Novela das 20h

Os 25 anos do final de Pátria Minha no TBT da TV desta semana

Novela fechou a 'Trilogia da Honestidade'

Publicado em 05/03/2020

Em 10 de março de 1995, há 25 anos, depois de 203 capítulos, a novela Pátria Minha, de Gilberto Braga, chegava ao final no horário das 20h30 (hoje, 21h) da TV Globo. A estreia ocorreu em 18 de julho de 1994, dia seguinte ao da conquista do Tetracampeonato Mundial de Futebol pela Seleção Brasileira, nos Estados Unidos. O #TBTDaTV desta semana relembra a novela, que ficou marcada por seus problemas de bastidores, apesar da proposta ousada e do elenco estelar reunido para interpretar seus personagens.

A história de Pátria Minha

Na ocasião, Gilberto Braga e o diretor-geral Dennis Carvalho pretendiam fechar com Pátria Minha uma espécie de “Trilogia da Honestidade”, iniciada com o grande sucesso de Vale Tudo em 1988 e cujo segundo título, O Dono do Mundo, passou por alguns percalços em 1991. A principal trama de Pátria Minha apresentava o embate entre o empresário mau-caráter Raul Pelegrini (Tarcísio Meira) e a estudante Alice (Cláudia Abreu), jovem de classe média que decide fazer o milionário pagar por um crime que cometera. A partir disso, as vidas dos dois se entrelaçam cada vez mais.

Mas o que nenhum dos dois imagina quando se conhecem é que Alice é neta de Raul, ou seja, suas vidas estão entrelaçadas desde sempre. Natália (Renata Sorrah), mãe de Alice, viveu na juventude um romance com Gustavo (Kadu Moliterno), filho único de Raul e Teresa (Eva Wilma). O herdeiro dos Pelegrini não quis saber de assumir responsabilidades, logo, não reconheceu Alice como filha.

Alice se envolve com o jovem arquiteto Rodrigo (Fábio Assunção), que trabalha nas empresas de Raul. Rodrigo é filho de Lídia Laport (Vera Fischer), dona de um antiquário. Lídia deseja fisgar um marido rico, e vê em Raul e seu falido casamento com Teresa a presa perfeita. Inclusive, Lídia arquiteta um plano para fazer Raul e Teresa se separarem valendo-se do amor que o professor Rafael (Fúlvio Stefanini) sente pela mulher do empresário. Um flagra de cama bem armado e o caminho fica livre para que ela se torne a nova Sra. Pelegrini. O pai de Rodrigo é o sonhador Max (Carlos Vereza), ex-marido de Lídia que vive de glórias de um passado distante.

Também no núcleo de protagonistas está Pedro (José Mayer), que no início da história deixa os Estados Unidos, para onde emigrou ilegalmente, com destino ao Brasil, para onde quer voltar após alguns anos e algum dinheiro reunido. A esposa Ester (Patrícia Pillar) não quer retornar, mas acaba vencida pelo desejo do marido. Os dois se envolvem diretamente com uma questão que também envolve a empresa de Raul e um grupo de famílias que ocuparam um terreno que pertence ao empresário.

Entre os invasores está Deodato (Ivan Cândido), motorista de ônibus, pai de Pedro, Inácio (Felipe Camargo) e Joel (André Pimentel). Fortes chuvas ocasionam um deslizamento de terra que vitima várias pessoas e desabriga outras tantas. A tragédia geral, aliada à falta total de empatia da parte de Raul e Gustavo, que desejam tão somente a reintegração de posse do terreno, só aumenta a raiva dos sem-teto contra o milionário. Em meio a tantos problemas, Ester morre. Com o tempo, ele se deixa envolver por Lídia, que assim fica entre a possibilidade de um amor verdadeiro e os muitos milhões de Raul.

Por que Pátria Minha em geral não é lembrada de forma positiva?

Em 1994, ano de eleições presidenciais, as primeiras depois do impeachment de Fernando Collor de Mello, nosso primeiro presidente eleito de forma direta (em 1989) desde 1960, mais o Plano Real com a promessa de colocar a economia do Brasil nos eixos contendo a inflação, Pátria Minha tratava de questões morais, cívicas, políticas e sociais com contundência. Isso pelo menos até por volta do capítulo 80, devido a diversos fatores, a receita começou a desandar. Além disso, Gilberto Braga acabou considerando o casal Pedro e Ester personagens fortes e sérios demais para tratar deles numa novela, que se dilui e se repete no decorrer de muitos meses, sendo eles em sua visão mais adequados a um projeto menor e feito em outras bases, como uma minissérie.

O novelista declarou anos depois que, naquela época, estava desinteressado da novela, e por isso algo que começou com alto nível de dramaturgia e bons índices de audiência acabou por se perder da proposta. Ademais, havia também um número de personagens elevado ante o ideal para o autor, e houve percalços a transpor envolvendo o então casal na vida real Vera Fischer e Felipe Camargo. No início de 1995, depois de muitos atrasos, faltas, textos não decorados e coisas assim, a alta cúpula da Globo decidiu pela saída dos dois atores da novela. Um incêndio vitimou os dois personagens, Lídia e Inácio.

Para fazer par romântico com José Mayer foi escalada Luiza Tomé, no papel da jornalista Isabel. Anteriormente, os dois atores haviam formado par em Tieta (1989/90), que entrou em cartaz no Vale a Pena Ver de Novo enquanto Pátria Minha estava no ar. A saber, para compor o casal com Tarcísio Meira foi acionada Isadora Ribeiro, que viveu Cilene. Moça pobre, ela fez parte de uma fase com um “novo Raul”, que ao sofrer diversos reveses acaba por perder tudo, empobrecer e ir viver no interior, cuidando de cavalos.

Uma dolorosa cena de racismo em Pátria Minha

Determinado dia, ao chegar a seus aposentos e ver um dos empregados, Kennedy (Alexandre Moreno), rapaz negro, admirando suas gravatas bonitas e caras. Era isso mesmo que o rapaz estava fazendo, mas Raul, com todo seu racismo e mau-caráter, não acredita no que os olhos veem e prefere acusá-lo de roubar algo de seu cofre, que ficava no mesmo armário. Na cena, Raul diz a Kennedy coisas como “negro safado”, sem crer que o jovem quisesse de fato somente admirar suas gravatas. Atitudes assim fizeram com que Raul fosse um dos mais pesados fardos que Tarcísio Meira, um dos maiores astros das telenovelas, teve que carregar em mais de 30 anos de carreira (na ocasião).

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