Entrevista

Exclusivo: Há 30 anos na TV, Catia Fonseca analisa sucesso, concorrência e Globo

À coluna, apresentadora do Melhor da Tarde brinca com repercussão de história íntima com marido

Publicado em 17/05/2023

Catia Fonseca tornou-se uma das maiores grifes da TV brasileira de forma rara. Como poucos exemplos, nunca precisou da Globo para fazer sucesso. Há quase três décadas no ar, virou “rainha do merchandising”, conquistou a simpatia das donas de casa em programas femininos e, há cinco anos, também atrai homens para o Melhor da Tarde, que comanda na Band.

Em entrevista exclusiva à coluna, Catia relembra os desafios pelos quais passou no início da carreira, quando insistiu para realizar testes como apresentadora na Rede Mulher (controlada pela Record), explica a conturbada saída da Gazeta, onde comandou o tradicional Mulheres durante 15 anos, e fala sobre a rotina de trabalho à frente do Melhor da Tarde, dirigido por seu marido, Rodrigo Riccó.

A apresentadora de 54 anos ainda revela bastidores de sua “estreia” na Globo, contando uma história íntima com Riccó no programa Que História É Essa, Porchat?, e surpreendendo muitos fãs. Confira abaixo a entrevista completa com Catia Fonseca:

Catia Fonseca no Melhor da Tarde
Catia Fonseca no Melhor da Tarde

PAULO PACHECO: Catia, no Melhor da Tarde você também fala sobre crimes e outras notícias. Há muito tempo você deixou de ser apresentadora de programa feminino e fala com todos os públicos. Você tenta manter a grande audiência masculina que recebe da programação?

CATIA FONSECA: De uns tempos para cá, tive em mente que temos de agregar, juntar as pessoas e oferecer o que elas estão afim de assistir. Não faço o programa dentro dos princípios que eu gosto. Faço o que a população quer ver. No Melhor da Tarde, a maioria do público é feminina, mas 46% é masculino. Estamos entre Os Donos da Bola, com o Neto, e o Brasil Urgente, com o Datena. E a Band sempre foi vista como ‘canal do esporte’, visto mais por homens. O público quer informação, mas quer também que a gente comente, quer a nossa opinião. Levamos diversão, informação e prestação de serviço.

PP: Sua concorrência também é forte: Fofocalizando no SBT, A Tarde É Sua na RedeTV!, Balanço Geral na Record. E todos os apresentadores são pessoas que você conhece, são bons colegas de profissão. Como você encara essa disputa por audiência?

CF: É super saudável, e eu gosto da concorrência. Já pensou estar sozinho? Você fica meio morno. É bom ver todo mundo se mexendo porque você também vai se mexer. Um dia um ganha, no dia seguinte é o outro. O Rodrigo [Riccó, diretor do Melhor da Tarde e marido de Catia] é a nave-mãe, e a bomba fica com ele. Dançamos conforme a música, e toda a estratégia está com ele. Quando a novela da Globo está programada para terminar em um horário e termina em outro, por exemplo, fazemos alterações para a mudança de público, porque a maior parte da audiência do horário é principalmente da Globo. Nos demos bem, mas não quer dizer que será sempre assim. É um dia após o outro. E não os vejo como concorrentes. Cada um faz o seu melhor e vence de fato quem entrega o que o público quer.

PP: O Melhor da Tarde tem cinco anos no ar, mas você está prestes a completar 30 anos de carreira. Sua trajetória na TV foi marcada pela insistência. Fez muitos testes, bateu na porta, sempre foi obstinada para estar na televisão…

CF: E continuo sendo assim! (risos)

PP: O que a Catia de hoje, aos 54 anos, diria para a de 20 e poucos que sempre ouvia não e pegou os piores trabalhos no começo?

CF: Fiquei 1 ano e pouco nessa batalha de conquistar um espaço. Diria para aquela Catia lá atrás, de 28 anos atrás: ‘Não desista nunca. Acredite, prepare-se, tenha fé, tenha organização, tenha foco, até onde for necessário for seu objetivo. O ‘não’ não te derruba, ele te impulsiona’. Levo isso comigo até hoje. Quando digo que tem que acreditar, é trabalhando, se preparando, e não se frustrando. Mas houve coisas que fiz que hoje não deu certo. Padaria e restaurante, por exemplo, nunca quero ter mais! (risos) Voltei para a televisão na hora que, para mim, era muito importante. Eu sempre permiti me jogar naquilo em que acredito.

PP: Quando você foi para a Band, estava na Gazeta e sofreu críticas por ter supostamente assinado contrato, ficou aquele mal-entendido. Você quis sair da melhor forma possível?

CF: Quando surgiu o convite da Band, e eu ponderei bastante, eu queria ter novos desafios. Eu imaginava que seria de um jeito e foi de outro. O primeiro ano foi muito difícil, mas hoje eu olho para trás e penso que não poderia ter sido melhor. Aprendemos demais. Trago isso para minha vida pessoal.

Olha, eu não sou de me iludir. Sou bem pé no chão. Se a proposta não for interessante para aquilo que eu desejo para a minha vida profissional e que seja algo que de fato eu acredito, pode me chacolhar o dinheiro que for, não me atrai. O que me atrai é uma proposta boa. Naquele momento, eu não tinha nada assinado mesmo! Fechar negócio é quando você assina. Se não assinou, não está fechado, concorda? Quando saí do ar, naquele dia, acho que isso impulsionou a Band a acelerar o processo. Eles me chamaram, vim para a Band e assinamos naquele momento.

Você falou da mulher de 54 anos. A mulher de 54 anos hoje é bem diferente do que foram as nossas avós e bisavós com a mesma idade. Podemos e devemos começar sempre um novo caminho, escrever uma nova história, não importa a idade. Vim para a Band com 49. Olhando para trás, sinto orgulho do quanto eu me permito vivenciar as coisas que acontecem. Pondero o que pode ser diferente do que pensei, mas estou pronta para pagar o preço e me jogo de cabeça.

PP: Cinco anos depois, você analisa o programa com a cara que você imaginava ou gosta desse dinamismo, com mudanças até em cima da hora, dessa imprevisibilidade?

CF: Prefiro a segunda opção. Há coisas que gosto de ter organizadas para entregar um trabalho de mais excelência. Por exemplo, quando viajamos para gravar. Mas o que acontecerá de fato é o que a gente vai vivenciar na hora. Ao vivo permite isso, não tem aquela rotina maçante que teria em um programa gravado. Temos a troca com o público em um totem no estúdio com os comentários. As pessoas discordam de mim, mas colocamos no ar do mesmo jeito! É o que nos faz crescer. O programa é uma obra aberta e tem a ver com o público.

PP: Você é uma das principais apresentadoras da TV brasileira, mas só pisou na Globo…

CF: Só aquela vez, para o programa do Porchat!

PP: E foi para expor aquela história maravilhosa com o Rodrigo! Como você reservou essa história? Avisou o marido? E a reação das pessoas próximas quando foi ao ar?

CF: A produção do Porchat me pediu três histórias, mas com quase 30 anos de TV a gente fica ‘malaca’, né? Não contei as histórias inteiras, só uma parte, e eles escolheram essa. Quando fui selecioná-las, conversei com o Rodrigo e perguntei se haveria algum problema. ‘Não, claro que não’, ele respondeu. Duas envolviam o Rodrigo, mas nem lembro mais (risos). Quando gravamos na Globo, e eu adoro o Porchat, ele passa as histórias no camarim de todos os convidados. Repeti a parte da história. Ele: ‘Conta mais!’. Eu: ‘Não, você só vai saber na hora, se não perde a graça!’ (risos). O mais legal foi justamente que ele também não sabia. Ele não interpretou! Ninguém esperava: ‘Essa não faz nada disso’ (risos). Você ficou surpreso também?

PP: Fiquei, claro! Queria até saber mais! Eu também teria pedido um vídeo para você, estando descabelada ou não (risos)! Para encerrar, você nunca precisou da Globo para ser famosa. Até em canais com teto de audiência mais baixo, você fez seu nome. Você também se considera vitoriosa por isso?

CF: Posso te falar que sou feliz fazendo o que faço. Esse é o ponto. Nunca olhei para emissora, desde a Rede Mulher, não me preocupava com ibope nem se eu estava em emissora menor ou maior. Sempre me posicionei estando feliz no que faço. Quero terminar o meu dia sabendo que fiz o melhor que pude ter feito. Se eu souber que amanhã posso fazer ainda melhor, para mim já está fantástico, não importa onde eu esteja.

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