9 de julho

Entenda a Revolução de 1932; conflito foi abordado em Éramos Seis

O filho mais velho de Dona Lola morreu em meio aos protestos da época que o feriado relembra

Publicado em 09/07/2020

Atração das 18h na TV Globo entre setembro de 2019 e março de 2020, encerrada já em meio à pandemia de coronavírus, a novela Éramos Seis contou a história da família Lemos, entre as décadas de 1920 e 1940.

Lola (Glória Pires) é uma esposa e mãe amorosa e abnegada, que sofre com os reveses da vida e a infelicidade que os destinos e personalidades de cada um dos quatro filhos provoca.

Carlos (Danilo Mesquita) em Éramos Seis
Carlos Danilo Mesquita em Éramos Seis Reprodução

O mais velho deles, Carlos (Danilo Mesquita), morre em meio a uma manifestação política na cidade de São Paulo, parte do processo que passou a ser conhecido como Revolução de 1932. Afonso (Cássio Gabus Mendes), Virgulino (Kiko Mascarenhas) e Tião (Izak Dahora) foram outros personagens ativamente envolvidos nesses acontecimentos.

O fato do dia 9 de julho ser feriado estadual para os paulistas tem a ver com esse movimento. Saiba mais sobre esse momento histórico retratado na dramaturgia, aqui no Observatório da TV.

Antes da Revolução de 1932, houve a Revolução de 1930

Em 1930, ocorreu aquela que veio a ser a última eleição presidencial do período conhecido como República do Café-com-leite na História do Brasil. O nome se deve à alternância consentida entre políticos paulistas (representados pelo café) e mineiros (simbolizados pelo leite) à frente do Poder Executivo brasileiro.

Os principais candidatos foram o paulista Júlio Prestes de Albuquerque, apoiado pelo presidente Washington Luís, e o gaúcho Getúlio Vargas, que tinha ao seu lado lideranças incomodadas com a candidatura de Júlio Prestes. Afinal, onde estava o mineiro da vez?

Pelo acerto válido até ali, seria a vez do presidente de Minas Gerais (que hoje chamamos de governador), Antônio Carlos de Andrada, ir morar no Palácio do Catete após o pleito que, basicamente, valia como mera formalidade.

Todavia, Washington Luís, fluminense que fizera carreira em São Paulo e fora eleito com a turma do “café”, ignorou o acordo e fez de sucessor outro representante paulista. Havia a ideia entre os políticos paulistas de que os outros estados não tinham condições de liderar o Brasil como São Paulo.

A Aliança Liberal

Isso somado à insatisfação de forças políticas Brasil afora com a concentração do poder central entre paulistas e mineiros acabou por propiciar a formação da Aliança Liberal.

Esta era organizada por mineiros e gaúchos. Getúlio Vargas e João Pessoa, este paraibano, foram os candidatos a presidente e vice-presidente pela Aliança, apoiada por Antônio Carlos. Apuradas as eleições, com Júlio Prestes apontado como eleito começaram os protestos e as acusações de fraude.

Além disso, João Pessoa foi assassinado na capital paraibana, que ganhou seu nome depois disso, mas à época se chamava também Paraíba. A saber, o crime não tinha motivações políticas, ao que consta.

Vargas deixou o Sul e partiu rumo ao Rio de Janeiro com soldados e armas para tomar o poder. Não apenas Washington Luís como também Júlio Prestes deixaram o Brasil por via marítima, temerosos das próprias vidas. A esse movimento dá-se o nome de Revolução de 1930.

São Paulo contra Getúlio Vargas

O que chamamos de Revolução Constitucionalista de 1932 corresponde a ecos dos fatos que desencadearam a Revolução de 1930. E que prosseguiram nos primeiros anos do governo revolucionário, por assim dizer, de Getúlio Vargas.

Sendo São Paulo o estado que os políticos “inimigos” representavam, com a devida defesa dos interesses paulistas, a nova ordem não privilegiava em nada o estado.

Fora o desejo crescente de que Vargas desse início aos trabalhos de uma nova Constituição, que desse ares efetivamente legais à nova ordem. De modo que a mágoa dos paulistas para com o governo estourou em 1932 e desencadeou um movimento que exigia a feitura de uma nova Constituição, com a eleição de uma Assembleia Constituinte.

Essa reivindicação escondia outras motivações, como a defesa dos interesses das oligarquias paulistas cafeicultoras, destituídas do poder de sempre.

Em 9 de julho, após semanas de tensão e manifestações populares como aquela que mostrou Carlos sendo baleado em Éramos Seis, eclodiu a Revolução de 1932. Todavia, São Paulo não conseguiu apoio de outros estados e se lançou sozinho contra Getúlio Vargas.

Ouro foi arrecadado para ajudar nos gastos da revolução e, embora tenham ocorrido mais de 600 mortes entre os soldados paulistas, conforme os números oficiais, São Paulo perdeu a batalha.

Mas de fato ocorreu a eleição da Assembleia Constituinte em 1933 e a promulgação de uma nova Carta Magna para o Brasil, em 1934. Começou aí o chamado Governo Constitucional do gaúcho, após a fase do Governo Revolucionário.

Em 1937, Getúlio Vargas deu um golpe, tornou-se ditador declarado e teve início o período da nossa História conhecido como Estado Novo. A ditadura varguista perdurou até 1945, quando a presidência foi assumida por José Linhares até a posse de outro titular eleito, o Marechal Eurico Gaspar Dutra, em 1946.

Em versões anteriores de Éramos Seis, Carlos também foi vítima da Revolução de 1932

Silvio de Abreu e Rubens Ewald Filho adaptaram Éramos Seis para a TV Tupi em 1977. Na ocasião, era já a terceira versão do romance de Maria José Dupré para a televisão. Anteriormente, a TV Record (em 1958) e a mesma Tupi (em 1967) já haviam transposto a história de Dona Lola.

Todavia, só em 1977 foi que Carlos (Carlos Augusto Strazzer) ganhou na novela o destino que conhecemos. Ou seja, a morte em decorrência de tiros levados na Revolução de 1932. O personagem também morre no livro, mas não da mesma maneira.

A direção da TV Tupi queria Carlos Augusto Strazzer ou Carlos Alberto Riccelli, ambos no elenco de Éramos Seis, para viver o protagonista daquela que seria a próxima novela das 20h da casa, O Profeta, de Ivani Ribeiro. Riccelli vivia Alfredo.

Como os personagens dos dois eram filhos de Lola (Nicette Bruno), Silvio e Rubens decidiram pela morte de Carlos. Afinal, no livro ele também lutava na Revolução de 1932, e também morria. Mas essa morte é diferente em relação à novela. Na visão de Dupré, Carlos volta para casa depois da guerra e morre da mesma doença que matou o pai, Júlio.

Produzida em 1994, a versão do SBT manteve o texto dos anos 1970, com apenas pequenas adaptações que ficaram a cargo de Rubens Ewald Filho.

A essa altura Silvio já era contratado da Globo havia mais de 10 anos e, portanto, não podia se envolver com os trabalhos da novela do SBT, apenas ceder os direitos autorais. Carlos (Jandir Ferrari) também morreu aqui em meio à Revolução de 1932, a exemplo de Strazzer em 1977.

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