Praia e Guerra

Flor do Caribe é típico folhetim praiano de Walther Negrão, mas com mais substância

Novela acerta com bons personagens e pano de fundo histórico

Publicado em 23/10/2020

Figurinha habitué do horário das seis da Globo há muitos anos, Walther Negrão é um novelista veterano adepto do bom e velho “arroz com feijão”. O autor sempre demonstrou boa mão na condução de romances singelos, mas habitados por bons personagens e uma arquitetura bem armada. Por conta disso, enfileirou sucessos em seus anos de TV.

Flor do Caribe não foge à regra. Bastante inspirada em Tropicaliente, talvez o mais festejado folhetim praiano de Negrão, a trama resgata elementos de outros romances do autor, como Despedida de Solteiro (1992), Vila Madalena (1999) e Como uma Onda (2004). Há amores ameaçados por vilões insensatos, prisões injustiçadas e passagens de tempo de sete anos que modificam todas as vidas.

O triângulo amoroso formado por Ester (Grazi Massafera), Cassiano (Henri Castelli) e Alberto (Igor Rickli) remete a outros casais separados por vilões invejosos. JJ (Henri Castelli), de Como uma Onda, Vitor Vilar (Thiago Fragoso) de Araguaia (2010), ou até mesmo Henrique (Daniel de Oliveira) de Desejo Proibido (2007), ocuparam o lugar do homem que atrapalhou um romance, assim como Arthur (Herson Capri), de Vila Madalena.

Isso não é um demérito. A trama que os envolve é bem armada e se desenvolve de uma maneira bem orquestrada. É uma “novela-raiz”, bastante adequada para o horário das seis. E que, de certa forma, representou uma “redenção” de Negrão, que, antes de Flor do Caribe, assinou produções menos expressivas.

Pano de fundo histórico

Mas Flor do Caribe também chama a atenção por buscar ir além do romance puro e simples. Sua trama ganha alguma profundidade quando traz a Segunda Guerra Mundial como pano de fundo para a história principal. A “rivalidade” dos veteranos Samuel (Juca de Oliveira), um judeu que perdeu sua família na Guerra, e Dionísio (Sergio Mamberti), um nazista, dá uma nova dimensão à história.

A novela não é pretensiosa quando se arrisca a tocar neste assunto. Pelo contrário, o faz em doses homeopáticas e nunca perde o entretenimento de vista. Mesmo assim, quando a temática vem a tona, há uma abordagem cuidadosa, que não destoa do todo. A preocupação em sair o mínimo possível do “água com açúcar” é visível e funciona bem.

Revisitar Flor do Caribe neste momento de pandemia é uma oportunidade de ver o quanto Negrão tem a oferecer enquanto novelista quando consegue ir além do velho romance praiano. Saber misturar elementos folhetinescos e históricos e não perder a unidade da narrativa é um feito e tanto. Sem dúvidas, a atual novela das seis foi a última grande história (até o momento) assinada pelo veterano.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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