito divertida. A gente morre de rir de suas piadas. Eu tenho um carinho enorme pela Aracy. Estou adorando trabalhar com ela também.”

Você está falando que está muito apaixonado pelo projeto. O que você ainda pensa em viver na tevê?

“Eu não sei! Eu nunca pensei nisso.”

Você sente falta em fazer novela?

“Não faço novela há 15 anos. Eu continuo vivendo a minha vida. Fazendo cinema, dirigindo, fazendo coisas. Dirigindo cinema, televisão. Eu também já dirigi aqui. Na série A Mulher Invisível, eu era um dos diretores. Eu estou bem realizado. Fazendo as coisas que eu gosto. Acho que essas coisas de dirigir e atuar me dá uma mobilidade boa. Se quero dirigir, vou lá e dirijo. E, se quero atuar, vou lá e atuo. Então, isso nunca me deixa ficar entediado ou ficar fazendo um trabalho burocrático. Estou sempre inteiro, onde eu estou. Eu estou inteiríssimo aqui. Feliz de estar aqui.”

A cenografia ajuda a compor o personagem?

“Ajuda muito! Interessante essa pergunta. Muitas vezes a gente ler, estuda, se prepara e tal. Mas, quando você coloca a roupa do personagem e chega ao lugar para gravar, já muda a sua postura. Então, o trabalho da equipe é muito bom. Ajuda muito na composição.”

Hoje, como diretor, você vê o trabalho de ator de uma forma diferente?

“É tudo diferente! Pois, eu sei o que acontece por trás. Agora que eu vivi o outro lado, eu sei o trabalho que dá. Tem trilha, edição, etc. Mas, é ótimo quando eu atuo, que eu me sinto mais leve. Porque entre aspas, é mais fácil. Assim, eu só tenho que pensar no meu. Sabe? Quando eu dirijo, eu tenho que pensar em tudo. O que é muito prazeroso também. Mas, o fato de ter dirigido me deu a dimensão daquela coisa inteira. Isso é bom, é legal assim. Hoje, eu fico em cena sabendo de todos os pepinos que tem por trás.”

Você começou muito cedo na profissão. Como você vê essa galera que não querem ser ator/atriz, e, sim, celebridade?

“É escolha de cada um. Uma coisa geracional também. Não sei. Na verdade, sempre teve bons e maus atores. Sempre teve. Mas, tem muita gente boa. Olha a Grazi Massafera. Arrasou em Verdades Secretas. A gente trabalhou juntos no filme Billi Pig (2011). Ela é muito dedicada. Eu sacava que ela estava querendo ir além. E, agora você vê o sucesso que ela está fazendo. Merecidíssimo! E, tantas outras pessoas.”

Muita gente cobrava para você voltar para a telinha?

“Não! A cobrança tem sido de um ou outro, que me para e pergunta sobre a minha volta: ‘que saudade de ver você na televisão’. Acho legal, essa galera que me acompanha desde criança. Pra mim, tem um sabor especial. Eu comecei na TV Globo em 84, na novela Corpo a Corpo, de Gilberto Braga. Isso em 84, ou seja, 31 anos de carreira. Entrei com 11 anos de idade. Então, tem muita gente que trabalha aqui, que me conheceu criança. Muita gente comenta que nos intervalos, eu ficava mexendo na câmera. Já era, o diretor, que eu viraria no futuro. Ou seja, eu já me interessava pelo que tinha por trás. Como eu cresci aqui dentro, isso era o meu parque de diversões. Aqui foi o meu mundo, a minha imaginação, foi aqui que eu aprendi e exercitei.”

Qual é a sua maior inspiração?

“Minha maior inspiração é continuar fazendo trabalhos que me motivem. Que entregarei para o público algo do coração, como é esse aqui.”

O que mais podemos esperar de Ligações Perigosas?

“O público pode esperar um projeto lindo. Desde O Auto da Compadecida e Os Maias, que eu não ficava tão entusiasmado com um trabalho como essa aqui. Acho que isso diz muito.”

Estamos no verão. Qual é a praia que você curte no Rio de Janeiro?

“Eu não vou à praia nunca. Eu não sei nadar (risos). O dia em que vocês me verem fazendo um surfista. Vocês vão falar que eu sou um bom ator (risos).”

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