DISPUTA ACIRRADA

Sob Pressão tem chance de ser a melhor série brasileira da história?

Confira onze produções nacionais que estão na briga com o drama médico

Publicado em 16/06/2022

O drama médico Sob Pressão voltou a ser tema de uma discussão interessante e pertinente: a atração pode ser considerada a melhor série brasileira da história? Enquanto a quinta (e última) temporada se desenrola no Globoplay, com episódios inéditos toda quinta-feira, vale inserir sim a trama visceral nessa conversa, com toda a certeza. Mas é importante colocar em pauta outras produções nacionais de alto nível que merecem ser lembradas.

Sem dúvida, argumentar a favor do marco histórico que é Sob Pressão é fácil. Afinal, trata-se de uma série completa em todos os sentidos, com uma produção caprichada, direção de arte impecável e atuação de elenco ímpar, com destaque total à dupla Marjorie Estiano e Julio Andrade.

Sob Pressão vai além. A série traz à tona o retrato do SUS (Sistema Único de Saúde) e das pessoas que trabalham nos hospitais públicos brasileiros. Serve como choque de realidade para quem só pisa em instituições médicas privadas ou tenta desvalorizar a eficiência desse atendimento gratuito e essencial à maioria da população do país.

Assim, o drama médico não apenas é um produto televisivo da mais alta qualidade, ele consegue ser relevante socialmente. Chega-se à fórmula ideal de uma produção de entretenimento, que é propor debates importantes para a vida em sociedade. 

Tudo isso pode ser usado em defesa para Sob Pressão ser apontada como a melhor série brasileira da história. O Observatório da TV apresenta outras onze atrações nacionais que merecem um lugar na mesa dessa conversa. Confira:

Bianca Comparato em cena da série 3%
Bianca Comparato em cena da série 3

3% – Netflix

Primeira produção tupiniquim da Netflix, 3% (2016-2020) também foi a primeira série de língua não inglesa da gigante do streaming a fazer sucesso em todo o mundo, abrindo espaço para produções como Round 6

Um dos pontos fortes do drama é ser uma ficção científica, gênero pouco explorado no mundo da produção roteirizada nacional. A trama de 3%, encabeçada por Bianca Comparato, aborda temas como privilégio social e fartura versus extrema pobreza, servindo de alegorias de situações vividas na contemporaneidade brasileira.

Elenco da minissérie A Casa das Sete Mulheres
Elenco da minissérie A Casa das Sete Mulheres

A Casa das Sete Mulheres – Globo

O drama de época premiadíssimo marcou história. Exibida em 2003 pela Globo, a minissérie A Casa das Sete Mulheres é uma amostra da qualidade de ambientação e narrativa de uma trama sobre o passado do Brasil, especificamente expondo os bastidores da Revolução Farroupilha (1835-1845).

Baseada em livro homônimo, A Casa das Sete Mulheres apresentou uma perspectiva feminina da batalha, seguindo os passos de sete mulheres da família do líder dos farrapos, Bento Gonçalves (Werner Schunemann). O elenco pesado contou com nomes do nível de Camila Morgado, Mariana Ximenes, Giovanna Antonelli, Eliane Giardini, entre outros.

Formação original da comédia A Grande Família
Formação original da comédia A Grande Família

A Grande Família – Globo

Melhor sitcom da TV brasileira, com 485 episódios espalhados em 14 temporadas, A Grande Família (2011-2014) foi quase unanimidade entre os brasileiros; quase porque a unanimidade é burra. Nas noites de quinta-feira, era hábito acompanhar as aventuras da família Silva, retrato da classe média baixa do Rio de Janeiro, sendo também de fácil identificação com qualquer família do povão.

Incrivelmente hilária, episódio após episódio, A Grande Família desafiou qualquer lógica. O sucesso foi tão imenso que ameaçou a novela das 21h como o programa mais visto da Globo. No auge, a comédia chegou a atingir impressionantes 68% de share no ibope, que significa que de cada 100 televisores ligados no horário de exibição da sitcom, 68 estavam sintonizados na série.

A Grande Família está disponível no Globoplay.

Cena da minissérie Anos Rebeldes
Cena da minissérie Anos Rebeldes

Anos Rebeldes – Globo

Curta, com apenas 20 episódios, Anos Rebeldes (1992) é uma das séries mais importantes da TV brasileira. Lançada poucos anos após a redemocratização, a trama manifesta um olhar crítico e necessário sobre a ditadura militar no Brasil. A atração é ambientada no Rio de Janeiro, entre 1964 e 1979.

Claro que uma pitada de romance se faz necessária para movimentar a narrativa. Mas a história de amor tem influência política, com o triângulo amoroso central alicerçado na militância, seja pelo desejo de lutar a favor de causas sociais ou ser indiferente ao movimento antissistema.

Anos Rebeldes é uma obra eterna e que supera a passagem de tempo, sendo hoje mesmo necessária para jogar luz na realidade distorcida por causa das fake news acerca de um período assombroso do Brasil.

Anos Rebeldes está disponível no Globoplay.

A atriz Mel Lisboa no drama de época Coisa Mais Linda
A atriz Mel Lisboa no drama de época Coisa Mais Linda

Coisa Mais Linda – Netflix

A deslumbrante Coisa Mais Linda é um dos exemplos concretos de série da Netflix que funcionaria melhor se os episódios fossem lançados semanalmente. Isso porque o drama de época, sobre o papel da mulher na sociedade dos anos 1950 e 1960, abordou diversos temas que tinham condições de serem discutidos com mais calma e profundidade.

Mesmo assim, nos poucos dias em que ficou em evidência, pela primeira ou segunda temporadas, Coisa Mais Linda movimentou as conversas dos brasileiros ligados em séries, colocando na roda assuntos como machismo, preconceito social, abuso sexual, estupro marital, sexismo no trabalho, entre outros. Tudo envelopado em uma reconstituição de época elegante e autêntica, aliada a atuações cativantes.

Dani Valente (à esq.) Maria Mariana, Georgiana Góes e Deborah Secco em Confissões de Adolescente
Dani Valente à esq Maria Mariana Georgiana Góes e Deborah Secco em Confissões de Adolescente

Confissões de Adolescente – Cultura

A ideia de Confissões de Adolescente (1994-1996) foi narrar apuros e felicidades de quatro irmãs adolescentes distintas, explorando a rotina de cada uma delas. Tinha a tomboy Carol (vivida por Deborah Secco), a delicada Natália (Dani Valente), a aventureira Bárbara (Georgiana Góes) e a madura Diana (Maria Mariana).

Investigando os passos de teens dos 13 aos 19 anos, a série ousou ao destrinchar temas que hoje podem parecer simplórios no universo televisivo, mas que três décadas eram tabus, como sexo e gravidez na adolescência, uso de drogas e crises de identidade. Atemporal, Confissões de Adolescente é um clássico da TV que nunca deve ser esquecido.

Matheus Nachtergaele (à esq.) com Selton Mello em O Auto da Compadecida
Matheus Nachtergaele à esq com Selton Mello em O Auto da Compadecida

O Auto da Compadecida – Globo

Sim, O Auto da Compadecida é uma minissérie. Isso pode causar estranheza para a maioria das pessoas acostumadas a ver a história em formato de filme, devido às zilhões de reprises exibidas ao longo dos últimos anos. 

Adorada pelos brasileiros, a atração foi de fato lançada como minissérie de quatro capítulos, em 1999. Logicamente, essa versão é mais completa do que o filme, pois o longa precisou cortar cenas. A trama eternizada no entretenimento brasileiro, baseada em peça homônima de Ariano Suassuna, é um retrato rico e fiel da cultura popular do país.

O Auto da Compadecida está disponível no Globoplay.

Juliana Schalch (à esq.), Michelle Batista e Rafaela Mandelli em O Negócio
Juliana Schalch à esq Michelle Batista e Rafaela Mandelli em O Negócio

O Negócio – HBO

Produção refinada da HBO brasileira, O Negócio (2013-2018) recebeu críticas positivas até da imprensa internacional, alcance oriundo do fato de pertencer a uma marca renomada do entretenimento mundial. A série chegou até a quarta temporada, com 51 episódios, sem perder o impacto.

O enredo explorou de forma original o mundo da prostituição de luxo, liderado por três garotas de programa que se uniram para conquistarem a independência longe de cafetões. Elas aplicavam estratégias de marketing na divulgação da agência Oceano Azul. A série O Negócio aliou a inteligência da narrativa com ótimas atuações.

O Negócio está disponível na HBO Max.

Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães na comédia Os Normais
Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães na comédia Os Normais

Os Normais – Globo

Vani (Fernanda Torres) e Rui (Luiz Fernando Guimarães) estão no panteão da cultura pop nacional. O casal conquistou a audiência nacional com a comédia Os Normais (2001-2003), que fez história apesar de ter durado pouco, apenas três temporadas. O sucesso instantâneo rendeu vários prêmios e projetou os personagens, protagonistas de dois filmes baseados na atração.

Os Normais resume o convívio atrapalhado de um casal, com pitadas de neurose e paixão avassaladora. A atração é outra que desafia o tempo e permanece atual, arrebatando um público que sequer tinha nascido na época da exibição original. Com frequência, Vani vira trend topic no Twitter ao surgirem comparações com Fleabag, personagem de Phoebe Waller-Bridge na premiadíssima comédia homônima britânica, do Prime Video.

Os Normais está disponível no Globoplay.

A atriz Sophie Charlotte na minissérie Passaporte para Liberdade
A atriz Sophie Charlotte na minissérie Passaporte para Liberdade

Passaporte para Liberdade – Globo

A Globo apostou muito em Passaporte para Liberdade (2021). Como resultado, colheu os frutos, culminando na maior série já feita pela emissora; e uma das melhores. Em parceria com a Sony, surgiu esse drama internacional com uma produção estupenda, digna de Hollywood, para contar a história de Aracy de Carvalho (1908-2011), mulher que ajudou judeus a fugirem da Alemanha de Hitler.

A importância desse relato fidedigno é gigantesca, vide a onda de comentários contrários disparados com a intenção de desvalorizar os atos heroicos de Aracy, interpretada pela excelente Sophie Charlotte. Passaporte para Liberdade entregou uma direção de arte absolutamente rica, capaz de transformar as ruas de Buenos Aires na Hamburgo dos anos 1930.

Passaporte para Liberdade está disponível no Globoplay.

O ator Zécarlos Machado em Sessão de Terapia
O ator Zécarlos Machado em Sessão de Terapia

Sessão de Terapia – GNT/Globoplay

Baseada em série israelense, Sessão de Terapia se destaca por ser envolvente mesmo sendo amparada por uma estrutura bem simples. Afinal, a base da série é um psicoterapeuta atendendo pacientes, ambos cercados de quatro paredes em um ambiente pouco convidativo. Como provado, muito pode ser tirado de duas pessoas sentadas, apenas conversando.

O brilhantismo de Sessão de Terapia está aí. Apesar desse clima, a série é irresistível por contar histórias muito bem estruturadas e desenvolvidas. É fácil se identificar com o que está sendo narrado, seja pela curiosidade das questões propostas ou por quem experimentou na pele as problemáticas vividas pelos pacientes. Exibida entre 2012 e 2014 pelo GNT, a atração foi ressuscitada pelo Globoplay, em 2019.

Sessão de Terapia está disponível, completa, no Globoplay. ⬩

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