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“Capitão Nascimento” diz por que trocou crimes na Record por esporte na ESPN e revela futuro de apelido

Em entrevista à coluna, repórter Lilly Nascimento destaca mudança na carreira e relembra "mestre" Marcelo Rezende

Publicado em 21/08/2022

Do jornalismo esportivo, saíram alguns dos principais nomes da cobertura policial na TV, como Marcelo Rezende. Na última semana, uma de suas pupilas mais famosas fez o caminho contrário e trocou os crimes pelo esporte. Lilly Nascimento, revelada no Cidade Alerta, já foi perseguida na Cracolândia e correu risco de morte em tiroteio. Aos 32 anos, a repórter pediu demissão da Record e migrou para a ESPN, realizando um sonho e ampliando o espaço das mulheres no futebol.

A mudança, no entanto, não mudou um hábito recorrente dos telespectadores que a reconhecem na rua ou a seguem nas redes sociais: chamá-la de “Capitão Nascimento”. Destemida, a jornalista teve sua coragem notada por Marcelo Rezende e ganhou o apelido inspirado no personagem do filme Tropa de Elite. Pegou instantaneamente e resiste até hoje, mesmo com seu nome verdadeiro sendo já repetido com frequência na ESPN.

Em entrevista exclusiva à coluna, Lilly Nascimento afirma que não se incomoda ao ser chamada de “Capitão”, pelo reconhecimento de sua carreira e pela gratidão ao “mestre” Marcelo Rezende, que lhe deu a primeira oportunidade na carreira. Apaixonada por jornalismo esportivo desde a faculdade, foi acolhida pelo apresentador do Cidade Alerta assim que concluiu seu estágio na Record. Conquistou espaço e se transformou em uma das principais repórteres do programa, cobrindo operações policiais, caçada a criminosos e feminicídios.

O machismo ainda ronda o trabalho de Lilly, mas “está com dias contados”, segundo ela, principalmente na nova casa, que tem ampliado a presença feminina nos debates esportivos, inclusive com um programa próprio, o recém-lançado Mina de Passe. A jornalista ainda celebra a nova rotina como mãe. Matteo, seu primeiro filho, completará dois anos em novembro.

Confira abaixo, na íntegra, a entrevista com Lilly Nascimento:

Lilly Nascimento no estúdio do Cidade Alerta e com o uniforme do Paulistão na Record
Lilly Nascimento no estúdio do Cidade Alerta e com o uniforme do Paulistão na Record

PAULO PACHECO: Lilly, parabéns pela guinada na carreira e pela estreia na ESPN. Gostaria de saber como este trabalho chegou até você. Você foi convidada para ser repórter do canal ou procurou a oportunidade?

LILLY NASCIMENTO: Primeiramente, muito obrigada pelos votos. Estou muito feliz por essa nova oportunidade em minha vida e na minha carreira profissional. Trabalhar com jornalismo esportivo sempre foi um desejo antigo e, recentemente, surgiu a oportunidade de fazer parte do time dos canais de esporte da Disney. Não podia perder a chance de atuar em uma marca esportiva tão relevante no Brasil e no mundo.

PP: Você ficou muito conhecida pelo jornalismo policial e agora recomeça no jornalismo esportivo. Você sempre se interessou pela área?

LN: Quando decidi fazer jornalismo, eu pensava muito em jornalismo esportivo, me inspirava em alguns apresentadores e algumas apresentadoras. Eu queria muito! Só que acabei indo para o jornalismo investigativo, fiz estágio na Polícia Rodoviária Federal. Entrei na Record em 2011, e desde então fiquei no jornalismo investigativo, no jornalismo policial, do qual gosto muito, aprendi muito. Como não recebi oportunidade no começo, fiquei no investigativo e gostei demais. No total, foram dez anos de jornalismo investigativo.

PP: No primeiro semestre, você se destacou cobrindo o Campeonato Paulista e chamou a atenção de muitos telespectadores. Este trabalho abriu seus olhos para a possibilidade de mudar de ramo e deixar o jornalismo policial?

LN: Fiquei muito feliz quando a Record me deu a oportunidade de cobrir o Paulistão. Como falei, o jornalismo esportivo já era uma vontade minha. Eu sabia que em algum momento da minha carreira eu queria ir para o esporte, não sabia quando. Pedi para participar e eles me deram essa chance, esse voto de confiança. Deu certo. Particularmente, gostei muito de cobrir o Paulistão, de fazer jornalismo esportivo, de estar nos jogos e nas transmissões, de cobrir os treinos, fazer entrevistas. Gostei muito! Quando acabou o Paulistão e voltei ao jornalismo investigativo, fiquei ainda com muita vontade de continuar no esporte. Na Record, eles sabiam disso também. Era a minha vontade ir para o esportivo, eu só precisava de uma chance, e ela chegou.

PP: Sobre o jornalismo policial, você diz adeus ou até breve à cobertura dos crimes?

LN: Não gosto muito da palavra “adeus” para nada (risos). Mas hoje o que quero para minha vida é o jornalismo esportivo. Sou muito grata ao jornalismo policial, foi onde comecei e aprendi muita coisa, passei por muitos momentos. Mas hoje o meu foco é o esporte, abro as portas agora para ele.

PP: Quais foram seus maiores desafios nesta área? Já correu risco de vida ou pensou que fosse morrer?

LN: Tive muitos desafios na área. Cobri muitos crimes, muitos casos que repercutiram, e já corri risco de vida. Fui perseguida na Cracolândia, estava ao vivo e os usuários apareceram lá. Não percebi, saí correndo. Também cobri uma operação policial com a Rota e parecia tudo tranquilo. No meio, começou a rolar um tiroteio. Um criminoso estava escondido em um telhado e começou a atirar para baixo, onde eu estava com a equipe. Os policiais gritaram para eu me abaixar, me esconder atrás de um carro. Ali eu tive medo de morrer, mas estou viva para contar essa história, graças a Deus.

PP: A chegada do Matteo durante a pandemia mudou seu pensamento quanto à profissão?

LN: A chegada do Matteo mudou muita coisa na minha vida. Hoje eu me sinto uma mulher completa, uma mulher feliz. Posso, além de tudo, ser mãe. É muito legal descobrir que a gente pode sempre fazer coisas novas e sempre se adaptar a novas situações, como foi a chegada do Matteo. Não digo a você que pensei em sair do jornalismo policial porque virei mãe. Não foi por isso. Se porventura não tivesse essa vontade ou não tivesse tido a oportunidade de ir para o esporte, como estou agora, eu estaria trabalhando no jornalismo policial. Arriscado é, sempre. A gente nunca sabe o dia de amanhã em uma operação policial, uma cobertura, a gente entra muito em comunidade, situações em que você é expulsa pelo traficante que te mostra a arma e manda você embora. Isso pode acontecer. Mas não mudei porque virei mãe e é muito perigoso fazer jornalismo policial. Foi mais pelo sonho de ir para o esporte que hoje estou conseguindo realizar, graças a Deus.

PP: Há 10 anos, quando você dava seus primeiros passos na cobertura policial, o jornalismo esportivo tinha pouquíssimas mulheres, e as que existiam eram vistas mais pela beleza para atrair o público masculino. Hoje, emissoras como a ESPN intensificam a cobertura feminina em programas como Mina de Passe e contratando repórteres como você. Como avalia esta expansão? O machismo no jornalismo esportivo está com os dias contados?

LN: Fico muito feliz vendo a expansão da mulher no esporte, porque antigamente era mais difícil conseguir encontrar, eram poucos nomes, um muito conhecido é a Renata Fan, que está há muito tempo, mas a gente não via um mercado tão grande de mulheres no esporte. Cada vez mais vem aumentando. Fico muito feliz, porque a mulher tem sim muita capacidade. Ela só precisa de uma chance, e hoje essa chance está chegando. Com certeza, vai melhorar ainda mais. Na ESPN, a mulher tem muito espaço. Aceitei o convite também por isso, por saber que estou abrindo as portas e vou crescer muito lá, pela minha capacidade e pela casa que dá essa abertura, convida as mulheres a participarem, porque mulher entende muito de esporte e fala muito bem de futebol. Não há por que não dar chance. Sim, o machismo no jornalismo esportivo está com os dias contados!

PP: Foi com Marcelo Rezende que você ganhou projeção nacional. Ele, inclusive, teve importante passagem pelo jornalismo esportivo. Com a saída da cobertura policial, o apelido “Capitão Nascimento”, que ele lhe deu, está oficialmente aposentado? Ainda te chamam assim nas redes sociais?

LN: O Marcelo Rezende é um cara que eu vou levar para o resto da minha vida. Eu amo o Marcelo Rezende. Ele foi muito importante na minha carreira. Ele me deu a primeira chance. Ele me chamou para virar repórter dele quando eu tinha 20 anos. Eu era muito nova, e você virar repórter no jornalismo investigativo em São Paulo, aos 20 anos, é difícil. Ele acreditou em mim, me deu essa chance e sou muito grata por tudo que ele me fez. Eu digo que ele é o meu padrinho, o meu professor, ele é e sempre será. De tudo o que sei fazer hoje, boa parte ele me ensinou. Ele me ensinou até a segurar o microfone, para você ter noção de como foi!

Esse apelido de “Capitão Nascimento”, que ele me deu, é uma coisa que nem sei explicar, porque em muitos lugares as pessoas nem me chamam de Lilly, Lilliany. É “Capitão Nascimento”. “Você não é a Capitão do Marcelo?”. Isso me deu uma visibilidade ainda maior, um destaque maior. Eu amo a “Capitão Nascimento” e em quem ela se transformou. Eu amo a “Capitão Nascimento” lá de 2014, que estava aprendendo ainda. Eu amo a “Capitão Nascimento” que há poucos dias saiu do jornalismo policial. Eu amo a “Capitão Nascimento” porque o Marcelo me deu esse apelido, porque ele me ensinou, porque eu construí uma história como “Capitão Nascimento” e tenho muito orgulho disso. No esporte, eu sou a Lilly Nascimento, mas as pessoas me encontram na rua e me reconhecem ainda me chamando de “Capitão Nascimento”. Não vou aposentar a “Capitão Nascimento”. Obviamente, meu nome artístico agora é Lilly Nascimento, mas se o Marcelão falou a “Capitão Nascimento” é eterna. Jamais será aposentada.

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