Nesta semana, nem poderia ser diferente. Fábio Costa resgata no #TBTdaTelevisão a vitoriosa carreira de Hebe Camargo como apresentadora na televisão brasileira. De 1955 a 2012, quando faleceu, após complicações de um câncer no peritônio, a saber, Hebe marcou gerações de espectadores com seu talento e espontaneidade.
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TV Paulista, Canal 5: onde tudo começou
Desde os anos 1940, Hebe já se apresentava e fazia gravações como cantora. Mas foi apenas em 1955 que ela se lançou como apresentadora de televisão. E não, não foi na pioneira TV Tupi, mas em sua concorrente direta dos primeiros tempos: a TV Paulista. Foi de Walter Forster a ideia de tornar a cantora Hebe apresentadora. Juntou-a a um grupo de atrizes, entre as quais Eloísa Mafalda e Yara Lins, e assim teve início O Mundo É das Mulheres, exibido semanalmente. O primeiro entrevistado da atração foi o então prefeito de São Paulo, Juvenal Lino de Mattos. Na mesma emissora, Hebe apresentou outros programas, como Calouros Cristal e Musical Manon. Só para ilustrar, era basicamente um programa diferente por dia.
A temporada carioca da loira: Hebe Comanda o Espetáculo
Em 1960, Hebe Camargo chegou ao Rio de Janeiro. No mesmo ano, ela passou a se deslocar entre Porto Alegre, Curitiba e Recife para apresentar programas locais. Nunca é demais lembrar que esses eram tempos nos quais as redes nacionais de televisão ainda não haviam sido implementados.
A TV Continental chegou em 1959 para concorrer pelos telespectadores cariocas com as TVs Rio e Tupi. De cara contratou as duas maiores estrelas da Tupi paulista, a saber: Hebe Camargo e Walter Forster. Este estrelava com Yara Lins a comédia romântica Intimidade. Uma versão local de O Mundo É das Mulheres e o Encontro Musical Com Hebe Camargo foram os programas inicialmente apresentados. Posteriormente, o segundo passou a se chamar Hebe Comanda o Espetáculo. O título foi dado também a um disco da loira. Logo após a temporada da TV Continental, Hebe atuou também na TV Rio, entre 1962 e 1963. E na Tupi carioca.
Record TV: a primeira grande fase na carreira da apresentadora
Após deixar a TV Paulista e os deslocamentos entre capitais para se casar, em 1964, com Décio Capuano. Todavia, sua ausência dos microfones na ocasião durou pouco, apenas os primeiros tempos do casamento e o início da vida de seu primeiro e único filho, Marcello. Em 1965 ela já iniciou o comando do Mulher 65, na Rádio Excelsior. Uma participação de Hebe no programa Corte Rayol Show, na Record TV, então TV Record, chamou a atenção do então dono da emissora, Paulo Machado de Carvalho, em virtude de sua repercussão. Como resultado, ele passou a querer Hebe no cast da casa. E conseguiu.
Com efeito, a Record vivia naquela época uma grande fase. Os musicais e humorísticos da emissora, com um elenco de estrelas, faziam a glória do público paulista. E viajavam o País em vídeo-tape. A saber, às segundas era exibido Dia D… Elza, com Elza Soares, ao passo que nas terças era a vez do Corte Rayol Show. Quarta-feira era dia de O Fino da Bossa, com Jair Rodrigues e Elis Regina, e na quinta, Show Em Si… monal, com Wilson Simonal. Sexta-feira era a vez de Elizeth Cardoso e Cyro Monteiro com o Bossaudade, e nos sábados os sucessos do momento com Randal Juliano no Astros do Disco. As tardes de domingo ficavam para a Jovem Guarda. Faltava uma atração forte para os domingos à noite, e Hebe se revelava a apresentadora perfeita para isso.
A dinâmica do programa de Hebe na Record
A chamada “Equipe A” da Record ficou incumbida de produzir o programa. Manoel Carlos e Nilton Travesso eram os produtores, Antonio Augusto Amaral de Carvalho (o Seu Tuta) era o diretor de TV e Raul Duarte criava as fichas com as perguntas a serem feitas para os convidados. Não havia grande segredo: um sofá, convidados variados e Hebe conversando com eles, além dos números musicais. Renato Corte Real, Agnaldo Rayol (os amigos que a receberam em seu show pouco antes), Roberto Carlos e Apparicio Torelly, o Barão de Itararé, estiveram na estreia, em 10 de abril de 1966.
As maiores personalidades brasileiras e estrangeiras, expoentes de suas áreas de atuação, revelavam coisas públicas e privadas no sofá de Hebe. E o prestígio do programa e da apresentadora só aumentavam. Chegou-se aos 80% de audiência com o dominical. No entanto, as coisas começaram a se complicar com a chegada da década de 1970. Os concorrentes podiam ser sintonizados no Brasil todo ao mesmo tempo, de conformidade com a transmissão dos conteúdos via satélite para as emissoras afiliadas ou parceiras. Já a Record seguia local, sem a mesma prática. Os muitos astros do elenco, que faziam aparições no programa, também foram deixando a casa pouco a pouco e o boom dos shows na Record passou. De tal forma que a coisa foi minguando e a passagem de Hebe pela emissora se encerrou em 1974.
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Tupi, um arrependimento, e Band, uma experiência válida
Ainda em 1974, Hebe estreou na Rede Tupi. O auditório, que ela dominava e encantava como poucos, cedia na época muito espaço aos estúdios, isso desde a última fase do programa na Record. Inicialmente, tudo correu bem, mas a dificuldade de relacionamento com o produtor e diretor Wilton Franco, que integrava a equipe, fez com que a Hebe contasse os dias para o fim de seu contrato. Após um ano de programa, ela deixou a Tupi e não voltou mais. Ficou até 1979 fazendo apenas um programa matutino na Rádio Mulher. Por mais que dissesse que não, ela queria voltar à TV.
Em 1979, Hebe Camargo iniciou sua temporada na Rede Bandeirantes. A emissora a escalou para competir nas noites de domingo com o Fantástico. No entanto, em 1981 a apresentadora entrou em atrito com Walter Clark. Contratado pelos Saad para melhorar a situação da Bandeirantes no cenário de audiência, ele implementou diversas mudanças e desejava ter Hebe na faixa da manhã. Posto que, ao invés de enfrentar o Show da Vida, ele a queria batendo de frente com o TV Mulher de Marília Gabriela, Hebe se desagradou. Clark ficou um ano na emissora, exatamente o ano que Hebe passou fora dela. A apresentadora voltou em fins de 1982 e seguiu na emissora do Morumbi até 1986.
Hebe chega ao SBT e se consagra de vez como a maior das apresentadoras da TV brasileira
No início de 1986, descontente uma vez mais com a Bandeirantes, Hebe ingressou no SBT. Desse modo, tinha início uma escalada da emissora rumo a mais prestígio e faturamento. Depois que Hebe chegou, vieram Carlos Alberto de Nóbrega, Boris Casoy e outros profissionais que atraíram “audiência qualificada” e valorizaram o intervalo comercial da emissora.
Nair Bello, Roberta Close, Carlos Alberto Torres, Tereza Sodré, Sônia Abrão e Agnaldo Rayol estiveram entre os presentes no programa de estreia de Hebe no SBT, em 4 de março de 1986. Poucos dias antes de completar 57 anos de idade, a apresentadora iniciava outra grande fase de sua carreira já extensa na ocasião.
A partir dos anos 1980, Hebe passou a ser enxergada para além da mulher bonita, simpática, que cometia gafes e dizia amenidades distribuindo “gracinhas”. Em contrapartida a esse estereótipo, soltou o verbo e começou a emitir opiniões sérias. E levou a seu sofá figuras controversas da época, como Juca Chaves e Plínio Marcos. O que não a impediu de ser condenada por sua amizade com pessoas como Paulo Maluf, por exemplo.
Após algumas mudanças de horário e reduções em seu salário, Hebe decidiu aceitar o convite da RedeTV! e deixou o SBT no final de 2010. Mas não foi muito feliz na troca. Por isso, queria voltar à antiga casa. Quando assinou novo contrato e estava de volta à emissora de Silvio Santos, infelizmente, sofreu uma parada cardíaca e faleceu.
Hebe permanece viva e influenciando as apresentadoras de TV
Uma exposição temática dos 90 anos de Hebe e uma série contando sua vida, produzida pela Globo, a ser exibida em breve. Essas são mais duas das mostras da representatividade da loira para a televisão brasileira. Hebe merece ser lembrada e reverenciada, tanto neste #TBTdaTelevisão como de outras formas possíveis.