Há 35 anos, no dia 26 de maio de 1986, o jornalista e apresentador Flávio Cavalcanti faleceu aos 63 anos, quatro dias após passar mal durante a apresentação ao vivo de mais uma edição de seu programa semanal no SBT, que levava seu nome.
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Flávio ingressou na televisão ainda em seus primórdios na década de 1950, no lugar do jornalista e colunista social Jacinto de Thormes, na TV Tupi. Depois foi fazer para o semanal Noite de Gala, exibido pela TV Rio e patrocinado por Abrahão Medina, da loja O Rei da Voz, nos anos 1960 esteve na Excelsior e depois se estabilizou na Tupi novamente.
Seu estilo circunspecto, sério e formal contrastava com outro fenômeno de comunicação seu contemporâneo, Abelardo Barbosa, o Chacrinha, personificação do espírito do tropicalismo.
Flávio, Chacrinha e Silvio Santos, três dos maiores nomes da nossa televisão, desenvolveram estilos de condução próprios para programas com auditório, jurados, atrações musicais, entrevistas e brincadeiras como muitos de seus sucessores, com variações, ainda copiam, por limitações do formato e pela aceitação comprovada desses estilos.
Marcas inesquecíveis de Flávio à frente de seu programa eram o frenético uso de seus pares de óculos, tirados e colocados constantemente, e o modo de chamar os intervalos comerciais, com o dedo em riste, que era focalizado pela câmera, com a frase: “Nossos comerciais, por favor”.
Os principais quadros do programa de Flávio Cavalcanti, que na Tupi ao longo dos anos chegaram a ser programas isolados, exibidos em dias distintos, foram A Grande Chance, em que atores, cantores, humoristas e outras figuras de talento ainda desconhecidas tinham a oportunidade de se revelarem para o grande público, e Um Instante, Maestro, focado na música brasileira e sua qualidade, ou a falta dela.
Flávio tinha atitudes polêmicas e controversas que entraram para a história da TV, como quebrar diante das câmeras discos que considerasse ruins, abominar o comunismo e rock and roll e defender abertamente a necessidade da existência da Censura.
Esse tipo de declaração e a fama de dedo-duro em tempos de ditadura lhe renderam desafetos e muitas críticas, mas na conjuntura em que apresentava seu programa rendeu também seguramente admiradores que concordavam com essa posição.
Nos anos 1970, Flávio chegou a ter seu programa suspenso por 60 dias, após apresentar uma entrevista de um homem que afirmava “emprestar” sua esposa a um amigo, porque estava impotente.
Na mesma época, em 1971, a disputa de audiência entre Chacrinha e Flávio levou ambos a exibirem apresentações da mãe-de-santo Cacilda de Assis, que incorporava a entidade Seu Sete da Lira, e deu mostras disso em pleno palco. O caso desencadeou uma grande discussão sobre a qualidade e os limites da TV na época.
O Programa Flávio Cavalcanti foi exibido por anos nas noites de domingo, competindo diretamente com o Fantástico, da Rede Globo. Essas circunstâncias favoreciam que em seu programa Flávio entrevistasse pessoas com histórias interessantes e/ou inusitadas, e também que se debatesse questões de interesse público naquele momento, ou que suscitassem mobilização da audiência.
Era a manifestação de um teor jornalístico-crítico-informativo que o apresentador sempre fez por onde imprimir a seu programa, com o qual se preocupava em transmitir algo para o telespectador, que ele aprendesse, que lhe acrescentasse algo. Esse espírito, aliado a um eventual sensacionalismo em torno dos entrevistados, renderam-lhe conversas históricas como as que teve com o presidente norte-americano John Kennedy e com Tenório Cavalcanti, o temido político da Baixada Fluminense.
Entre os jurados do programa de Flávio, que foi quem criou os júris de TV, ao longo dos anos estiveram: o costureiro Dener; a modelo e apresentadora Marisa Urban; a atriz Márcia de Windsor (que dava apenas nota 10 aos candidatos); o futuro líder do PL, hoje PR, Álvaro Vale; a atriz Vera Fischer; o maestro Erlon Chaves; a jornalista Marisa Raja Gabaglia; o jornalista e produtor musical Nelson Motta; a jornalista e apresentadora Sônia Abrão; a atriz Bete Mendes, que teve de deixar o júri por imposição dos militares; e o radialista José Fernandes.
No início dos anos 1980, após o fim da Rede Tupi, Flávio transferiu-se para a Rede Bandeirantes, na qual comandou o diário Boa Noite, Brasil, exibido em horário nobre, com diversos quadros de periodicidade que variava entre diária, semanal e quinzenal. Em 1983, nova mudança: passou para o recém-formado SBT, e o programa voltou a ter seu nome.
No dia 22 de maio, durante a apresentação do programa ao vivo diretamente dos estúdios do SBT, como fazia todas as noites de quinta, Flávio passou mal e, numa volta do intervalo, quem o público viu à frente da atração foi Wagner Montes, que disse que Flávio havia sofrido “uma pequena indisposição” e na semana seguinte estaria outra vez no comando do programa.
Não foi possível. Internado no hospital Unicor, com problemas nas coronárias, Flávio faleceu após uma parada cardíaca. Com a notícia de sua morte, o SBT cancelou a programação e manteve no ar uma mensagem de luto até a hora do sepultamento do apresentador.