Supermax faz temporada corajosa, mas peca pelo excesso

Publicado em 14/12/2016

Por Lury Viana

No início de 2016 tivemos um trailer de uma nova série que a Globo iria passar em algum momento no decorrer do ano. Para surpresa de todos, a série era mais voltada para o terror e suspense: Supermax. A série estreou em meio todo a um “hype” que foi criada em cima dela, por ser um produto inovador para dramaturgia brasileira. Mas antes da sua estreia “oficial” percebemos que algo estava errado, já que dos 12 episódios produzidos, 11 foram distribuídos na internet antes mesmo do início do primeiro episódio.

Esse efeito pode ter sido visto em várias ocasiões, como no caso do excesso de spoilers que se lia na internet, bem como a baixa audiência da série. Mas ai temos a questão a seguinte questão: “E a história é boa?”. E eu respondo, sim, mas poderia ter sido bem melhor do que foi apresentado.

A história nos apresenta doze participantes de um reality show dentro de uma cadeia de segurança máxima, a Supermax. Cada um deles tem um segredo e a própria instituição também esconde seus mistérios em suas profundezas. No decorrer da trama, eles percebem que foram abandonados pela produção do programa, mas que não estão sozinhos dentro da Supermax, e se quiserem sobreviver terão que lutar por suas vidas para sair daquele inferno.

Falando desta forma é notório que a série tinha um grande potencial para se tornar uma ótima série de terror tupiniquim. Mas tiveram uma infinidade de falhas que fez com que a série se tornasse algo menos atrativo a cada novo episódio.

Para começar, devemos falar das atuações. As atuações de todos os personagens eram mecânicas, sem vida, a única que se destacou positivamente foi Cleo Pires e sua Sabrina, que conseguiu ser o mais verossímil possível. O mesmo não ocorreu com Mariana Ximenes, que ficou presa em uma personagem soturna que emanava morbidez, mas que ficou extremamente exagerada ao ponto de ser caricata.

Mas não podemos apenas culpar a atuação dos atores, se temos um outro problema bem sério, como o roteiro. Os diálogos dos personagens eram extremamente artificiais, de forma que chegava a incomodar. Pesaram muito a mão quando tentaram colocar um ar de mistério nas falas, já que tudo deixava tudo muito dúbio, em um tom muito acima.

A história em si não é ruim, muito pelo contrário, tinha um grande potencial, ainda mais por ser uma novidade. As falhas começaram com a questão de que a série foi vendida como terror sobrenatural, e no final se tornou uma série com um tom de suspense. Outra questão foi o número excessivo de episódios, pois em alguns momentos a história só circulava no mesmo lugar, sem de fato seguir em frente e ter alguma novidade.

A trama começou a ter um maior desenvolvimento com o surgimento do vírus e do vilão Baal, onde de fato vimos quais as reais ameaças dentro da Supermax, o que foi um pouco frustrante, pois passamos vários episódios presos com os personagens acreditando que tudo ainda fazia parte do jogo, o que fez a trama ficar extremamente repetitiva em seu início. E se formos pensar, o desenvolvimento de Baal, que foi de praticamente um episódio, foi bem mais atrativo do que dos demais personagens. Tivemos ali um vilão determinado, que flertava com a insanidade e o sobrenatural, de forma que essa livre interpretação de quem de fato é Baal, trouxe um charme a mais para dentro da série

O surgimento de um antagonista, mesmo que bem tardio, trouxe mais gás a trama, fazendo a série virar um jogo de gato e rato em sua reta final, onde ele tinha o objetivo de capturar todas as mulheres para procriar e ter seus 450 profetas, e eliminar todos aqueles que o atrapalhasse. E podemos dizer que Baal foi de fato um vilão carismático. O lado ruim foi não ter aproveitado todo seu potencial antes, deixando a ação e todas as resoluções próximo ao final, o que é costume na dramaturgia brasileira.

O final foi um tanto apressado, como se quisesse correr atrás do tempo perdido, pois simplesmente deixaram para os últimos minutos todo banho de sangue e explicações. E por mais que tudo possa ter sido convincente, faltou um pouco mais de desenvolvimento. Poderiam ter eliminado os personagens ao longo dos episódios, poderiam ter dado um pouco mais de respostas durante os episódios, mas preferiram acelerar tudo, o que fez o final de Supermax ficar um tanto quanto mediano.

A série, no quesito história, teve um início interessante, um meio bem preguiçoso e um final apressado, mas que de certa forma respondeu a quase todas as respostas de forma coerente, sem precisar de explicações mirabolantes. Eles conseguiram usar bem toda a mitologia que a série criou para o próprio bem.

Supermax também pode ser considerada uma série corajosa, pois tocou em temas que são “pesados” para a sociedade, como a questão de abuso sexual, estupro, suicídio, transsexualidade, eutanásia. E o mais interessante é que tudo era mostrado de forma nua e crua, onde não tinha uma interpretação, mas sim aquilo que estava sendo mostrado. Isso deixou a série ainda mais obscura e ajudou a entender cada vez mais tanto os personagens como suas ações. A única ressalva é de não terem de fato desenvolvido tanto estes temas, mas só pelo fato de ter exposto já tem seu mérito.

A série pecou pelo excesso do tom de mistério a todo instante, de forma que ficou “over” e um número muito extenso de episódios quando não tinha conteúdo de fato para cobrir todos eles o que acabou gerando as famosas “barrigas”. Mas tem seus méritos por trazer uma história inovadora, que não teve medo de ousar e mostrar tudo de forma direta. Não acredito que deva existir uma segunda temporada, mesmo tendo notícias informando que existem tais planos. Mas se por acaso existir, que eles tenham aprendido com suas falhas e mostrem que podemos fazer séries de terror tão boas quanto qualquer outra parte do mundo.

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