“Violência não serve para nada”, afirma Daniel de Oliveira sobre agressividade de seu personagem em Os Dias Eram Assim

Publicado em 04/07/2017

Com uma carreira sólida na televisão, teatro e cinema, e prestes a lançar um álbum musical, Daniel de Oliveira, interpreta o vilão Vitor na supersérie Os Dias Eram Assim. O rapaz conversou com nossa reportagem sobre o personagem, sobre a criação dos filhos e sobre a parceria em cena com a esposa Sophie Charlotte:

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Daniel, como é para você fazer este vilão?

Está todo mundo ficando com raiva de mim, até meu vizinho outro dia chegou pra mim e falou “rapaz, estou ficando com raiva de você”, então quer dizer que o negócio está bacana. Para mim é um grande prazer fazer esse trabalho, sobretudo com toda essa galera que trabalha aqui.

E como é a parceria com a sua esposa, Sophie Charlotte?

A gente veio de O Rebu, e coincidiu de novo de trabalharmos juntos.

Quando vocês fazem as cenas difíceis de discussão ou onde o Vitor demonstra agressividade, como é o ensaio entre vocês?

No começo estávamos batendo mais as cenas em casa, e o diretor pediu que estudássemos sozinhos sem conversar antes. Agora quando chegamos aqui passamos o texto, e na hora de gravar temos a surpresa. Mas aqui somos dois profissionais, e se eu a admirava antes como atriz, agora admiro mais ainda.

Na história, está começando a vir à tona que o Vitor também foi responsável por separar o casal principal.

Já está começando. Vão ter que elucidar a história, afinal um cara como o Vitor não pode se dar bem, ele tem que tomar uma rasteira em algum momento.

Qual seria um bom final para ele em sua opinião?

Agora você me pegou (risos). Ficar sem a Alice é fato, porque é a obsessão da vida dele, mas ainda não sei. Tem todas as falcatruas dele na construtora em relação a desvio de dinheiro. É interessante ver retratado algo no passado que ao mesmo tempo é tão atual, como essa construtora cheia de falcatruas.

Ele ainda tem uma relação de cumplicidade com a mãe nas maldades. Como é trabalhar com a Susana Vieira?

Verdade, é uma dupla e eles são terríveis. Susana Vieira é incrível! Hoje mesmo ela chegou para mim e falou “Você está tão bem nessa série”. Um elogio vindo dela é bacana, dá um incentivo. Ela é divertidíssima, tem um senso de humor maravilhoso.

Em minha última entrevista com a Susana, ela disse que te elogia bastante por você ser um ator muito estudioso, e não costuma frequentar festas.

Nesse sentido realmente, porque não combina comigo. Eu sou pago para fazer o que faço aqui, além disso já não gosto. Eu fico feliz da Susana perceber que estou comprometido com o que faço, não que eu me feche para o mundo. Aparecer em uma revista não vai me tirar do foco, mas confesso que sou mais reservado mesmo.

O personagem é visceral e tem uma carga muito grande. Existe uma chavinha que você gira para sair do personagem e não levar ele para fora do estúdio?

Essa chave aí eu desenvolvi com 14 anos de idade, quando subi no palco pela segunda vez, e eu já buscava aprender a sair do palco, relaxar pra realmente não levar o personagem para casa.

O que você acredita que segura o Vitor nesse relacionamento que tem 15 anos de erros?

Normalmente um casamento não resistiria tanto (risos). Ninguém fica com ninguém obrigado, mas ele é manipulador e soube fazer isso muito bem. É novela né? Chegaram alguns capítulos agora, que o Vitor passa a manipular maldosamente os filhos também, tem até um nome hoje em dia: alienação parental.

Você fez muitos personagens na TV, mas muitas pessoas ainda se lembram do Cazuza¿ Ele foi muito marcante para você?

Foi um personagem que eu emagreci e tinha material muito forte para trabalha-lo. Antes dele, eu tinha feito Malhação e A Padroeira e não era muito conhecido. As pessoas receberam muito bem o filme e pra mim foi uma viagem.

O Vitor também tem uma vertente violenta.

Ele tem essa agressividade. Ele acha que tem o direito na cabeça maluca dele de agredir as pessoas. Tivemos um caso do ministro que agrediu a esposa, e ela o defendeu dizendo que era algo entre os dois e que ninguém deveria se meter, mas as coisas não funcionam assim. Eu sou pai de 3 filhos e nunca encostei a mão neles, porque não precisa, uma conversa é mais que necessária. A violência não serve para nada quando se trata de uma relação amorosa. No caso do Vitor, começou com uma agressão verbal, e antes de dar o primeiro tapa, geralmente começa com uma violência psicológica. Quem ama não agride, e sim quer ver a evolução e felicidade do outro, e a felicidade dos dois depende dessa boa convivência.

O que você acha que leva uma mulher a se submeter a uma relação como essa?

Não sei. Antigamente falavam que era a dependência financeira, mas hoje em dia a mulher já conquistou o espaço que deveria ter conquistado há muito tempo. Em 2017 não deveríamos estar falando sobre isso, mas temos que falar sobre o preconceito, racismo, e intolerância e as opiniões na internet são um reflexo disso. É horrível.

Você concorda que para o homem a traição tenha um peso maior?

Depende de cada casal, como é a relação e o que eles combinam na vida. A questão passional do Vitor, é que ele transforma isso em violência, e também por ser machista, afinal todas as coisas boas que acontecem para ele, ele comemora no bordel.

Você percebe que seus filhos querem ir para este caminho da arte?

Eu deixo livre. Se eles quiserem ir darei meu apoio.

Como foi o estudo da história da década de 70? Você provavelmente já tinha estudado na escola, mas como foi o estudo nessa fase de preparação?

Eu estudei em colégio militar então nem vi essa matéria (risos). Eu aprendi muito quando fiz o filme Zuzu Angel, e logo em seguida eu fiz o Frei Beto. Ele é um cara incrível, e ficou preso apenas porque ajuda pessoas a fugirem pela fronteira do Uruguai. Aqui na supersérie, tivemos diversas palestras, e ainda temos. Eu até pedi que a direção chamasse o Frei Beto para palestrar também.

Você disse que morou no Iraque. Como foi essa experiência?

Foi incrível. Eu fui para lá com 7 anos de idade, para morar num acampamento chamado Cifão, onde morei com minha família por 1 ano. Neste acampamento só tinham brasileiros, então as outras crianças e eu brincávamos em vários lugares, até mesmo aqueles que não podíamos ir. Uma vez fiquei doente e por motivos de trabalho nem meu pai nem minha mãe podiam me levar ao hospital, então um rapaz árabe me levou e meu pai disse “Quando sair de lá, ele vai te colocar no ônibus e você vai voltar”, eu estava quase chorando de medo, mas assim que a porta do ônibus se abriu, meu pai estava me esperando lá.

Você acha que mudou muito essa relação das pessoas com as cidades devido à violência?

Quando voltei do Iraque, com 8 anos em Belo Horizonte minha família me incentivava a andar pela cidade. Uma vez me incumbiram de ir nas Lojas Americanas no Centro da cidade. Eu peguei o ônibus e fui, hoje em dia não dá mais para fazer isso. Não quero andar num carro blindado, quero ter a liberdade de ir a qualquer lugar e vou mesmo (risos).

Você é o pai que queria ser?

Graças a Deus. De vez em quando eu faço até dever de casa com eles, porque gosto de ver o que eles estão estudando.

*Entrevista realizada pelo jornalista André Romano.

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