Opinião

Análise: No Domingão, Eduardo Sterblitch e Sabrina Sato salvam Pânico do bolsonarismo

Programa mais inovador da TV nos anos 2000 ressurge na Globo após se perder na bajulação extremista

Publicado em 18/09/2022

Os mais jovens podem não acreditar, mas o Pânico foi um dos principais programas da televisão brasileira. Sem recursos, mas com equipe talentosa, o humorístico criou memes quando esta palavra não existia no nosso vocabulário e era assunto nos recreios das escolas às segundas-feiras. Também fez celebridades descerem do salto com as sandálias da humildade e criou mentiras que repercutiram na imprensa, como os seis dedos de Daniella Cicarelli e os truques da ginasta Daiane dos Santos.

Por que os mais jovens podem não acreditar? Porque hoje (e nos últimos anos) o Pânico se perdeu na bajulação extremista e virou palanque para políticos de extrema-direita, tanto no rádio quanto na TV. Nos suspiros finais do programa na Band, um personagem inspirado em Jair Bolsonaro exaltava seu lado “politicamente incorreto”, expressão usada por quem defende xingamentos, preconceitos e outros crimes.

A sanha de se vender como “antissistema” quando o “sistema” era governado pelo PT foi uma desculpa esfarrapada para revelar a verdadeira e podre ideologia por trás das piadas sem graça do Pânico. Na rádio Jovem Pan, o ambiente de trabalho tornou-se insalubre para funcionários progressistas (como Amanda Ramalho, que se demitiu após discutir ao vivo com o cantor Biel). O microfone do humorístico ficou aberto para Bolsonaro e seus capangas espalharem ofensas e mentiras sem correção.

Ex-integrantes do Pânico também sujaram a imagem do programa quando Bolsonaro assumiu o poder. Carioca, na Record, se fantasiou de presidente e se deixou ser usado como “bobo da corte” em um dos episódios mais constrangedores de sua carreira. Ainda repetiu para a colega Adriana Araújo a agressão verbal machista do chefe do Executivo contra a jornalista Patrícia Campos Mello.

Ter gostado do Pânico dava vergonha. Até que neste domingo (18), dia da semana em que o humorístico reinou na audiência jovem entre 2003 e 2010, na RedeTV!, Luciano Huck resgatou o motivo pelo qual a atração ditou tendências e revolucionou a televisão. O Domingão promoveu o reencontro de Eduardo Sterblitch e Sabrina Sato como competidores da Batalha do Lip Sync, um dos melhores quadros do programa.

Sabrina, hoje contratada da Globo como estrela, esbanjou a mesma irreverência do Pânico imitando Wanessa Camargo e PSY (caprichando na dublagem em coreano de Gangnam Style). Até a mãe, dona Kika Sato, participou da festa. Entretanto, não conseguiu tirar o prêmio de Edu, que incorporou simplesmente Freddie Mercury Prateado, ícone das festas ao lado de Amaury Dumbo (Carioca).

O Pânico está se lambuzando com o sangue das vidas perdidas pelo bolsonarismo, ideologia perversa que mata. Felizmente, na Globo, Edu Sterblitch e Sabrina Sato limparam um pouco a imagem apodrecida do programa mais inovador da TV brasileira nos anos 2000.

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