Duas versões

Mudanças no ritmo da história confundem quem compara Haja Coração com Sassaricando

Oportunidade de acompanhar as duas novelas ao mesmo tempo em 2020 faz o público perceber

Publicado em 30/11/2020

Em 8 de setembro, o Canal Viva estreou às 14h30 (e à 0h45) a reprise da novela Sassaricando, de Silvio de Abreu, exibida originalmente entre novembro de 1987 e junho de 1988. Em 12 de outubro foi a vez de Haja Coração, de Daniel Ortiz, voltar ao ar em “edição especial” na TV Globo, às 19h. Trata-se de uma reedição adaptada de Sassaricando.

Exibida pela primeira vez de maio a novembro de 2016, com bastante sucesso, Haja Coração excluiu personagens, modificou outros e fez acréscimo de novas figuras para adequar a história concebida nos anos 1980 aos anos 2010.

Na novela de Silvio, Aparício Varela (Paulo Autran) fica viúvo de Teodora (Jandira Martini), a esposa megera, no capítulo 12, ou seja, ao final da segunda semana de exibição. Em Haja Coração Daniel Ortiz optou por deixar a personagem viva por mais tempo antes do acidente aéreo que ela sofre.

Teodora (Grace Gianoukas) só está saindo de cena na “edição especial” agora, um mês e meio depois da estreia. Em 2016, de todo modo o acidente preparado para matar Fedora (Tatá Werneck), mas que acaba dando cabo de sua mãe, ocorreu antes – a novela tem sido reeditada. Ainda assim, depois de duas semanas de exibição.

Em Haja Coração, Teodora não morre. Ela passa um tempo desaparecida e depois retorna ao convívio da família, com direito a um Tarzan (Guilherme Chelucci) a tiracolo. Já em Sassaricando Teodora também ressurgiu, mas como fantasma para assombrar e atormentar Aparício em seus saçaricos.

Em defesa de Daniel Ortiz, digamos assim, Haja Coração matura mais o sentimento verdadeiro de Leozinho (Gabriel Godoy) por Fedora, nessa demora para que ocorra o atentado preparado para matá-la, mas que vitima sua mãe.

Mais gritante ainda é a diferença entre Sassaricando e Haja Coração no que diz respeito ao reencontro de Aparício (Autran/Alexandre Borges) com seu amor de juventude, Rebeca (Tônia Carrero/Malu Mader). Ela o apanha vestido de faxineiro, depois que ele suja seu terno na empresa.

Isso acontece no final do primeiro capítulo de Sassaricando, ao passo que em Haja Coração demora cerca de três semanas. É bem verdade que o autor teve que mexer nos acontecimentos para não levar adiante o mesmo entrecho do original, que é o de Aparício trocar de lugar com o amigo Ricardo (Carlos Zara) para enganar Rebeca.

Poder acompanhar as duas maneiras de contar essa história ao mesmo tempo, embora em canais diferentes, faz com que o público que conhece as duas veja melhor os pontos altos e baixos de cada uma delas.

Apesar das eventuais críticas, nunca é demais lembrar que Haja Coração nunca se propôs a ser um remake fiel, nem poderia. Com o tempo as novelas adquirem outras necessidades narrativas para adequação a um novo público, ou ao momento da própria forma de contar histórias no vídeo. Não foi a primeira, nem será a última vez em que isso acontece.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade