'My Fair Lady'

No TBT da TV, Pigmalião 70 e a nova era das novelas da Globo

Sérgio Cardoso e Tônia Carrero foram os astros da novela

Publicado em 28/02/2020

Em 2 de março de 1970, a TV Globo estreou às 19h aquela que pode ser considerada a primeira novela moderna do horário. Escrita por Vicente Sesso e dirigida por Régis Cardoso, Pigmalião 70 recriava o mito de Pigmalião. E também o texto teatral de George Bernard Shaw, de mesmo nome e escrito no começo do século 20. A saber, a inspiração foi a mesma que levou a Broadway a montar My Fair Lady, que nos anos 1960 chegou ao cinema com Audrey Hepburn e Rex Harrison e a nossos palcos com Bibi Ferreira e Paulo Autran – depois substituído por Edson França.

Tanto o espetáculo de teatro quanto o filme mostram uma florista iletrada, Eliza, que se torna motivo de uma aposta entre o Professor Henry Higgins e seu amigo, o Coronel Pickering. Higgins aposta com o amigo que é capaz de transformar aquela pobre coitada numa grande dama da sociedade, com todos os modos e lustros culturais possíveis e necessários. Aposta feita, ele se lança à tarefa, não sem se apaixonar por Eliza durante o processo, bastante árduo, aliás.

Pigmalião 70 e a inversão do eixo central de Bernard Shaw

Anúncio da estreia de Pigmalião 70
Anúncio da estreia de <em>Pigmalião 70<em> ReproduçãoO Globo

Em Pigmalião 70, que ganhou o ano no título para dar os devidos ares de modernidade ao uso da trama central, acontecia o contrário. É uma mulher da sociedade que se lança à tarefa de transformar um homem rude e nada refinado num verdadeiro lorde. Cristina Melo de Guimarães Cerdeira (Tonia Carrero) e Fernando Dalba (Sérgio Cardoso) se conhecem num incidente de trânsito que quase resulta em tragédia. Um fecha o outro num semáforo, forma-se a confusão e o impacto do ocorrido não sai da mente de ambos. Até que, ao narrar o fato para amigas muito próximas, Cristina decide apostar que é capaz de tornar Nando um homem requintado. Muito distante do que ele é na verdade.

Nando trabalha na feira ao lado da mãe, a Baronesa (Wanda Kosmo), e também dos amigo Gino (Felipe Carone) e Guiomar (Norah Fontes). Sua noiva, Candinha (Susana Vieira), é apaixonada por ele e tem o sonho de se tornar modelo – ou manequim, como se dizia na época. Justamente o filho de Cristina, Kiko (Marcos Paulo), é quem acaba ajudando Candinha a realizar seu sonho. Enquanto isso, Nando e Cristina se envolvem cada vez mais, apesar das diferenças que existem entre eles.

Além do horário das 19h com Pigmalião 70, as outras faixas de dramaturgia globais também mudaram da água para o vinho

Cristina (Tonia Carrero) e Nando (Sérgio Cardoso) em Pigmalião 70 (Reprodução/Memória Globo)
Cristina Tonia Carrero e Nando Sérgio Cardoso em Pigmalião 70 ReproduçãoMemória Globo

Na mesma ocasião – ou seja, virada da década de 1960 para a de 1970 – a saída de Glória Magadan da direção de teledramaturgia da TV Globo possibilitou à emissora uma modificação completa de estilo. Só para ilustrar, a antecessora de Pigmalião 70 às 19h era A Cabana do Pai Tomás, adaptada do romance de Harriet Beecher Stowe passado na Guerra de Secessão norte-americana. Nada a ver com a São Paulo de Nando e Cristina.

No elenco ainda, só para ilustrar, as presenças de Betty Faria, Célia Biar, Maria Luiza Castelli, Eloísa Mafalda, Álvaro Aguiar, Carmen Silva, Marisa Raja Gabaglia, Ida Gomes, Jardel Mello e Adriano Reys, entre outros.

Da Espanha para o Rio de Janeiro

Na faixa das 20h, duas novelas de Janete Clair bastante diferentes entre si. Exibida ao longo de 1969 e esticada devido ao incêndio nos estúdios paulistanos da Globo, que impossibilitaram o encerramento da novela na época prevista, Rosa Rebelde se passava na Espanha da expansão napoleônica pela Europa, século 19. Tarcísio Meira e Glória Menezes eram os protagonistas da história, substituída em fins de 1969 por Véu de Noiva. A “novela-verdade, em que tudo acontece como na vida real”, conforme anunciado no material publicitário, marcou a estreia de Regina Duarte na Globo. Além disso, marcou também seu primeiro par romântico com um galã já habitual da casa, Cláudio Marzo. Seu cenário era o Rio de Janeiro de então, com os points da época. E imagens externas com direito até a tomadas de Marcelo (Marzo) em sua vida de piloto automobilístico.

De Veneza para Salvador

Já na faixa das 22h, Dias Gomes deixava os conflitos de Veneza em A Ponte dos Suspiros para falar da sua muito familiar Bahia em Verão Vermelho. Os doges italianos de 1500 e suas diferenças que atrapalhavam o amor de Leonor (Yoná Magalhães) e Rolando (Carlos Alberto), embora tenham adquirido aos poucos pitadas políticas mais próximas da nossa realidade conforme o possível, deram lugar à crise do casamento de Adriana (Dina Sfat) e Carlos (Jardel Filho) motivada pela presença de Flávio (Paulo Goulart). Em meio a disputas de terras, a discussão sobre desquite, vergonha das origens e os costumes baianos, a novela marcou uma grande diferença no horário e no próprio gênero na ocasião. Anteriormente, A Ponte dos Suspiros havia ocupado o horário das 19h, com A Cabana do Pai Tomás na sequência, às 19h30.

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