Antonio Fagundes comemora parceria com Grazi Massafera em Bom Sucesso: “Uma gracinha de pessoa”

Publicado em 03/07/2019

Antonio Fagundes será Alberto Prado Monteiro em Bom Sucesso, próxima novela das sete da Globo. Escrita por Rosane Svartman e Paulo Halm, a trama traz o personagem como dono de uma grande editora Prado Monteiro, que está à beira da falência.

Além disso, Alberto é um homem que enfrenta uma doença terminal, mas acaba sendo surpreendido ao receber um exame que aponta a sua cura. No entanto, os papéis foram trocados. O exame que mostra a doença do rapaz foi parar nas mãos de Paloma (Grazi Massafera), que passa a acreditar que tem apenas seis meses de vida.

Em entrevista ao Observatório da Televisão, Antonio Fagundes comentou um pouco sobre essa atmosfera do seu nove personagem, bem como a amizade que nascerá entre Alberto e Paloma.

Fagundes também falou sobre trabalhos de sucessos, como o feito em Por Amor, teatro, relação com as mídias sociais e o atual momento cultural no Brasil. Confira a seguir:

Como será o seu personagem em Bom Sucesso?

Alberto Prado Monteiro, o dono de uma grande editora. Ele começou vendendo enciclopédias de porta em porta, comprou uma editora e foi crescendo. Ele foi editando enciclopédias, clássicos, uma linha cultural bastante forte. Naturalmente, a cultura começa a cair, ele teimosamente não quer mudar a sua linha editorial e a editoria começa a passar por problemas. A novela começa quando ele está passando por problemas por causa dessa linha editoria mais culta, digamos assim. Junto com isso, vem um problema em que ele tem uma doença terminal. A novela começa com a droga de exames. Logo no comecinho, ele recebe um exame dizendo que está bom e curado. Isso dá um alívio muito grande para ele, até descobrir que o exame foi trocado.”

Consequências da troca de exames

Essa troca de exames vai desencadear problemas ao longo da trama, né?

“Na verdade, o grande problema é que nessa troca de exames o personagem da Grazi [Massafera] recebe o exame dele, que tem seis meses de vida. Ela acha que tem seis meses de vida e começa a chutar o pau da barraca. Mas logo que eles descobrem essa troca, fica uma curiosidade da parte dos dois: um querendo saber quem vai viver, e o outro querendo saber quem vai morrer. Eu acho que esse é o grande interesse da novela, porque aborda esse aspecto da vida e da morte de uma forma diferenciada, com um certo frescor. É uma coisa que a gente quase nunca fala. É gozado isso porque não falamos de duas coisas: da velhice e da morte. Se a velhice chegar é porque nós não morremos. Se não chegar é porque morremos antes. Essas duas coisas são bastante presentes na vida da gente a partir dos 20 anos de idade. A partir dos 20 anos, as nossas células começam a envelhecer e a gente não se prepara para isso. Tem até uma frase do Goethe [escritor alemão] que diz: a velhice nos pega de surpresa. É uma loucura porque estamos envelhecendo a cada minuto da vida. Então é bom que a gente se prepare e organize.

Antonio Fagundes como Alberto, protagonista de Bom Sucesso
Antonio Fagundes como Alberto, protagonista de Bom Sucesso (Foto: Globo/João Cotta)

Parceria com Grazi

Como está sendo a parceria com a Grazi Massafera? Como será a relação do Alberto e Paloma?

Fizemos uma novela, mas não era junto porque era núcleos separados. Agora, essa é a segunda vez [no mesmo projeto], e graças a Deus é junto porque ela é uma gracinha de pessoa e uma atriz ótima. O personagem dela é muito bom e a relação dos dois vai ser muito interessante. Eu gosto sempre de falar de um livro da Ana Claudia [Quintana Arantes], que praticamente está nos estimulando nessa novela, chamado ‘A Morte É Um Dia Que Vale A Pena Viver’. Ele fala sobre cuidados paliativos e que é uma forma diferenciada de encararmos a morte. A morte não como doença, mas como um limite para a sua vida. Então, ao invés de tratar a doença até a hora da morte, vamos tratar da pessoa enquanto ela está viva. Isso é uma coisa que a novela vai passar muito bem. Essa coisa de que é interessante você estar bem quando morrer. Eu quero estar bem de saúde quando morrer.”

Antonio Fagundes e Grazi Massafera caracterizados como Alberto e Paloma
Antonio Fagundes e Grazi Massafera caracterizados como Alberto e Paloma (Foto: Globo/João Cotta)

Semelhança com o personagem

Então esse universo literário do seu personagem acaba sendo meio que um parque de diversão para você, né?

Eu já falei que vai ficar um buraco [na estante] porque vou roubar uns livrinhos de vez em quando [riso].”

Envelhecimento e cuidados com a saúde

Como você lida com o envelhecimento?

Eu sempre lidei muito bem. Sempre brinquei que eu tinha uma nostalgia da velhice. Eu sempre queira ser mais velho porque achava que a velhice seria uma coisa interessante. Agora que estou mais velho, estou confirmando isso. É muito bom! Claro que não pode subir mais a escada de três em três [degraus], mas sobe de dois em dois. Depois sobe de um em um, depois não sobe escadas [risos]. De qualquer forma, é uma coisa que eu lido muito bem.”

Como você cuida da sua saúde e do seu bem-estar?

Eu confesso que sempre fui muito preguiçoso, nunca fiz exercícios. Mas agora comecei a fazer um pouquinho porque começou a dor nas costas. Tem uma frase do Oscar White que eu adoro, ele dizia assim: tudo com moderação, inclusive a moderação. Essa frase define o que eu quero para a minha vida. Eu quero fazer as coisas que tenho que fazer, mas moderadamente, inclusive dentro da própria moderação. Eu quero fazer exercícios, mas não quero ser um atleta. Eu quero fazer um cuidado alimentar, mas não quero me restringir e deixar de comer algumas coisas gostosas. Estou me cuidando assim.”

Amor pela leitura

Você é uma pessoa adepta da leitura. Essa dedicação ao universo dos livros ajuda na saúde mental?

Tudo está na cabeça. Temos tudo ao alcance das mãos, inclusive esses aparelhinhos [risos]. Se parar para pensar, o tempo que você leva limpando o WhatsApp, e tem que fazer senão fica muito carregado, mais ou menos, dá umas duas ou três horas por dia. Se você ler durante duas ou três horas por dia qualquer livro, você vai ler dois ou três livros por semana. E vai sobrar muito mais do que uma limpeza do WhatsApp. A limpeza do WhatsApp é nada, é uma limpeza mecânica. A leitura faz você sair com alguma coisa.”

Retorno à TV

Como está a expectativa para mais um trabalho na teledramaturgia? Os canais Globo e Viva já estão reprisando Por Amor e Porto dos Milagres.

Eu estou até com medo do público falar que não me aguenta mais. Mas isso é uma forma interessante de a gente ver a evolução de algumas coisas e a involução de outras. Ganhamos umas coisas com as nossas telenovelas, mas, ao mesmo tempo, parece que perdemos outras. Algumas novelas muito antigas fazem sucesso por causa de um tipo de ritmo que as pessoas dizem que hoje em dia ninguém mais está a fim de suportar. Pelo contrário, as pessoas hoje em dia, ao meu ver, estão precisamos de mais tempo, silêncio, calma. Tem até um movimento chamado ‘Slow’ que é para você fazer tudo com mais calma: comer com mais calma; ver um filme mais lento; para você deixar o seu conhecimento sedimentar na cabeça. E não estamos deixando, é tudo muito rápido. Ganhamos essa velocidade, que é uma coisa interessante. Mas é interessante, para mim, como uma moda passageira. Eu gosto das coisas que fazem a gente pensar.”

O público comemorou o teaser de Bom Sucesso, onde você narra a história. Como você lida com esse carinho do público vibrando com o seu retorna à TV?

É engraçado porque parece que quando você não faz novela, você não está no ar. E eu fiz um monte de coisas. Fiz Dois Irmãos, Se Eu Fechar Os Olhos Agora, mas isso não conta. Eles [os telespectadores] querem 200 capítulos [risos].”

O poder do teatro

Você está em cartaz recentemente com a comédia Baixa Terapia. O teatro tem esse poder de fazer as pessoas desacelerarem e absorverem mais as informações?

“O teatro ainda é uma coisa revolucionária. Hoje em dia é revolucionário reunir 700 pessoas em uma plateia, durante uma hora e meia no escuro, sem mexer na maquininha infernal e prestando em seis atores desenvolvendo uma ideia. Isso é uma revolução! É uma peça que mexe com a cabeça das pessoas, uma comédia hilariante, as pessoas morrem de rir. Ou seja, elas estão em contato com o que está acontecendo ali a cada segundo e, ao mesmo tempo, é mais calmo do que qualquer coisa que você possa ver no Iphone.

Antonio Fagundes em cena na peça Baixa Terapia
Antonio Fagundes em cena na peça Baixa Terapia (Foto: Divulgação)

A peça pode entrar em cartaz no Rio de Janeiro?

Eu estou tentando. A peça está há dois anos e meio em cartaz. No Rio de Janeiro, as coisas são complicadas para nós porque não conseguimos apoio. Os hotéis não reduzem os preços [de hospedagem], a passagem de avião é a mais cara do Brasil. A alimentação também não consegue. Quando você viaja com uma peça de teatro, tem todos os custos de manutenção mais todos esses outros. O meu elenco e equipe é todo de São Paulo. Os teatros do Rio de Janeiro, por incrível que pareça, são os mais caros que os de São Paulo. Então é tudo para a gente não vir, mas nós viremos. Baixa Terapia está chegando.

Cultura no Brasil

Como está sendo fazer teatro atualmente, onde a cultura não está tendo o seu devido reconhecimento e apoio?

É terrível esse momento em que estamos passando porque é um momento de desmanche. Estamos vendo os museus sendo ameaçados com cortes de verbas, as pinacotecas. Quando falamos de cultura, sempre pensamos nas coisas mais próximas: teatro, cinema. Mas não é só isso, tem: circo, dança, música, pinacotecas, patrimônios históricos. Estamos vendo os museus pegando fogo e não vendo nada sendo feito para que eles sejam reconstruídos. Nós vimos, recentemente, uma igreja em Paris pegar fogo. Em dois minutos, eles [as autoridades] prepararam que em cinco anos aquilo vai estar pronto e vai ser melhor do que a Notre-Dame, se isso é possível. Eles vão conseguir porque houve um conjunto de medidas tomadas pelo governo e a iniciativa privada para que aquele patrimônio não se acabasse. Até porque, eles sabem que uma vez acabado nunca mais vai ser reconstruído, vai ser difícil reconstruir se demorar…”

“O governo tem obrigação, sim, de investir em cultura”

“… Aqui no Brasil percebemos isso. Então, realmente, são momentos complicados. O governo tem obrigação, sim, de investir em cultura. Tem algumas coisas que se o governo não subsidiar não irão para frente. Uma pinacoteca nunca vai resistir com um ingresso cobrado. Aliás, não é esse o objetivo de uma pinacoteca. O objetivo de uma pinacoteca é abrir às pessoas que não têm acesso fácil a cultura, um acesso gratuito. O governo tem a obrigação de fazer isso. No entanto, eu não gosto de trabalhar com patrocínio. Eu gosto de saber que a minha relação é feita diretamente com a plateia. O que acontece comigo de diferente nesse sentido é que eu estou há dois anos e meio em cartaz por causa disso. Nós já tivemos quase 250 mil espectadores. Fizemos inclusive viagens internacionais com a peça, fomos aos Estados Unidos e Portugal. Em Portugal tivemos mais de 60 mil espectadores. Eu brinco que quase Portugal inteiro foi ver a gente [risos]. Se não fosse o patrocínio, nós não teríamos o Da Vinci, Michelangelo, Beethoven e as grandes obras de artes que conhecemos. Todas elas foram subsidiadas, tem que ser subsidiadas. Não teríamos grandes movimentos culturais se não tivesse dinheiro envolvido.”

Sucesso de Por Amor

As pessoas estão te abordando nas ruas por causa da reprise de Por Amor, te chamando de Atílio? O que fez essa novela ser um sucesso?

Parece que é a quinta vez que passa. Mas é o que falamos no começo, é uma novela que tem um ritmo diferenciado. Outro dia, eu vi uma cena minha com a Regina Duarte que tinha 15 minutos, era quase um bloco inteiro. Era eu e ela na cama conversando. Era uma cena deliciosa porque você permite ao público ir devagar junto com o personagem. Você não encaminha o público para aquilo que você quer que ele pense. Ele que vai pensando de acordo com o que vai sendo mostrado para ele. Eu acho que isso era um ganho que as novelas tinham antigamente e que perdemos um pouquinho. Seria bom se conseguíssemos recuperar. Não é à toa que as pessoas se reconhecem na novela, curtem e que está dando o ibope que dá num horário completamente louco, à tarde. Isso vai acontecer com todas as novelas daquela época, que têm esse tipo de ritmo. Aconteceu com ‘A Viagem’, ‘Renascer’, ‘O Rei do Gado’. Eu estou falando as novelas que fiz, mas com as outras novelas também daquela época. São novelas que fazem o público pensar e não se distrair totalmente.”

O Atílio é sucesso entre a mulherada, né?

O Atílio é perfeito com mulheres. Ele é quase chato, faz salada. Elas querem um Atílio na vida delas.”

Aprendizado e relação com a internet

Qual o maior ensinamento que você tirou ao longo de sua carreira artística?

A gente vai tirando ainda, para mim é um processo. Às vezes, as pessoas perguntam qual trabalho eu achei mais [importante]. É difícil selecionar porque para mim é um arco que estamos vivendo, e eu estou ainda no arco. Tem muitas experiências tiradas, uma delas é a importância da cultura em um país, em uma civilização. Sem a cultura, você não tem cidadania, ética, discussão que forma uma nação. Sem a cultura você não entende o outro, você não vive os seus problemas com consciência. Educação e cultura são importantíssimas. Estamos vivendo momentos tristes nesse sentido, onde isso tudo tem sido deixado de lado. É preciso que prestemos atenção que, algumas coisas que venhamos deixar de lado, serão irrecuperáveis. Tem coisas que você não recupera e tem coisas que, mesmo você querendo muito, vai levar décadas para recuperar. É um momento delicado que estamos vivendo no Brasil e no mundo, inclusive com todas essas tecnologias que estão vindo. São maravilhosas, agilizam as nossas vidas, nos fazem trabalhar de uma forma mais eficiente, mas podem trazer consequências graves se não prestarmos atenção nas coisas ruins que a tecnologia tem.”

Qual a sua relação com as plataformas digitais? Você utiliza as redes sociais?

Não tenho nada! Não tenho nem computador. Eu tenho um Instagram que não é meu. É uma fã minha de Portugal, que gosta muito de mim e fez. Inclusive, ela coloca ‘Antonio Fagundes não tem nenhuma rede social’. É que ninguém lê! Todo mundo acha que é meu, mas está lá escrito. Parece que tem um Facebook também, que é de outra portuguesa.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

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