Bate-boca

Ministro de Bolsonaro se irrita com âncora da CNN Brasil ao ser confrontado com dados sobre Covid

Onyx Lorenzoni discutiu com Rafael Colombo durante o telejornal CNN Novo Dia; assista

Publicado em 15/04/2021

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, se irritou com o jornalista Rafael Colombo, âncora da CNN Brasil, ao ser confrontado com dados sobre coronavírus. Durante entrevista ao vivo nesta quinta-feira (15), o apresentador informou que no Brasil morrem mais pessoas pela doença no mundo. O integrante do governo Bolsonaro rebateu dizendo ser “mentira”. Na última quarta, o ministério da Saúde registrou 3.459 óbitos em 24 horas, pior pior marca entre todos os países.

Visivelmente incomodado com as intervenções de Colombo, Onyx Lorenzoni acusou o titular do telejornal CNN Novo Dia de responsabilizar o presidente Jair Bolsonaro como único responsável pelas vítimas fatais por Covid-19: “Espero que nessa afirmação que tu fazes tu não queiras construir a ilação de que a responsabilidade das 400 mil mortes é do presidente Bolsonaro, né?”.

O jornalista rebateu: “Sob qualquer métrica que se faça, ministro, o Brasil é hoje o país em que mais se morre por Covid, é disso que estamos tratando”. Imediatamente, foi rebatido por Onyx: “O senhor está mentindo! O senhor está mentindo! Eu lhe afirmo e lhe provo! Há uma planilha feita mundialmente da relação entre população e mortos por milhão, é aí que tu medes a eficiência do país. O país é o 19º”.

A repórter Basilia Rodrigues, também entrevistou Lorenzoni presencialmente em Brasília, interferiu na fala do ministro: “Mas 19º é uma péssima condição também, né?”. Ele ignorou o comentário e tentou embutir ao governador de São Paulo João Doria, rival de Bolsonaro, a culpa pelas mortes no estado: “Se São Paulo fosse um país, estaria entre sexto e sétimo lugar, oitavo lugar, alguma coisa mais ou menos assim”.

Colombo retrucou: “Mas São Paulo não é um país, portanto não podemos tirar, extrair as mortes que ocorrem em São Paulo da média nacional, e eu não estou aqui embutindo ou atribuindo culpa a ninguém. Quem vai decidir se alguém teve culpa ou não nesse processo todo é a CPI, é o Tribunal de Contas da União, é a Polícia Federal…”.

Onyx, ainda mais irritado, interrompeu o apresentador e, mais uma vez, acusou a imprensa. “Não senhor, o senhor está errado! Não é nenhuma CPI, não é Polícia Federal, não é a imprensa brasileira. Quem define se a conduta foi adequada ou não se chama cidadão e cidadã brasileira. Esta arrogância que a imprensa brasileira tem de saber que é a dona da verdade, que só ela tem a verdade, que só ela usa a ciência, é a que levou a uma bolha política no Brasil a, em vez de unir o Brasil, dividir o Brasil, esse é o fato”, disse Lorenzoni. Colombo reagiu com ironia: “Ah, é?”.

Após ter chamado a informação sobre mortes absolutas de “mentira”, o ministro usou números absolutos para comemorar que, em julho, o Brasil será o quarto país que vacinará no mundo. “Qual vai ser o discurso que nós vamos ouvir no Brasil?”. Rafael Colombo, novamente, interveio com outra informação a respeito da baixa imunização no país: “Na conta proporcional à população, infelizmente estamos bem atrás nessa fila, não é, ministro? O senhor está usando um número bruto de vacinas aplicadas”.

O âncora, em nova intervenção, relembrou a acusação do ministro de que estava mentindo ao trazer mais um fato sobre a expressiva taxa de óbitos por Covid-19 no Brasil: “O senhor disse que eu estava mentindo quando eu me referia ao número de mortos no Brasil. O Brasil, nos últimos 30 dias, é responsável por, em média, 30% das mortes por Covid em todo o mundo, ministro. Só quero pontuar isso porque o senhor disse que o dado era mentiroso e o dado é verdadeiro”.

A partir daí, começou mais um bate-boca. “Qual dado é mentiroso? O senhor disse que o Brasil era o país onde mais se morria gente por Covid”, disse Onyx. “Sim, faz um mês que nós respondemos por 30% das mortes em todo o mundo, ministro, é isso que estou falando para o senhor”, respondeu Colombo.

“Mas não é verdadeiro, o Brasil não é o país em que mais morre gente por Covid absolutamente no mundo. Existem países muito maiores do que o nosso, que tem um volume muito maior do que o nosso. O que eu estava trazendo é porque esse raciocínio tem um objetivo, essa condução, essa narrativa: é tentar responsabilizar uma única pessoa”, acusou o ministro.

O jornalista corrigiu o integrante do governo Bolsonaro: “A minha preocupação neste momento é saber onde nós erramos como país, e claro que o presidente da República vai ser cobrado porque ele é a autoridade máxima do país, como governadores, como médicos, como nós da imprensa teremos de fazer também uma observação a respeito do nosso trabalho ao longo desse período. O presidente da República, seja ele quem for, a essa do campeonato seria cobrado também, porque é a autoridade máxima do país, é ele quem dá as diretrizes para o Ministério da Saúde lidar com a pior pandemia da nossa história. Não se trata de perseguição a A ou a B, mas sim de uma cobrança legítima a alguém que foi eleito presidente da República e tem, sim, uma responsabilidade imensa sobre tudo que acontece aqui”.

Em mais uma acusação, Lorenzoni disse que Colombo expôs dados para construir uma “narrativa”, e foi rebatido: “Não é narrativa, isso é argumento”. O ministro voltou a se incomodar: “Espera aí, o senhor já falou, o senhor quer que eu fale ou só o senhor fala na entrevista?”. O apresentador retrucou: “É que o senhor põe as coisas como se fossem narrativas”. Onyx reagiu: “É que o senhor está preocupado. Estou aqui defendendo o ponto de vista do governo. Eu tenho o dever de fazer isso”.

Após o final da entrevista, Rafael Colombo prestou serviço de utilidade pública ao desfazer toda a defesa de Lorenzoni a remédios ineficazes para o tratamento do coronavírus e lembrou as únicas medidas recomendadas pela ciência e pela medicina contra a doença.

“Nós reafirmamos aqui que, segundo a Organização Mundial da Saúde, não existe tratamento precoce com comprovação científica contra a Covid. O que médicos e cientistas defendem é: distanciamento social, uso de máscaras, álcool em gel e vacinação, que é a única forma de garantir a imunização da população”, encerrou o apresentador.

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