Rayssa Bratillieri revela que teve bulimia, como sua personagem em Malhação: ‘Trago à tona emoções e questões daquele tempo’

Publicado em 12/06/2018

Rayssa Bratillieri tem apenas 20 anos e uma grande missão: dar vida à jovem Pérola, personagem que luta contra um transtorno alimentar em “Malhação – Vidas Brasileiras” (Globo).

Em entrevista exclusiva ao Observatório da Televisão, a atriz afirmou que busca conscientizar os adolescentes que assistem à novela, e que usa e abusa de suas redes sociais para dizer ao público que não existe padrão de beleza a ser seguido.

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Rayssa fala também sobre a saga pessoal que lhe ajudou a compor a personagem: alguns anos atrás, a atriz enfrentou o mesmo problema de sua personagem.

“Se eu não tivesse passado pela experiência da bulimia, iria me perguntar: ‘O que teria que acontecer para a Rayssa tomar a mesma atitude que a Pérola tomou?’. Como eu já passei por isso, simplesmente trago à tona minhas emoções e questões daquele tempo. Ser ator é uma busca pelas nossas vozes e máscaras internas e é uma busca muito mais profunda e amedrontadora que a maioria pensa. Essa é a dor e a delícia”, disse.

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Confira o bate-papo na íntegra:

Rayssa, como está sendo a repercussão da sua personagem, agora que o conflito dela está sendo mostrado para o público?

Estou feliz com a repercussão positiva que estamos, juntos, levantando sobre o tema e principalmente o questionamento que está sendo feito por cada pessoa sobre “será que alguém perto de mim passa por isso ou será que a necessidade que eu tenho de controlar meu corpo é uma doença?”. Começa sempre com a consciência. Eu, todo o elenco, direção, equipe e as meninas que fizeram participação pra contar essa história comigo – Clarissa Müller, Arianne Botelho, Renata Gasparim e Gabriela Freire – estamos usando e abusando das redes sociais para falar e repetir quantas vezes for preciso que não existe padrão a ser seguido, que nenhum corpo é referência para o seu e que o importante é ter saúde e cuidar de si internamente. Postei histórias de algumas meninas que já passaram por bulimia e/ou anorexia e que contam que essa fissuração não levou a nada. Nada além de mais sofrimento, frustração e angústia. Nada no mundo externo, seja corpo “perfeito”, dinheiro, fama, relacionamentos te levará a ser feliz de verdade, porque nunca vai ser o suficiente. Eu acredito que a verdadeira felicidade está dentro de você. Aceitação do corpo tem muito a ver com autoestima que engloba e acarreta força e empoderamento para vários outros aspectos na sua vida. Vamos nos aceitar! Tudo está ligado!

Teve alguma cena que foi particularmente difícil ou desafiadora de ser feita?

A partir de um determinado momento precisei encontrar um corpo mais frágil e debilitado por falta de alimento. Criei uma postura corcunda e mãos trêmulas nas cenas. É difícil esse equilíbrio entre estar fragilmente debilitada e não querer mostrar que se está, porque o ser humano é assim, ele luta. Luta pra não mostrar que está bêbado, luta pra não mostrar quando está com dor de barriga e assim por diante. O difícil é o equilíbrio entre estar completamente frágil e tirar força do útero para falar, se movimentar e tentar parecer normal. Mas toda direção, principalmente
a diretora Nathalia Warth, que tomou a frente na minha história, foi incrível e delicada ao tocar nesse assunto.

Você já viveu o mesmo drama de sua personagem. O que você trouxe da vida pessoal para a composição da Pérola?

Tudo. Tudo o que eu tinha e tenho dentro de mim! A forma como eu me via no espelho, minhas motivações para fazer o que eu fiz, o quanto eu queria que as pessoas me achassem bonita, entre outras coisas. Quanto mais eu aproximar o personagem de mim, mais verdadeiro é. Se eu não tivesse passado pela experiência da bulimia, iria me perguntar: “O que teria que acontecer para a Rayssa tomar a mesma atitude que a Pérola tomou?”. Como eu já passei por isso, simplesmente trago à tona minhas emoções e questões daquele tempo. Ser ator é uma busca pelas nossas vozes e máscaras internas e é uma busca muito mais profunda e amedrontadora que a maioria pensa. Essa é a dor e a delícia.

Você emagreceu de verdade? Se sim, como foi o processo?

Emagreci de verdade. E procurei uma ajuda profissional pra isso. Dra. Flávia Monteiro me acompanhou nesse processo e foi muito rico me consultar com uma nutricionista pela primeira vez. Sinto que precisava disso há um bom tempo. Eu nunca tinha feito dieta na vida. Sou daquelas que fala que vai fazer e nunca faz. Mas eu sou bem focada (ainda bem… risos) e tudo o que eu fiz foi para contar essa história com verdade e de alguma forma impactar a vida de algumas pessoas.

Apesar de estarmos vivendo a fase do empoderamento feminino, ainda existe uma ditadura da beleza que massacra as mulheres. Você sente isso? Como lida com isso no seu dia a dia?

Sim. Existe muita gente que ainda não entrou nessa órbita, mas esse é o momento da revolução e nós precisamos escolher o nosso lado. Começa sempre com a gente. Todo dia eu, Rayssa, preciso tirar essa mentalidade machista da minha cabeça e me ver como uma mulher livre, empoderada e dona das minhas escolhas. Não posso falar de ninguém quando ainda estou mudando minha mentalidade e aprendendo também a cada dia.

Você está fazendo o maior sucesso. Como está essa vida de pessoa pública, com fãs, mídia e uma tremenda responsabilidade de falar sobre transtornos alimentares?

Nada é por acaso e o que acontece na nossa vida tem que acontecer. Por algum motivo estou onde estou hoje. E acredito que eu mereça estar aqui. Hoje me vejo sendo exemplo, para muitas meninas principalmente. Já passei por problemas de transtornos alimentares e tenho, mesmo que pouca, propriedade pra falar sobre esse assunto. Então, como eu disse, nada é por acaso. Está caindo a ficha do tamanho da proporção que é a televisão na vida dos brasileiros, e como a mensagem que a gente quer passar chega rápido até os telespectador. Isso é legal, importante e desafiador ao mesmo tempo. Desafiador porque ainda sou muito jovem. A Rayssa de um ano atrás é muito diferente da Rayssa de agora e que será muito diferente da Rayssa daqui a um ano, com outra ideia e visão de mundo. Estou aprendendo e amadurecendo a cada dia. E de alguma forma estou numa posição de exemplo para outras pessoas, dando entrevistas e falando o que penso assim como outros atores eram e ainda são pra mim, mas é muito doido porque não sinto que sei mais do que ninguém. Essa é a loucura pra mim, porque continuo sendo eu mesma só que agora as pessoas querem tirar foto e saber da minha vida e da minha opinião. Eu adoro falar a minha opinião, para falar a verdade, e se deixar até falo muito (risos), mas o que eu quero dizer é que não sei se estou pronta pra sempre saber e responder tudo tão lindamente. Estou aprendendo.

Você assistia Malhação? Imaginava que um dia estaria aí no set da novela teen?

Sim! Já me passou pela cabeça sim. Até porque eu sempre quis ser atriz então ficava me imaginando nas novelas.

Quem vê suas redes sociais percebe que você está bastante entrosada com a galera do elenco. Fez grandes amigos?

Apesar de não ser difícil fazer amizade com eles, não tem como não acontecer. Hoje passo mais tempo com o elenco do que com meu namorado, com quem eu moro (risos). Nós somos uma família, estamos juntos no mesmo barco e torcemos uns pelos outros.

Estou sabendo que seu primeiro papel foi o Menino Jesus, numa peça de teatro do colégio da sua irmã (risos). Me conta um pouquinho de como você chegou até aqui e os desafios que enfrentou por ter escolhido uma profissão que nem sempre as pessoas acreditam que vai dar certo.

Cheguei até aqui com o apoio gigantesco da minha mãe. Que sempre me ouviu e acreditou muito em mim. Como você mesmo falou, é uma profissão incerta que não se sabe no que vai dar, mas nos meus momentos de dúvida, minha mãe e minha irmã acreditavam mais em mim do que eu mesma. Foi difícil lidar com a saudade que tinha da minha família e também foi difícil ir sozinha abrindo minhas próprias portas aqui no Rio de Janeiro sem conhecer ninguém. Não saía muito e decidi focar minha energia, tempo e disposição para artes. Fazia curso, peças, estudava teatro. Tudo para me aprimorar.

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