Olívia Araújo comenta fase milionária de Cesária em O Tempo Não Para: “Ela está rica para todos”

Publicado em 15/10/2018

Cesária (Olívia Araújo) está muito perto de se tornar a mais nova milionária da cidade de São Paulo, em O Tempo Não Para. É que a ex-escrava e ama de leite da família Sabino Machado vai ganhar uma fortuna com o leilão de suas joias de crioulas, recuperadas pelo biólogo Marino (Marcos Pasquim).

Consciente da importância desse dinheiro, Cesária irá ajudar todos os ex-escravos que, assim como ela, estão enfrentando dificuldades para se adaptar no agitado século XXI. Em um bate-papo com o Observatório da Televisão, Olívia adiantou os próximos passos de sua personagem, falou sobre representatividade e vida pessoal. A atriz também comentou se Cesária tem chances de encontrar um amor ao longo da trama de Mario Teixeira. Confira:

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Você já sabia que a personagem seria tão empoderada?

Não. O que tínhamos na sinopse é que ela era uma mulher de força, pela própria história como escravizada e da confecção das joias. Ela já tinha essa herança da ancestralidade e da religiosidade, mas foi criando também outras histórias que vamos descobrindo aos poucos, conforme a novela for andando.

Como será a trajetória da Cesária depois do leilão das joias?

Eu não sei como o Mario (autor) vai desenhar ela com esse dinheiro. O que tem é o que ela sempre disse, que quando ela conseguisse encontrar as joias não seria um bem só dela, mas um bem de todos. Tanto que ela oferece ajuda ao Dom Sabino, quando ele ainda não consegue resgatar o dinheiro dele. Ela diz que vai colocar todo mundo bem, bem vestido. A princípio o que temos é isso. Ela está dando condição para todo mundo. Ela não está rica para si, ela está rica para todos.

“Ela diz que vai colocar todo mundo bem”

Como será a reação da Cesária ao ver a Mariacarla (Regiane Alves) com as joias?

Eu não tenho isso escrito. Eu acho que a Cesária voaria nela fatalmente. Nada com violência porque ela já disse que é contra a violência. As joias da Cesária é mais do que o valor financeiro. No leilão, ela diz não para a Mariacarla porque a Mariacarla não presta. Ela quer que as joias fiquem com alguém digno. Ela (Mariacarla) não tem honra para usar aquelas joias que têm uma carga histórica. Então ela (Cesária) vai ficar com muita raiva e muito triste, como aconteceu com a Monalisa.

“As joias da Cesária é mais do que o valor financeiro”

Quando ela ver o colar no pescoço da Monalisa é mais do que ter perdido a joia que tem um valor. É saber que ela está sendo enganada por uma pessoa que não presta. E aquelas joias tem essa questão. Tanto que quando ela acha que o Marino morreu, ela fala: ‘essas joias estão amaldiçoadas com sangue de homem bom’. Elas já perderam o valor ali para ela. Ela poderia vender, ganhar esse um milhão, mas o fato daquilo ter sido a causa da morte de alguém, e que esse alguém era uma pessoa honrada, já deixou de valer.

Como foi gravar cenas com o Marcos Pasquim?

O personagem do Pasquim é um homem de muito caráter, hombridade. Eu acho um personagem lindo, inclusive nesses tempos. Um personagem tão ético a ponto de se dispor a ir em busca de uma coisa e abrir mão de qualquer recompensa por isso. Eu acho que ele e a Cesária têm uma relação de amizade. De alguma forma, que eu não saberia explicar agora, tem o reconhecimento desse caráter. Em mim, enquanto atriz, não passou ainda nenhum pensamento romântico com o personagem Marino (risos). Eles são de épocas tão diferentes.

“Eu acho que ele e a Cesária têm uma relação de amizade”

Não sei se isso também passou pela cabeça do autor. Acho também importante que a gente coloque as relações do homem e da mulher no campo da amizade, independente da relação amorosa. Nada contra as relações amorosas, pelo amor de Deus. Se ele (o autor) desenhar assim, vai ser ótimo, vai ser uma alegria. É um ator maravilhoso que eu gosto, é um amigo de cena superbacana. Mas é bom também pensar que a gente pode ter uma relação de amizade sem o menor interesse financeiro, afetivo.

Tem algum personagem que pode virar par romântico da Cesária?

É engraçado porque já me fizeram essa pergunta. Eu não vejo. É estranho dizer isso porque é uma coisa do autor. Se pergunta para mim, Olívia, se eu vejo a Cesária envolvida com algum parceiro afetivo dentro dos personagens que tem na novela. Não! Não sei se pode aparecer alguém. Não sei se, de repente, ela olha para o Marino, o Eliseu. Eu não vejo isso ainda.

Cesária e sua resistência

As cenas da Cesária estão mostrando vários momentos de preconceito racial ainda existentes na nossa sociedade. Como é ser a pessoa responsável por levar essa realidade todos os dias à casa de milhares de brasileiros?

Primeiro, eu não me sinto representante de nenhum movimento. Acho que o Mario escreve essas cenas de uma maneira muito acertada e feliz. É uma realidade e ele não coloca essa realidade colocando nenhum de nós num lugar de coitado. Em nenhuma das cenas que a Cesária fez, que tocou na questão racial, ela estava lá como coitada, que é um lugar que muitas vezes as pessoas imaginam que a gente está. Não! A gente sabe que o preconceito existe. Isso já existiu na minha vida e na de qualquer outro negro que você perguntar.

“Você pode não gostar da minha figura, mas o meu dinheiro você vai querer”

Existe uma coisa que é maior que o preconceito, chama-se dinheiro. O dinheiro é maior do que qualquer preconceito racial. Você pode não gostar da minha figura, mas o meu dinheiro você vai querer. E é isso que ela diz: ‘eu não vou comprar na tua loja. Vamos comprar em outra. Eu estou escolhendo que o meu dinheiro você não vai ter’. Eu acho isso espetacular, bem bonito.

A Cesária exerce um papel de mãezona com os outros ex-escravos. Isso ficou claro na cena em que ela pede para que todos fiquem juntos. Como você vê essa característica dela?

Tem muitas coisas que leio desse texto que me emocionam profundamente, essa é uma delas. Porque é uma consciência que eles tomam da liberdade todos juntos, não é o meu personagem que diz. Eles que eles querem buscar o caminho deles com as próprias pernas, meio sem saber como porque eles não têm formação, não sabem ler e escrever. E nesse momento ela diz: ‘vamos nos juntar, não vamos dispersar. Se dispersar realmente vamos ser manobra na mão de alguém’. Eu acho lindo! É uma das cenas que gosto mais.

Olívia Araújo na vida na vida real

Como está sendo a rotina de gravação? Você tem tempo para cuidar da vida pessoal?

A rotina de gravação é muito intensa. Então acaba tendo pouco tempo para a tua vida mesmo. Você faz isso nos intervalos. Quando dá eu corro para São Paulo para ver a minha família. Quando dá eu vou assistir alguma coisa. A gente vai levando como dá, mas está maravilhoso.

A Olívia Araújo é parecida com a Cesária?

Acho que em muita coisa eu me pareço. Eu não sei se eu pareço ou se eu gostaria que parecesse.

O que você iria fazer se tivesse uma grande fortuna como a Cesária?

Eu falei brincando que estava me sentindo rica, me sentindo maravilhosa por conta do dinheiro da Cesária (risos). Tem uma coisa interessante. Ela não vende todas as joias, ela vende uma parte. Quatro ou cinco peças. Nesse primeiro leilão ela já ganha muito dinheiro. Acho que é um milhão de dólares que ela consegue com essas quatro ou cinco primeiras peças que põe a venda.

“Eu investiria em alguma ação aí”

Eu nunca me imaginei com tanto dinheiro. Que horrível dizer isso porque dizem que é pensamento de pobre. Eu nem sei o que faria com tanto dinheiro. Eu investiria em alguma ação aí. Se eu ia pensar em alguma ação social? Fatalmente eu ia investir, ia querer participar. Não só colocar dinheiro, eu ia querer participar efetivamente de uma ação social. De vez em quando eu faço isso nas escolas públicas, converso com as crianças.

O seu trabalho está sendo muito bem elogiado. Você acredita que a Cesária chegou em um momento certo?

Eu sou uma pessoa muito afortunada. De fato, eu gosto de todos os meus personagens porque amo o que faço. Acho que a Cesária tem uma força grande e que comunica. Eu fico feliz de ela conseguir comunicar. Ter essa reação das pessoas eu acho que não é uma demora. Acho que cada coisa tem o seu tempo. Existe também um tempo quanto ao amadurecimento profissional, como atriz. Eu também sou afortunada nesse sentido.

“Eu fico feliz de ela conseguir comunicar”

Eu fui vivendo personagens que foram me possibilitando amadurecer como profissional, a ponto de poder levar uma personagem como a Cesária hoje, que é um personagem que exige bastante. Estamos falando de um personagem que é de época, que tem um comportamento de época, que tem uma linguagem que não é fácil para estudar e ser clara, ser audível e comunicar. Eu tive esse tempo de amadurecimento e isso é muito positivo.

*Entrevista feita pelo jornalista André Romano.

 

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