Especial

Falas de Orgulho: Richard Alcântara revela que A Força do Querer mudou sua vida

Ele conta que a novela o ajudou a se entender como homem transgênero

Publicado em 07/06/2021

No mês do Orgulho LGBTQIA+, a Globo exibe o especial Falas de Orgulho. Um dos participantes da atração é o jovem Richard Alcântara, que precisou lidar com apelidos como “maria macho” e “sapatão” ao longo de sua vida. Até que ele assistiu A Força do Querer e sua vida mudou.

Desde cedo, Richard já manifestava sua identidade de gênero masculina, apesar de ainda não se entender como tal. Não por conta das roupas ou pelo futebol, mas sim porque sentia que algo estava errado com o seu corpo. “Eu não sabia o que era ‘transgênero’, vivia em um mundo dividido entre ‘lésbicas e gays'”, revela.

Apesar de se atrair por mulheres, os homens também sempre chamaram a sua atenção, mas de outra forma. “Eu gostava da aparência dos homens. Eu admirava o peitoral, a barba, a liberdade que eles tinham com o corpo. Eu nunca me senti confortável com o meu corpo. E comecei a entrar em depressão porque não sabia o que estava acontecendo comigo”, conta.

E foi com a ajuda de Ivan, personagem vivido por Carol Duarte na novela A Força do Querer, que tudo passou a fazer sentido. “A novela mudou a minha vida, literalmente. No começo, eu via a Ivana e pensava ‘nossa, isso já aconteceu comigo’. E a cada fase que o personagem foi passando, eu me sentia representado. Eu assistia à novela com a minha mãe e até ela conseguia me reconhecer naquela história. Foi assim que me descobri um homem trans e procurei por tratamento hormonal”, relembra ele.

Morador da cidade de Caçapava, Richard trabalha como assistente de controle de qualidade em uma fábrica de automóveis e namora há dois anos com Yuri Fernanda, que esteve ao seu lado durante toda a transição.

“A gente se conheceu em um restaurante que eu trabalhava, ainda com aparência e nome femininos. Ela foi a primeira pessoa por lá a vir conversar comigo e me perguntar como eu queria ser chamado. Viramos muito amigos e a amizade virou amor. Ela me acompanha em tudo”, revela, apaixonado.

Na entrevista abaixo, Richard conta mais detalhes de sua jornada de aceitação e amor e também relata os momentos confusos e difíceis da sua infância e de situações que ainda vivencia.

Conte um pouco da sua infância e de quando passou a se entender LGBT.

A minha infância foi muito na rua, jogando bola e soltando pipa. Sempre fui um menino muito arteiro, muito serelepe. Desde criança já era chamado de “maria macho” ou de “sapatão”, mas eu não me importava. A partir dos 14 anos foi quando eu realmente passei a entender que eu me atraía por meninas, mas era algo que eu tinha medo de assumir porque achei que poderia decepcionar a minha família de alguma forma, apesar de eles terem a mente bastante aberta. Eu cheguei a me relacionar com meninos para “me enquadrar”, mas é estranho tentar ser algo que você não é. Parece que você está vivendo um personagem inacabável.

E quando foi que você entendeu que era um homem trans?

Eu não sabia o que era ‘transgênero’, vivia em um mundo dividido entre ‘lésbicas e gays’. Só quando vim morar em Caçapava, que ouvi pela primeira vez sobre o assunto, porque conheci uma mulher trans. Eu gostava da aparência dos homens, eu admirava o peitoral, a barba, a liberdade que eles tinham com o corpo. Eu nunca me senti confortável com o meu corpo. E comecei a entrar em depressão porque não sabia o que estava acontecendo comigo. Quando começou A Força do Querer que eu realmente passei a me entender como homem trans. A novela mudou a minha vida, literalmente. A Alana, essa minha amiga, me ensinou muito sobre o assunto e, pouco depois disso, estreou a novela. No começo, eu via a Ivana e pensava ‘nossa, isso já aconteceu comigo’. E a cada fase que o personagem foi passando, eu me sentia representado. Eu assistia com a minha mãe e até ela conseguia me reconhecer naquela história. Foi assim que me descobri um homem trans e procurei por tratamento hormonal.

Você está em um relacionamento hoje em dia? Pode contar um pouco sobre?

Sim, eu e minha namorada moramos juntos há dois anos. A gente se conheceu em um restaurante que eu trabalhava, em outra cidade. Eu ainda tinha aparência e nome feminino, mas queria ser tratado no masculino. E ela foi a primeira pessoa por lá a vir conversar comigo e me perguntar como eu queria ser chamado. Viramos muito amigos e a amizade virou amor. Ela me acompanha em tudo.

Você já precisou esconder a sua identidade de gênero alguma vez?

Já precisei esconder sim. Nesse meu antigo trabalho, fui contratado com currículo feminino. E é muito difícil você chegar procurando um emprego e com um currículo diferente da sua aparência. Aqui nesse meu novo emprego, já fui contratado como Richard. No início, as pessoas não sabiam que eu era um homem transgênero e sempre que rolava algum tema LGBT, eu ficava com muito medo. Mas hoje em dia todos já sabem e é tranquilo.

Já passou por alguma situação de constrangimento?

Durante muito tempo, usar o banheiro público era sempre traumático. Quantas vezes eu chegava em casa chorando de dor porque tinha medo de usar o banheiro do shopping ou do trabalho. É traumático ter as pessoas te olhando torto. Hoje em dia, com o tratamento hormonal, já tenho barba e consigo entrar sem medo, de cabeça erguida.

O Especial

Falas de Orgulho mostrará as jornadas de oito personagens de diferentes idades, regiões, trajetórias de vida e religiões – e por trás delas, histórias de superação, preconceito e auto aceitação, passando por temas transversais às letras que formam a sigla LGBTQIA+ – que culminam na celebração de poder ser quem se é e na exaltação dessas vozes.

Falas de Orgulho tem direção artística de Antonia Prado, direção de Washington Calegari e roteiro assinado por Carlyle Junior, com produção de Beatriz Besser. Rafael Dragaud é o diretor executivo e Mariano Boni, diretor de gênero. O especial vai ao ar na TV Globo no dia 28 de junho, logo após Império; e será exibido ainda no GNT, dia 30 de junho, e no Canal Brasil, dia 2 de julho.

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