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BBB 22: Desistência de Tiago Abravanel promove debate sobre saúde mental em realities

Participante deixou a atração no último domingo, dia 27 de fevereiro

Publicado em 02/03/2022

A recente desistência do participante Tiago Abravanel do reality show Big Brother Brasil 22 voltou a trazer à tona um debate que já havia ficado evidente na edição passada do programa quando Lucas Penteado também optou por não continuar na disputa pelo prêmio e Karol Konká protagonizou ataques contra outros participantes.

Assim como o interesse da população em acompanhar a vida de desconhecidos em competições televisivas, o debate sobre o impacto dos realities na saúde mental de seus participantes não é algo exclusivo do nosso país. Pelo mundo, mais de 40 estrelas de uma variedade deste estilo de programa foram encontradas mortas por suicídio ou overdose, levando a uma conversa maior em torno de os efeitos mentais de aparecer em tais séries e se a produção precisa oferecer um maior suporte pós-show.

Emocional

Desde os primórdios dos reality shows, produtores e terapeutas têm utilizado testes de inteligência emocional para selecionar concorrentes com base em uma variedade de fatores que influenciam as personalidades que estão procurando. 

Tiago Abravanel, ex-participante do BBB 22 (Reprodução)
Tiago Abravanel ex participante do BBB 22 Reprodução

Embora as avaliações sejam adaptadas para o que o programa busca (enquanto shows como o Big Brother buscam pessoas com habilidades sociais e interpessoais, outros programas, às vezes, exigem resistência física e gerenciamento de estresse), algo que temos em comum nas avaliações psicológicas é uma triagem da saúde mental já que a produção quer garantir que a pessoa não seja agressiva, não tenha problemas reais de dependência e não coloque sua própria vida em risco. Basicamente, garantir que não exista nenhum tipo de personalidade limítrofe.

Vida real

De acordo com o professor de hipnose clínica especializado em traumas e fobias, Guilherme Alves, embora os testes sejam validados, é impossível garantir que o comportamento durante as gravações seja similar ao do momento em que foram analisados. 

“Muitos traumas estão suprimidos e não são evidentes até que um gatilho elicie-os. No caso mencionado do participante Tiago Abravanel é perceptível uma mágoa relacionada à um abandono por parte da família. Diversas vezes houve menção à um distanciamento por parte de suas irmãs e de seu avô, Sílvio Santos. O fato de se sentir excluído na última prova por seu aliado no confinamento combinado ao fato de acreditar que estaria entre os emparedados da semana pode ser o suficiente para trazer à tona todo sentimento causado por questões traumáticas no passado”, explica o professor.

Participantes do BBB 22 (Divulgação)
Participantes do BBB 22 Divulgação

E embora o que esteja sendo exibido pareça ser a parte mais difícil do processo, a readaptação ao mundo externo pode ser ainda pior. A grande maioria dos realities possui uma competente equipe médica e psicológica para auxiliar seus participantes mas, qualquer que seja o estresse mental que os competidores enfrentam durante o show, o verdadeiro trabalho começa quando as câmeras são desligadas e eles se preparam para reentrar em suas vidas anteriores — enquanto enfrentam as pressões das mídias sociais, críticas públicas, a fama recém-descoberta bem como o abrupto fim da mesma fama meses depois”, relata o professor Guilherme Alves.

Debate público

Felizmente, a alta audiência de parte destes programas presta serviço à população ao discutir temas mais sensíveis quando estes se tornam parte da narrativa. No Big Brother Brasil, questões de bullying, preconceito, racismo e transfobia já deixaram o ambiente de confinamento para serem debatidas pelo apresentador e informar seu público. 

BBB 22
Robôs do BBB 22 ReproduçãoTV Globo

Nos Estados Unidos, a última edição do reality de sobrevivência Survivor teve foco no racismo, impulsionado pelas manifestações Black Lives Matter, e trouxe o tema para discussão de maneira impactante e ao mesmo tempo sensível.

Sobre Guilherme Alves:

Guilherme Alves é instrutor de hipnoterapia e coordenador de pós-graduação na área pela faculdade JK

(Distrito Federal)

Instagram: @guialves.h

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