Difícil Entender

Fogo no pantanal e a imprensa pensa em Vênus

O Pantanal mato-grossense é atingido pelo fogo. Uma das maiores riquezas naturais do planeta sucumbe e os jornais querem falar de Vênus.

Publicado em 28/09/2020

Meus amigos, antes de escrever o artigo fiquei mais um tempo vendo sites, rádios e tvs. A minha conclusão é a de que o nosso Pantanal está ardendo em chamas e ainda não mereceu a atenção necessária por parte da imprensa.

Claro que acompanhamos a mídia e percebemos que há notícias sobre morte de animais, problemas no ecossistema, consequências futuras, pedido de ajuda financeira e analises sobre o tema. Mas, é pouco. Muito pouco.

O negócio seria derrubar matéria de jornal e colocar repórter ao vivo com boletins exatos do que se passa em terras brasileiras. A mesma algazarra que a imprensa faz quando interessa ou aumenta audiência.

Porque não colocam helicópteros sobrevoando a região? Onde estão os repórteres para entrar ao vivo, “a qualquer momento”? Onde estão os reis da gritaria?

Os especialistas? Soluções? Não rende dinheiro falar do Pantanal? É isso? Só há lucro mostrando bagunça em grandes cidades? “Brasil, qual é o seu negócio, o nome do teu sócio”, já perguntava o Cazuza.

Eu conheço ótimos profissionais que estão lutando para fazer a matéria sobre o incêndio nas matas – mesmo com pouco interesse de algumas mídias.

Eu diria que as poucas notícias que falam da situação se devem aos profissionais que têm o jornalismo no coração. Mais do que isso, tem responsabilidade jorrando nas veias.

Porém, a situação está tão feia que eu procuro por mais notícias. Eu quero saber quem são os culpados? Foi acidente? O que podemos fazer para ajudar?

E tenho que aguentar gente falando que “pode” ter micróbio em Vênus. Realmente o Renato Russo tinha razão: “vivemos em um mundo doente”.

Se os responsáveis por determinado jornal preferirem eu aconselho assistir a série “Nacional Kid”, bem longe da redação. É dos anos 60, mas eles podem dividir o tempo com os “incas venusianos” – que devem ser de Vênus.

Têm animais indispensáveis para nossa natureza, que estão morrendo, e falamos em “fosfina”? Tudo bem. Mas não agora, por favor. Ou noticiar menos. Não em página principal de site ou matéria para fechar jornal em TV.

O fogo comendo o Pantanal e a imprensa cantando “O Segundo Sol”, do Nando Reis? A música é ótima, principalmente na voz da Cássia Eller. Mas, tem hora para cantar e hora para trabalhar.

Vira e mexe, eles não tem o que dizer ou querem desviar a atenção para não prejudicar a política interna do jornal. A solução é mandar tudo para o espaço, literalmente.

Esse negócio de falar em Vênus, notícias “chapa branca”, sempre existiu quando querem jogar água na fervura, desviar o foco, balançar a bandeira branca da falsa paz.

Eu não quero saber se tem micróbio em Vênus. Para mim já bastam os micróbios do Planeta Terra. Além de não controlarem os nossos bichinhos invisíveis eles querem falar de outros organismos vivos?

Mas a notícia é em nome da ciência. No futuro pode-se provar que houve vida em Vênus. Daqui a pouco será impossível provar alguma coisa, se estragarmos a Terra e as futuras gerações que vão padecer.

Isso tem uma base psicológica. Os caras estragam a Terra e querem descobrir vida em lugares inabitáveis.

Eu me lembro do musical “Hair”, que foi escrito tendo como ambiente a guerra do Vietnã nos anos 60. A mensagem foi propagada: a guerra transformou a vida dos americanos em um inferno.

Uma das músicas de maior sucesso fala sobre “Aquarius”, uma nova era que vai chegar, trazendo alegria e esperança, entre outras.

A canção diz algo assim: “Quando a Lua está na sétima casa e Júpiter, alinhar-se com Marte, então a paz guiará os planetas e o amor comandará as estrelas”. Agora não vamos mais cantar sobre a era de Aquário.

Mas vamos cantar a era de Vênus? E nos esquecer da guerra que ambientalistas estão travando para salvar o Pantanal? Estamos fugindo ou desviando atenção? Se for assim é melhor ver “Star Wars” ou “Star Trek”.

Que mensagem nós estamos passando? Vamos falar de vários assuntos e o Pantanal é um deles? O Pantanal é uma terra única, que esse colunista conhece, antes da primeira novela.

O paraíso não se compara a nenhum lugar do mundo. Pantanal não é somente uma notícia. “O Pantanal é a notícia”. O futuro é o Pantanal, não Vênus.

Prefiro encerrar a coluna com a música do Geraldo Roca e Paulo Simões, interpretada pelo Almir Sater:

“Enquanto este velho trem atravessa o pantanal
As estrelas do cruzeiro fazem um sinal
De que este é o melhor caminho
Pra quem é como eu, mais um fugitivo da guerra”

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