Análise

Daniela Lima interrompe deputado na CNN Brasil; com 12 anos de atraso, TV cala o bolsonarismo

Ricardo Barros tentou defender terroristas de extrema-direita e foi impedido por apresentadora

Publicado em 08/01/2023

Band, 28 de março de 2011. Uma concessão pública de TV abriu espaço em rede nacional, no extinto programa CQC, a um deputado defensor da ditadura, da tortura e de pensamentos racistas, machistas e LGBTfóbicos. O que ele expressa, em vez de serem tratados como crimes, são encarados como “polêmicas”, e o parlamentar ganha status de alguém que diz o que não querem que o povo saiba. Ele se chama Jair Bolsonaro.

Como o que Bolsonaro diz gera conflito, e conflito gera engajamento, outras emissoras o convidam para esbravejar seu ódio e seu preconceito contra quem se opõe a ele. Soma-se a isso a invisibilidade das redes sociais, na época em expansão no Brasil. Resultado: uma multidão de ressentidos se transforma em terroristas de extrema-direita prontos para impor suas ideias e vontades.

A TV chocou o ovo do bolsonarismo, o fascismo brasileiro. Cobriu os protestos de junho de 2013, inicialmente planejados por manifestantes de esquerda mas roubados por terroristas de extrema-direita. Serviu de ferramenta para um juiz corrupto perturbar a opinião pública divulgando um grampo ilegal de uma conversa (sem crime algum) do ex-presidente Lula com a então chefe do Executivo Dilma Rousseff.

Paralelamente, deputados e senadores armaram a destituição da presidente. Enquanto o vice cumpria o mandato obtido mediante golpe parlamentar e Lula era preso, o bolsonarismo se alimentava de ataques contra os costumes. Negros, mulheres e a comunidade LGBTQIA+ resistiam. O crime compensou para o fascismo brasileiro, que ganhou espaço na mídia, e para a mídia, que engajou.

Bolsonaro foi eleito presidente e destruiu o Brasil. Oficializou o ódio a todos os setores da República contrários ao seu poder pessoal. “Assinou” a certidão de óbito de mais de 680 mil vítimas de uma doença com vacina negada por ele. Perdeu a reeleição para Lula. Seus terroristas, forjados na invisibilidade das redes sociais, deram continuidade à destruição.

Neste domingo (8), bolsonaristas depredaram as sedes do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do STF (Supremo Tribunal Federal), tratados pelo ex-presidente como “inimigos”. Na CNN Brasil, Daniela Lima entrevistou o deputado Ricardo Barros (PP), aliado de Bolsonaro. Ele teve a audácia de defender os terroristas e culpar o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), por “forçar a confiança nas urnas eletrônicas”. Em suma, justificou o banditismo transmitido por dezenas de emissoras de rádio e de TV e nas redes sociais.

Pela primeira vez em 12 anos, a TV teve a coragem de calar o bolsonarismo. Foi com a educação que o bolsonarismo não merece, mas Daniela Lima colocou Ricardo Barros e seu discurso golpista no seu devido lugar.

“Não, eu peço desculpas ao senhor. Deputado, eu vou interromper sabe por quê? Esse discurso que o senhor traz aí, de ‘olha, impor a confiança na urna’, a confiança na urna é imposta pelos fatos, deputado. A irresponsabilidade retórica, gente que o senhor chama de jornalista, deputado, e que pedia guerra civil e que chamava de frouxa gente que não fosse para a rua. Jornalista, deputado, perdão, somos eu e meus colegas que estão nas ruas, muitos deles apanhando dos homens de bem, pessoas de família que o senhor veio defender. Acho que no dia de hoje, deputado, diante desse cenário de terra arrasada, de um Supremo Tribunal Federal depredado, do seu Congresso Nacional depredado, do Palácio do Planalto depredado, de um governador que não conseguiu lidar, reverberar esse tipo de discurso que levou às pessoas à raia da loucura, deputado, é questionável”.

Que bolsonaristas cada vez mais sejam calados na mídia. Engajar com crimes disfarçados de “polêmicas” também é crime e não compensa.

Siga o colunista no Twitter e no Instagram.

As informações e opiniões expressas nesta crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade